Ciência, Racismo e Branqueamento (original) (raw)
2018, África e Africanidades – Revista brasileira de estudos africanos e afro-latinos
Este artigo apresenta considerações sobre aspectos das relações étnico-raciais, considerando que, no Brasil, dados estatísticos recentes comprovam ainda o quão desigual são os percursos vivenciados por pessoas negras em comparação com as trajetórias de pessoas brancas nos meios políticos, econômicos e sociais. Nesse sentido, numa apontamos qual foi a relação do papel da ciência frente às presentes desigualdades raciais e como ela serviu para fabricação e propagação de ideais racistas no país. Exploramos de que modo a utilização da pauta científica foi massificada no imaginário social como um mecanismo neutro e independente de questões políticas à medida em que estabeleceu hierarquias sociais e/ou argumentos para manter privilégios do grupo racial branco. A partir disso, desenvolvemos como as proposições científicas de fins do século XIX até meados do século XX estavam atreladas à formação do projeto de identidade nacional brasileiro, em que as consequências disso ecoam até os dias de hoje, visto que toda construção de identidade nacional é violenta, pois pressupõe, como foi no Brasil, a eliminação forçada da diferença cultural, unificando uma identidade pautada nos valores hegemônicos europeus. Em seguida, é narrado o processo histórico do projeto de branqueamento no país, o qual desencadeou inúmeras mazelas na experiência de construção da identidade de pessoas negras. Tencionamos entender como, após a disseminação desse ideal, a população branca tornou-se privilegiada dentro de uma estrutura de poder construída pela elite branca brasileira, em que o grupo branco é tido como padrão de referência moral, intelectual, social e política, fortalecendo a autoestima e o autoconceito dessa população. Por fim, analisamos a luta pela afirmação da identidade negra por meio de medidas institucionais, tal como a lei 10.639/03 e seus impactos.