O SETOR SUCROENERGÉTICO EM MATO GROSSO DO SUL: conflitos territoriais e questão indígena (original) (raw)

2018, Anais 2018: XXIV Encontro Nacional de Geografia Agrária: UFGD 2018

Resumo O presente artigo busca analisar o avanço do setor sucroenergético no estado do Mato Grosso do Sul, a partir da década de 70, tendo como recorte espacial o que aqui se delimitou e definiu como região produtiva da cana de açúcar no Mato Grosso do Sul. Junto a isso, o artigo parte de um abordagem territorial para compreender este avanço a partir da relação com outros sujeitos e agentes presentes no território, principalmente os Guarani e Kaiowa, estes que sofrerem com o impacto de diversas ordens dado o avanço do setor em seu território tradicional, configurando uma situação conflituosa. Palavras-chave: Etanol; Guarani; Mato Grosso do Sul Introdução O presente artigo apresentará os principais aspectos da região produtiva de cana-de-açúcar no Mato Grosso do Sul, dando destaque a questão territorial dos povos indígenas 3. Para isso, subdividimos nossa narrativa em duas partes. Num primeiro momento, tratamos de contextualizar a história de produção da cana-de-açúcar no estado e definir nossa área de estudos, que estamos denominando de região produtiva. Na segunda parte do texto, discutimos o que consideramos ser a principal especificidade regional: a forte presença indígena no estado, em especial dos Guarani e Kaiowá 4 e o conflito territorial derivado de sua. 3 O presente texto é fruto de nossa participação em um projeto maior, coordenado por Júlia A. Bernardes e Ricardo Castillo, dedicado a regionalizar o setor sucroenergético em diversos estados do Brasil, destacando os principais aspectos de competitividade e vulnerabilidade econômica das regiões produtivas. Embora, sob nosso olhar, o que se refere a vulnerabilidade regional vai muito além dos aspectos puramente económicos. 4 Os Guarani são um grupo étnico que vive em regiões do Brasil, Argentina, Paraguai e Bolívia e que, no Brasil, aparece normalmente divido em três subgrupos, com diversas variações de grafia e subdivisões: os Guarani Mbya, Guarani Ñandeva e os Guarani Kaiowá. Neste trabalho serão apresentadas algumas considerações que envolvem os subgrupos Ñandeva e Kaiowá e será utilizada a nomenclatura Guarani e Kaiowá, respeitando a forma mais comum de autodenominação em nossa área de estudos. Segundo Benites, "embora apresentem muitos aspectos culturais e de organização social em comum, o primeiro, ou seja, Guarani-Kaiowá não se reconhece como sendo Guarani, mas aceita a denominação de Ava Kaiowá. Por sua vez, os Guarani-Nandeva se autodenominam como Ava Guarani." (2013, p.23).