ENSINO DE HISTÓRIA EM TEMPOS REACIONÁRIOS: DAS "ILUSÕES" DAS PRESCRIÇÕES À REALIDADE DAS PROSCRIÇÕES (original) (raw)

2019, Texto publicado no livro: Desafios e resistências no Ensino de História

É interessante notar quanto interesse, quanta vigilância e quantas intervenções o ensino de história suscita nos mais altos níveis. A história é certamente a única disciplina escolar que recebe intervenções diretas dos altos dirigentes e a consideração ativa dos parlamentos. Isso mostra quão importante é ela para o poder. Christian Laville. A citação acima é por demais conhecida entre aqueles que pesquisam o ensino de História. Ela integra um artigo, escrito pelo professor e pesquisador Christian Laville, da Universidade de Quebec, no Canadá, intitulado "A guerra das narrativas: debates e ilusões em torno do ensino de História" (1999). Escrito no final do século passado, o artigo destacava as intensas disputas pela hegemonia no campo das narrativas históricas que mobilizam agentes ligados às instituições de poder, especialmente políticos e dirigentes. Mas, o que era notável no texto era seu ceticismo quanto à premissa dessas "guerras" sobre o poder atribuído ao ensino de História, de que a História escolar pode manipular a consciência de crianças e jovens. Para Laville, tal perspectiva estava fundada, basicamente, numa "ilusão". Isso porque, na prática social, outras agências já concorriam fortemente com as narrativas difundidas na escola. Agências tais como a família, o meio circundante, as próprias circunstâncias históricas e os meios de comunicação assumiam cada vez mais um papel relevante e influente na formação das crianças e jovens, relativizando o papel da história escolar. Disso resultaria o que ele definiu como sendo um "paradoxo": o recrudescimento das disputas sobre as narrativas históricas escolares sobre o passado a despeito das evidências empíricas de sua pouca eficácia ou relativa perda de relevância na formação das novas gerações.