Refugiados em imagens: Contributos da Etnografia Visual (original) (raw)

Refugiados, fronteiras e imagem: contributos a partir da etnografia visual

Carapeto, M., 2018

A chamada “crise dos refugiados” desencadeou a corrida às fronteiras por parte dos meios de comunicação social. São estes que, através da sua própria perspetiva, divulgam através de imagens os acontecimentos, criando consequentemente uma representação dos “refugiados” através dessas mesmas imagens. A tendência representativa deste fenómeno assenta numa perspetiva monocular, que influencia a opinião coletiva, vincando a relação entre o “eu” e o “outro”. Uma primeira pessoa fotografa para uma segunda pessoa sobre uma terceira pessoa. Neste sentido, a perspetiva monocular chama à discussão o olhar panótico de Michel Foucault, pois a terceira pessoa, o “refugiado”, é vista sem ter a oportunidade de ver, sem ter a oportunidade de se “defender” da representação que lhe é atribuída. Como consequência, a constante reprodução de imagens torna o fenómeno universal aos olhos de quem as vê. Esta regularidade fomenta a banalização do fenómeno, evocando na opinião coletiva a aceitação e, posteriormente, a perpetuação da Bare-Life. O objetivo da presente investigação é o de, recorrendo à pesquisa etnográfica, identificar as principais características desta representação e aferir da sua coincidência com a autorrepresentação dos refugiados e de outros que estiveram em alguns dos principais palcos da chamada ‘crise de refugiados’.

Etnografia Com Imagens: Práticas De Restituição

Tessituras: Revista de Antropologia e Arqueologia, 2014

A restituicao e uma acao etica, pratica da pesquisa etnografica. A partir das experiencias de formacao cientifica em dois nucleos de pesquisa em antropologia visual na UFRGS, refletimos sobre as aprendizagens nos exercicios de etnografia com imagens e descrevemos formas de socializar as pesquisas com imagens.

Etnografia e Imaginação

Revista Pós Ciências Sociais

Entrevista sobre etnografia e imaginação com Itamar Vieira Junior, autor do livro Torto Arado.

Imagens migrantes e territorialidades arquivísticas: reflexões com base na produção fotográfica de Roberto Montandón e Hans Mann

Arquivo, Documento e Informação em Cenários Híbridos: anais do Simpósio Internacional de Arquivos, 2021

Toma-se como referência a produção fotográfica de dois fotógrafos europeus que atuaram na América do Sul, no século XX: Roberto Montandón e Hans Mann. O arquivo pessoal de Montandón (com destaque para a documentação fotográfica) é custodiado pelo Consejo de Monumentos Nacionales, no Chile; de sua relação profissional com a Universidad de Chile também há vestígios materiais, abrigados no Archivo Central Andrés Bello/UC. Já a produção fotográfica de Hans Mann, por força do vínculo profissional que manteve, na Argentina, com a Academia Nacional de Bellas Artes, está em grande medida integrada ao arquivo daquela instituição. A parte do arquivo pessoal de Mann que dizia respeito à documentação fotográfica foi adquirida pela Universidade do Texas. Considerando-se que, nas sociedades complexas, as atividades de um indivíduo costumam gerar registros documentais, é sabido que variadas relações profissionais ou pessoais costumam criar conexões com diferentes conjuntos arquivísticos. E, como ocorre com outros documentos que, produzidos com a mediação de equipamentos, são, desde a origem, tecnicamente reprodutíveis, é certo que cópias de materiais fotográficos podem existir em mais de um arquivo. Porém, cabe salientar um aspecto, relativamente aos materiais fotográficos (ainda mais quando produzidos por fotógrafos profissionais ou por profissionais que fotografam): o alto grau de autonomia da informação imagética em relação aos possíveis suportes. E, descolando-se dos suportes, as imagens se deslocam e conformam novas configurações documentais. Assim, se imagens produzidas de forma analógica por Hans Mann e Roberto Montandón geraram negativos e positivos que atualmente compõem arquivos institucionais, também ajudaram a produzir outros documentos, no momento mesmo em que esses profissionais atuavam ou, posteriormente, vindo a integrar publicações como jornais, revistas e livros. Atualmente, imagens fotográficas produzidas por Mann e por Montandón também podem ser encontradas de forma relativamente fácil na world wide web; entretanto, com pouca frequência estão dotadas de informações que permitam compreender suas condições de produção. Sem seus elementos identificadores e contextualizadores, as imagens migram livremente no ambiente virtual, sujeitas a toda sorte de apropriações; mas a ancoragem em seu contexto de produção e em sua trajetória de circulação permite devolver seu significado singular, convidando a um movimento pendular de desterritorialização e reterritorialização de seus sentidos. Consideradas as características dos cenários em que podemos lidar simultaneamente com o digital e o não digital, bem como algumas peculiaridades dos documentos fotográficos, são aqui pontuadas as relações entre: trajetória biográfica e inter-relação de arquivos; documento e informação; documentos de arquivos e contexto de produção documental.

Do Vídeo Etnográfico, Ou De Como Contar Histórias Com Imagens

Revista Sociais E Humanas, 2009

Resumo Na região da fronteira entre Argentina, Brasil e Uruguai a narração de histórias, bem como os sujeitos que as contam, são elementos-chave para a compreensão da sociedade em questão. Devido à multiplicidade de elementos que compõe os eventos narrativos locais, a demanda por uma forma de registro mais ampla que a da escrita logo se apresentou. Neste sentido, ao longo de minha pesquisa de campo foram realizados registros audiovisuais tanto dos contadores em situação de performance quanto de elementos referentes ao seu contexto. Consciente das especificidades da linguagem audiovisual, a questão de como "contar histórias com imagens", ou seja, de como remontar recortes da realidade de forma que produzam uma nova narrativa consistente, vem acompanhando meu trabalho desde o seu início. Baseada nesta experiência, procuro refletir neste artigo sobre as diversas etapas que compõem o processo de elaboração de um vídeo etnográfico.

Migração e imagem: perspectivas teóricas da retórica visual

Cadernos CERU

O tema da mobilidade humana tem sido uma discussão central nas Ciências Humanas. Ainda que a proliferação e aceleração de migrantes transnacionais e a questão do que eles representam para diferentes pessoas e sociedades tenha se tornado uma questão central nos últimos anos, o advento da “era das migrações” ainda se constitui um desafio para o campo das Ciências Humanas, uma vez que suscita novos problemas epistemológicos e a demanda por novas metodologias e formas de representação. A proposta aqui é discutir, a partir de elementos teóricos, como se dá a construção das retóricas visuais em torno da experiência migrante. A imagem aqui se apresenta como objeto de reflexão sobre a responsabilidade de desconstruir estereótipos, buscando novas e transformadoras formas de visibilidade que não reproduzam meramente o discurso visual do governo ou dos meios de comunicação de massa, mas “desafiar a ordem política estabelecida revelando o que propositadamente e deliberadamente escondido, articu...

Fotografia e Etnografia

Iluminuras, 2023

Trata-se aqui de entender as relações entre etnografia e fotografia, que tem sua origem mais ou menos na mesma época, meados do século XIX. Quais as semelhanças entre elas? Que contribuições a fotografia pode trazer à etnografia? Qual o papel da alteridade, tanto para a antropologia, quanto para a fotografia? Que tipo de conhecimento a fotografia pode propiciar? O que leva uma pessoa a se dedicar com paixão à arte de fotografar? Procuro desenvolver essas questões a partir dos resultados de pesquisa que conclui recentemente sobre as fotografias de Claudia Andujar, Lux Vidal e Maureen Bisilliat.