Maríyarapáxjis: Silêncio, exogenia e tolerância nos processos de institucionalização das homossexualidades masculinas no sul de Moçambique (original) (raw)

2019

MIGUEL, Francisco. Maríyarapáxjis: Silêncio, exogenia e tolerância nos processos de institucionalização das homossexualidades masculinas no sul de Moçambique. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em Antropologia Social. Universidade de Brasília. 362p. “Maríyarapáxjis” é um neologismo (proveniente da expressão portuguesa “maria-rapaz”) encontrado na língua materna de meus interlocutores (a língua changana) para dar conta de sujeitos que a princípio demonstram certa efeminação, mas que nas últimas décadas passou também a nomear os homossexuais. Escolho-a como título desta tese porque além de ser uma das palavras mais ouvidas no sul do país para nomear esses sujeitos, ela parece ser o epítome de uma série de processos históricos de institucionalização das homossexualidades masculinas nas classes populares do sul de Moçambique. Para chegar até ela, o trabalho se inicia por uma investigação sobre registros históricos acerca do homoerotismo em Moçambique, seja nos arquivos coloniais seja a partir dos relatos de interlocutores mais velhos. Posteriormente, o trabalho se dirige para dois agentes fundamentais de institucionalização da homossexualidade no período pós-colonial, quais sejam, a mídia impressa e o movimento LGBT moçambicanos. Na terceira e última parte da tese, apresenta-se uma etnografia que busca compreender processos de institucionalização da homossexualidade não apenas contemporâneos à própria pesquisa, mas levados a cabo por outros agentes sociais, tais como a família, a religião e os próprios sujeitos que, em seus corpos, articulam sexualidades e gêneros distintos daqueles que a eles foram projetados quando a este mundo vieram – e por vezes distintos também das epistemes oferecidas pelo movimento LGBT. No percurso da tese, três categorias-chave serão recorrentes: “exogenia”, “silêncio” e “tolerância”. Assim, os dados aqui trazidos demonstram como tais categorias perpassam os processos de institucionalização da homossexualidade no sul de Moçambique, além de complexificar diversas outras questões que dizem respeito aos debates com a etnologia africana, com as teorias antropológicas de gênero e sexualidade e com as políticas nacionais e globais sobre os corpos.