Salazar, visto de fora. «Viver habitualmente ?» Salazar e os media franceses (original) (raw)

Salazar entrevistado por Indro Montanelli para o Corriere della Sera em 1960

academia.edu, 2019

ABSTRACT: In March 1960, Portuguese dictator Salazar granted an interview to Indro Montanelli, a well-known Italian journalist from the Corriere della Sera. Three different records remained from that interview: 1) Salazar's written answers to the journalist's written questions, which were published in Portugal; 2) Montanelli's account of his meeting with Salazar, published in five articles in the Corriere, and, finally, 3) the journalist's recollections about that interview in his 2001 memoir entitled 'Soltanto un giornalista'. This article reports the circumstances of Montanelli's meeting with Salazar, pointing out the differences between the three records of the interview and describing the portrait that the journalist drew about the dictator. RESUMO: O ditador português Salazar concedeu em março de 1960 uma entrevista a Indro Montanelli, um afamado jornalista italiano do Corriere della Sera. Dessa entrevista ficaram três diferentes registos: 1) as respostas escritas de Salazar às perguntas escritas do jornalista, que foram publicadas em Portugal; 2) o relato feito por Montanelli do seu encontro com Salazar, publicado em cinco artigos do Corriere e, por fim, 3) as recordações do jornalista acerca dessa entrevista no seu livro de memórias de 2001 intitulado 'Soltanto un giornalista'. O presente artigo historia as circunstâncias do encontro de Montanelli com Salazar, apontando as diferenças das três versões da entrevista e descrevendo o retrato que o jornalista traçou sobre o ditador.

Manuel Baiôa, A Censura como factor de formação e consolidação do Salazarismo: O caso do noticiário sobre política internacional na imprensa (1933-1935) in Fernando Martins (Coor.), A Formação e a Consolidação Política do Salazarismo e do Franquismo. Lisboa, Edições Colibri /CIDEHUS-UE, 2012

O quadro normativo pelo qual a “ censura” se regia era pouco objectivo, o que dava uma grande margem de manobra aos Serviços de Censura na sua actuação. Face à flexibilidade do quadro normativo e a alguma arbitrariedade e discricionariedade dos censores, a política governamental hierarquizada e centralizada por Oliveira Salazar era fundamental na orientação e homogeneização dos serviços de censura, que tinham uma estrutura exclusivamente militar. A política governamental para a censura tinha um grau de plasticidade e de adaptação à realidade rápida e eficaz, era pragmática, indo ao encontro de uma ideia central do regime “saber durar”. Os Serviços de Censura desempenharam um papel fundamental no controlo da opinião pública e na homogeneização do pensamento das massas, fornecendo ao mesmo tempo importantes informações ao governo sobre a situação real do país. O sistema censório português premiava os jornais próximos do regime que tinham menos notícias censuradas, menos atrasos de publicação e mais anúncios governamentais, permitindo-lhes ter uma situação económica mais próspera. Pelo contrário, os jornais adversos ao Salazarismo tinham mais notícias censuradas, mais atrasos na publicação, mais suspensões e multas, originando o fim de muitos deles, não por ordem directa dos serviços de censura, mas por asfixia económica. Os jornalistas viam-se a todo o momento confrontados não só com a censura prévia dos serviços governamentais, mas com a censura paralela das chefias dos jornais e até com a sua própria auto-censura, uma vez que tinham de colocar a todo o momento a seguinte questão: “será que eles deixam passar isto?” . Através da censura das notícias internacionais podemos constatar qual era a política do Estado Novo face aos problemas internacionais e face à política em geral: a) Defesa dos ideais autoritários que o aproximava dos regimes fascista e nazi, no entanto é claro o afastamento da tendência totalitária deste último; b)Atenção muito especial à evolução do regime espanhol, pela importância que poderia ter na evolução do Estado Novo; c) Critica cerrada ao regime soviético e à ideologia comunista; d) Afastamento claro dos ideais democráticos, socialistas e operários; e) Defesa da “política para uma elite”, já que seria vedada à opinião pública o conhecimento do evoluir dos acordos internacionais, das ameaças de guerra e das situações revolucionárias. Procurava-se a «paz social» e o adormecimento das tensões sociais. A política de informação em relação aos temas internacionais desempenhava, no período estudado, ainda um papel secundário. Estava dependente da política interna e mostrava por vezes dificuldade em definir objectivos concretos de uma política a seguir. A atenção da censura concentrava-se fundamentalmente nos problemas internos do país, tentando mostrar uma sociedade despolitizada, pacificada, despojada de contradições e de dificuldades, contribuindo assim para a manutenção do consenso social