Movimento de mulheres negras: trajetória política, práticas mobilizatórias e articulações com o Estado brasileiro (original) (raw)

Pensando a formação do movimento de mulheres negras no Brasil através do conceito de Estado Ampliado

13º Mundo de Mulheres & Fazendo Gênero 11, 2017

Resumo: O presente trabalho apresenta considerações preliminares relativas à minha pesquisa de doutorado, cujo tema é a formação do movimento de mulheres negras no Brasil (1978-2000). Parto da premissa de que as mulheres negras fundadoras das primeiras organizações específicas voltadas para suas demandas não se viam plenamente representadas nos movimentos sociais de esquerda, feminista ou negro. O processo histórico que levou essas mulheres a se diferenciarem dos sujeitos componentes de tais movimentos e a se reconhecerem enquanto grupo político, tendo concluído pela necessidade de criação de organizações específicas, é o objeto de investigação desta pesquisa. A interação entre raça, gênero e classe social está aqui presente tanto em termos teóricos como historicamente no processo de formação das organizações de mulheres negras. O conceito de interseccionalidade, proposto por Kimberlé Crenshaw, converte-se assim em questão e hipótese de pesquisa. Há ainda uma preocupação em compreender o eixo da classe social através de uma concepção marxista. Este trabalho aborda a experiência de militantes negras em relação a diversos movimentos sociais que ascenderam no cenário brasileiro a partir da década de 70, e o surgimento e as formas de atuação de organizações de mulheres negras. Tal reflexão tem como fio condutor o conceito gramsciano de Estado Ampliado, que permite pensar a relação das organizações de mulheres negras com o Estado restrito e com outras organizações da sociedade civil.

Movimento de Mulheres Negras no Brasil

Revista de Ciências do Estado

Busca em caráter exploratório, reconstruir o legado de lutas do feminismo negro no Brasil, principalmente à partir da década de 1970, junto à organizações diversas. O movimento de mulheres negras atuou e atua desafiando e questionando o feminismo hegemônico, visibilizando demandas raciais, referente a sexualidade e classe. Mulheres negras feminilizaram o movimento negro e enegreceram o movimento feminista, assim presente retoma referencial teórico, acionando às lutas históricas de mulheres negras brasileiras.

DO ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL À MARCHA DAS MULHERES NEGRAS 2015: UMA ANÁLISE DAS FEMINISTAS NEGRAS BRASILEIRAS SOBRE POLÍTICAS PÚBLICAS

Esta tese investiga o ativismo e o protagonismo social e político das feministas negras brasileiras estabelecendo como ponte para a análise, o Estatuto da Igualdade Racial e a organização da Marcha das Mulheres Negras 2015 contra o Racismo, a Violência e Pelo Bem Viver. Esta pesquisa é uma fração do meu ativismo acadêmico e sociopolítico, nos estudos de gênero, relações raciais e educação. Tem como meta o registro histórico de exemplos de autodeterminação e colaborar na ampliação de referenciais teóricos sobre mulheres negras e sobre os feminismos negros, para maior visibilidade desta temática e assuntos relacionados na Academia. Na introdução, tecerei considerações sobre as motivações para a pesquisa. No primeiro capítulo, o método da pesquisa ativista feminista negra será desenvolvido estabelecendo a dialética entre a pesquisadora ativista e as colaboradoras da pesquisa, tendo como recurso a metodologia a história oral para o tratamento das informações, a análise documental, a pesquisa ativista, a análise do discurso e do discurso político para o tratamento dos dados. No segundo capítulo, as colaboradoras da pesquisa se apresentarão, através de fragmentos de suas vidas, com o foco na inserção social e política nas regiões de atuação. Apresentarei reflexões sobre as dimensões do racismo na vida das mulheres negras, os feminismos negros e a reação aos sistemas de opressão, através das vozes das colaboradoras da pesquisa. No terceiro capítulo que disserto sobre as razões para marchar. No quarto capitulo, serão refletidas as Políticas Públicas, a partir dos indicadores sociais e da perspectiva das colaboradoras da pesquisa. No quinto capítulo o Estatuto da Igualdade Racial será analisado, assim como sua trajetória na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, registrando as críticas e comemorações ao processo e, também, as colaboradoras da pesquisa apresentarão suas percepções. No sexto capítulo, a Marcha das Mulheres Negras 2015, e o diálogo com as colaboradoras da pesquisa, observando o processo de engajamento, o relato das atividades organizadas de formação política e de mobilização das mulheres negras nas diferentes regiões do país, além de refletir sobre as relações estabelecidas com as feministas brancas, os movimentos negros, os partidos políticos e os sindicatos, assim como o papel da mídia. Ainda neste capítulo, os feminismos negros no Pós-Marcha, as ações em curso e as perspectivas futuras serão debatidas. Na conclusão, vou destacar a baixa apropriação do Estatuto da Igualdade Racial pela comunidade negra e ressaltar sua relevância na reafirmação de direitos da população negra. E, ainda, a importância histórica da Marcha das Mulheres Negras 2015, que auxiliou a rearticulação de entidades das mulheres negras e para o surgimento de outras; mobilizou mulheres negras das diferentes regiões; potencializou a juventude feminina negra e os feminismos negros, que têm assumido novas nuances. Por fim, a importância da ação ativista das feministas negras colaboradoras da pesquisa, que assumiram o protagonismo político na luta por transformações sociais de equidade de raça, de gênero, de classe, de orientação sexual e religiosa no Brasil.

