LE GOFF, J. “Uma Europa abortada: o mundo carolíngio, séculos VIII-X,” in As raízes medievais da Europa. (original) (raw)

O Reino dos Mortos na Idade Média Peninsular, sob a direcção de José Mattoso. Lisboa: Edições João Sá da Costa, 1996. 239 p

2020

Também lá não faltavam as carnes de ovelha, de cabra e de boi, e os cinegéticos coelho, veado e javali. Até o porco, apesar da interdição do Corão, já preludiava na madina islâmica a larga utilização que o povo alentejano dele viria a fazer, ao longo da sua história. Para variar e enriquecer a ementa de Mértola, as aves, os peixes e os moluscos não deixavam de fazer a sua aparição gastronómica. Quanto aos gostos mais «refinados», espécies marginais, como os ouriços, as rãs, as cobras, os lagartos e os texugos apareciam também para matar a fome e aumentar as variedades. Reconheço, com Santiago Macias, que é ainda muito parcelar o conhecimento que nos é facultado pelo estudo de oito das dez habitações conhecidas do bairro da alcáçova de Mértola, com as respectivas ruas, adarves e sistemas de saneamento. Mas esta obra, graças ã capacidade de interpretação do seu autor, constitui um grande passo para um melhor conhecimento desta e, por analogia, de outras cidades islâmicas. Fazemos votos que o dinamismo das escavações que estão a ser levadas a cabo em Mértola continue e que outros investigadores, com e como Santiago Macias, apresentem novos dados e novas interpretações do trabalho que lá realizam.

recensão a YUN CASALILLA, Bartolomé (2021) Os Impérios Ibéricos e a globalização da Europa (séculos XV a XVII). Lisboa: Temas e Debates, Círculo de Leitores, 472 pp., ISBN: 9789896446406

Revista de história da sociedade e da cultura, 2022

Este trabalho apresenta-se como um estudo comparativo em torno dos dois impérios ibéricos, Portugal e Espanha numa cronologia compreendida entre os séculos XV a XVII, durante a qual, a partir de 1580, Portugal e Espanha vão ter o mesmo rei, tornando-se um dos maiores impérios compósitos da história. O estudo é realizado em comparação com a realidade europeia e extraeuropeia, inserindo os dois impérios numa macro comparação com o intuito de responder à questão fundamental desta investigação-eram Portugal e Espanha economias semiperiféricas? Este livro tem por base um outro do mesmo autor: Iberian World Empires and the Globalizatoion of Europe, 1415-1668, publicado em 2019, ao qual o historiador espanhol acrescenta a história do império português ao mosaico ibérico (p. 9) anteriormente estudado. Os oito capítulos que compõem a obra estão repartidos em três partes: "Os povos ibéricos e a globalização", "Monarquias compósitas e instituições" e "Impérios compósitos e globalização". A primeira parte é dividida por três capítulos onde o historiador procurou fazer a arqueologia do expansionismo ibérico sem recorrer à noção de que tivesse ocorrido um excecionalismo histórico. No primeiro capítulo aponta a expansão que as elites europeias procuravam e de que formas afetavam as redes sociais, procurando ainda compreender como os processos transculturais que existiram na Península Ibérica com a convivência de muçulmanos, judeus e cristãos permitiram um desenvolvimento nos conhecimentos que proporcionaram condições para a empreitada das descobertas. No segundo capítulo, Bartolomé Yun Casalilla aborda a questão do impacto da destruição dos ecossistemas, que levaram a uma quebra demográfica bastante significativa dos povos conquistados no continente americano. Neste capítulo, o autor aborda ainda, de forma breve, o papel dos portugueses na Ásia, região com muitos polos de globalização económica.

"O mundo doméstico europeu no Antigo Regime: uma visada a partir da História Cultural e da História das Mulheres". História, histórias, Brasília, PPGH-UnB, vol. 7, n. 14, jul./ dez. 2019, p. 139-144.

História, histórias, 2019

Resenha do livro/ Book review: RUBIO, Gloria Franco. El ámbito doméstico en el Antiguo Régimen: de puertas adentro. Madrid: Editorial Síntesis, 2018, 263 p.

(Re)Descobrir o mundo em livros, revistas e jornais. Hamburgo e as notícias de além-mar (1650–1700)

In: Curvelo, Alexandra e Simões, Madalena (Ed.), Portugal und das Heilige Reich (16.- 18 Jahrhundert), Münster, Aschendorff Verlag, 2011, 169-178. (= Studien zur Geschichte und Kultur der iberischen und iberoamerikanischen Länder, