Rotinas de um Tradutor ou O Excel É Meu Amigo (original) (raw)

2020, Teoria e prática da tradução: legendagem, HQ, textos técnicos e científicos

Nas participações que tive como ouvinte do Colóquio de Tradução e de outros eventos organizados pela Pós-Graduação em Estudos da Tradução (Pget), o que mais gostei de ouvir foram as experiências práticas de tradutores profissionais. Em especial sobre as rotinas dos tradutores: como organizam seu dia, que etapas adotam na sua produção, que regras idênticas seguem para projetos de tradução que não têm nada de idênticos. Enfim: quais são as fórmulas de trabalho que tomaram para si. Ouvir de colegas a respeito de como lidar com a realidade do ofício sempre contribuiu muito para eu construir as minhas fórmulas de trabalho. Comecei a traduzir profissionalmente – entenda-se: com um contrato de trabalho, sendo pago para traduzir – em 2008. Na época, encaixei o convite para traduzir uma história em quadrinhos entre outros dois empregos diários, os de jornalista e de professor universitário. Uma tradução chamou outra na mesma editora – e outra, e outra, e outra –, assim como levou a convites de outras editoras, até que a traduzir para o mercado editorial virou uma rotina diária e, aos poucos, me distanciou dos outros empregos. Este processo levou aproximadamente cinco anos. Neste período desenvolvi meus métodos de trabalho, organizei meu cronograma para dar conta de um volume de projetos crescente e também para que este volume tivesse coincidência com minha necessidade financeira. Uma passagem pela pós-graduação (lato sensu) me ajudou muito em bases teóricas para a prática de tradução, mas não em organização profissional. Neste quesito, tive que buscar dicas de alguns editores dispostos, conversas rápidas com tradutores ou raras entrevistas onde estes falavam do seu cotidiano. E também aprendi conforme as proverbiais abóboras foram acomodando-se, conhecendo mais do meu jeito de trabalhar e os meus limites particulares enquanto a carruagem seguia. Quando recebi o convite para falar durante o 3º Colóquio de Tradução da Pget, decidi fazer minha humilde contribuição aos que, tal como eu, interessam-se pelo tema das rotinas dos tradutores. Como interessado em qualquer arremedo de informação sobre o tema, já percebi que estas rotinas são absolutamente idiossincráticas e dependem das necessidades e disposições de cada tradutor; contudo, lá no fundo há um cerne mais ou menos comum a vários tradutores, um conjunto de práticas que talvez forme a base da lide diária. Minha intenção neste texto, infelizmente, não é tratar deste cerne – que mereceria um levantamento científico aprofundado –, mas sim comentar a minha experiência e as minhas idiossincrasias, conforme minhas necessidades e disposições, a fim de que um tradutor, candidato a tradutor ou pesquisador tire algumas ideias para sua prática ou sua pesquisa, e que seja mais um ponto de comparação com o que conhecerem das práticas de outros tradutores.