Limites históricos e desafios sobre a participação política das mulheres negras no Brasil

Artigo, 2022

Resumo Neste presente artigo será abordada a complexa relação entre a presença de mulheres negras na política e alguns dos percalços enfrentados por elas. Farei uma análise histórico/teórica de raça e gênero, para expor a raiz do problema que faz com que essas mulheres estejam em um número menor se comparado a sua proporção em território brasileiro. Por fim demonstrarei em dados estatísticos as diferentes representações em candidaturas e eleitos nas eleições de 2014 e 2018.

O movimento feminista negro em Belo Horizonte e seus repertórios de ação coletiva

Espacios Públicos

O artigo tem por objetivo abordar o movimento feminista negro na cidade de Belo Horizonte, seus repertórios de ação coletiva e de interação com o governo local. Apoia-se em abordagens teóricas dos estudos de movimentos sociais, mobilizando o conceito de repertório de ação coletiva, bem como as interseções entre os movimentos feminista e negro e a pauta da interseccionalidade. A metodologia de cunho qualitativo recorre a levantamentos documentais e entrevistas em profundidade com ativistas do movimento feminista negro. Mapearam-se os seguintes repertórios de ação coletiva do movimento feminista negro de Belo Horizonte e de interação com o governo local: a) protestos e ação direta, b) participação institucionalizada; c) ocupação de cargos na burocracia por ativistas e d) ocupação política, por meio dos quais o movimento feminista negro tem incidido nas políticas municipais, na perspectiva interseccional.

Por dentro do movimento: práticas políticas de mulheres negras do Morro da Polícia-Porto Alegre

Revista Pós Ciências Sociais, 2020

Este artigo insere-se em um conjunto de estudos sobre o ativismo de mulheres das camadas populares. Fazendo um diálogo com a antropologia da política e o feminismo negro, principalmente em uma perspectiva interseccional, a pesquisa tem como objetivo analisar como um grupo de mulheres negras concebe a política de suas práticas em uma associação comunitária localizada no Morro da Polícia, na periferia de Porto Alegre. A partir de uma abordagem etnográfica, foram acompanhadas as práticas cotidianas das integrantes da Associação e, em especial, de Rosa, durante os meses de julho a setembro de 2017. Ao acompanhar o dia a dia da Associação, ficaram evidentes diferentes níveis de atuação e de percepção da política nesse espaço, articuladas com elementos que se interseccionam no ativismo dessas mulheres.

Movimentos sociais, educação e emancipação: o caso do movimento negro brasileiro

Revista Café com Sociologia , 2019

A obra “O movimento negro educador: saberes construídos nas lutas por emancipação”, de autoria de Nilma Lino Gomes, pesquisadora e professora da Universidade Federal de Minas Gerais e ex-ministra das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos (2015-2016) faz uma reflexão sobre como o movimento negro brasileiro é responsável por sistematizar e produzir saberes, através de suas lutas por emancipação. Estes saberes reeducam a população brasileira, sobretudo no que diz respeito às relações étnico-raciais, e sustentam a demanda e implementação de uma série de políticas públicas que visam a promoção da igualdade étnico-racial. O livro revela uma forma diferenciada de apreender os movimentos sociais como educadores que forjam potencialidades emancipatórias em uma constante tensão com formas de regulação social.