IRONIA E LITERATURA: INTERSEÇÕES (original) (raw)
Resumo: O estudo da ironia tem, ao longo dos séculos, segundo as mais variadas abordagens metodológicas, suscitado inúmeras controvérsias. Assim sendo, o estudo que ora se propõe possui o objetivo explícito de comparar os estudos sobre ironia de D. C. Muecke (Ironia e o irônico) e Linda Hutcheon (Teoria e política de ironia), destacando a revisão histórica do conceito, a ironia literária ou a ironia enquanto elemento comunicacional, a relevância filosófica do romantismo alemão e interpretação versus atribuição de sentido (o que incluirá diferentes sentidos de interpretação e de intencionalidade no que tange à ironia), dentre outras questões que se mostrarem relevantes. Partimos do pressuposto que a ironia possui diferentes significados e possibilidades de análise, de modo que as supracitadas orientações teóricas serão guiadas, em grande medida, pelo alcance que tal ou qual metodologia teórica pretende: se exclusivamente estética ou em sentido lato. Em outras palavras, pretendemos considerar como a apreensão do tropo/conceito pode ser trabalhada tanto em seu aspecto propriamente estético quanto em seu aspecto mais amplo (comunicacional), já que as leituras não precisam ser mutuamente excludentes, isto é, a ironia concebida enquanto "significado transliteral" (por D. C. Muecke) e a ironia enquanto "atribuição de sentido" (por Linda Hutcheon) recobrem a ironia de modos diferentes e, embora possuam diferentes perspectivas (em uma teoria sobressai o ponto de vista do ironista, enquanto em outra perspectiva é privilegiado o leitor), é exatamente esta mudança de foco nas abordagens o que nos conduzirá a um amplo debate e a uma compreensão mais completa do que chamamos de ironia (estaremos preocupados, especialmente, com a ironia no âmbito literário). Da comparação proposta, pretendemos um panorama dessas relevantes contribuições teóricas do século XX que, congregadas, parecem indicar a própria dinâmica da ironia.