Para além dos consensos, a possibilidade de uma vida plural em comum (original) (raw)

Rita Grassi debate a emergência do diálogo interconvicções e seu impacto político na possibilidade de garantir uma vivência plural e a transformação da sociedade Pode parecer estranho, mas atualmente lidamos melhor com as diferenças do que, talvez, em toda a história da humanidade. Isso porque, em geral, não toleramos a ideia de assassinar ou de violentar uma pessoa por ela ter convicções diferentes das nossas. Contudo, vivemos também uma experiência de encurtamento dos espaços, em que o convívio com a diferença é muito mais próximo do que supomos e gostaríamos. “E se, em outros tempos, as diferenças e divergências eram resolvidas na base da guerra, da violência, agora não é bem assim. Essas mudanças forçam os seres humanos a buscarem formas de relacionar-se com quem é diferente e que estejam mais alinhadas com os valores atuais das sociedades democráticas, ainda que haja exceções e que a democracia possa estar em xeque em diversos países”, pondera Rita Grassi, mestra em Ciências da Religião, em entrevista por e-mail à IHU On-Line. Diante desta miríade de visões sobre o mundo, o pluralismo religioso assume também um papel de consciência da diversidade que constitui a experiência humana na terra, mas também é reflexo justamente disso. “O diálogo interconvicções não por acaso nasce na Europa, mais especificamente na França e na Bélgica, há cerca de uma década, como um reconhecimento de que o proclamado ‘fim da religião’ não se concretizou e de que era preciso, sim, unir as vozes dissonantes, religiosas ou não, com o foco principal de garantir a laicidade do Estado e de que essas vozes fossem todas ouvidas no âmbito do Parlamento Europeu e dos governos nacionais”, descreve Rita Grassi. “Entendo que o diálogo de interconvicções traga como ponto principal a discussão de gerar um impacto social e político por meio de sua atuação. Não se trata de um diálogo que tenha como objetivo encontrar uma harmonia ou a paz entre as convicções”, ressalta a entrevistada. “O seu principal objetivo é, através destas vozes, dos encontros e confrontos entre elas, construir um espaço para reivindicar uma transformação da sociedade que atenda a essa pluralidade e, ao mesmo tempo, que garanta a laicidade dos estados europeus e da comunidade europeia”, complementa. Rita Macedo Grassi realizou mestrado em Ciências da Religião pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da PUC-Minas. Possui bacharelado em Relações Internacionais pela Universidade Estácio de Sá - RJ. Confira a entrevista.