Ensino e Desconstrução (original) (raw)
2014, Filosofias da Educação
Em toda a literatura escrita nos últimos anos concernente à desconstrução como crítica literária ou prática filosófica, foi dada pouca atenção para a relação entre desconstrução e ensino. Contudo, a desconstrução foi apresentada (corretamente) como algo que não é nem um sistema tradicionalmente constituído como "filosófico" , em direção da coerência e "fechamento", nem um método facilmente reproduzível de investigação. Ao relacionar o termo "ensino" à desconstrução, encaramos sob dois modos tal abordagem. O primeiro modo se refere aos leitores contemporâneos de Derrida que à luz de sua obra pensam questões sobre o ensino e as suas instituições2. E o outro modo se refere aos próprios textos de Derrida referentes à questão3. Nos dois modos, o ensino é pensado fora dos espaços comumente conferidos à ele, como instituições escolares, procedimentos didáticos, etc. E pensar o ensino fora da instituição escolar não implica que a instituição escolar não possa utilizar desta nova compreensão para aprimorar seu próprio ensino. Vemos então que não se trata de uma oposição aos espaços institucionais de ensino, mas sim de pensar de forma diferente questões importantes para tais instituições. E pensar diferente aqui, significa pensar determinadas questões fora do âmbito comum onde elas 3 1 1 É professor adjunto da Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, na área de filosofia da educação. É coordenador do Grupo de Pesquisa em Filosofia da Educação (FILED-UFRJ) e membro do Núcleo de Estudos em Ética e Desconstrução. 2 2 Aqui consideremos o termo "ensino" não somente no âmbito da tradição pedagógica onde as conexões se restringem a instituições de ensino e didática.Ao lado dos escritos mais conhecidos de Paul de Man, Gayatri Spivak e Bill Readings, outras contribuições à questão da desconstrução e ensino incluem Literary pedagogies after deconstruction: scenarios and perspectives in the teaching of English Literature, organizado por Caudery, e The ethics of writing: Derrida, deconstruction and pedagogy, organizado por Peter Trifonas. No entanto, talvez um dos autores mais conhecidos e mais produtivos-embora agora bastante criticado-de livros que abordam a questão sobre desconstrução e Pedagogia é Gregory L. Ulmer, autor do livro, Applied Gramatology: Post(e)-Pedagogy from Jacques Derrida to Joseph Beuys. Ulmer aborda a questão da relação de Derrida com a pedagogia, mais explicitamente mediante uma discussão de seu envolvimento com o Greph, a partir de meados dos anos 1970, e se concentra no ensaio de Derrida "The Age of Hegel" e outras observações relevantes, dispersas em textos como: Dissemination e The post card. O interesse principal de Ulmer é explorar as possibilidades de uma pedagogia gramatológica ao longo dos escritos derridianos. Uma característica interessante de seu livro, no entanto, é o reconhecimento de uma "cena de ensino" (uma expressão mostrada com alguma ênfase por Bill Readings em The University in ruins), em termos das possibilidades de certos tipos de teatralização. Tal abordagem talvez seja contrastada, interessantemente, no trabalho de Samuel Weber Institution and interpretation. Nesse livro, na introdução, Weber começa a explorar as ligações entre a pergunta da instituição e os efeitos de teatro. Ver em To come walking: reinterpreting the institution and the work of Samuel Weber e também Samuel Weber: acts of reading, ambos de Simon Wortham. 3 As traduções de trechos das edições em inglês das obras de Derrida e outros autores foram realizadas informalmente pelo autor.Preferimos neste artigo trabalhar com as traduções inglesas das obras de Derrida.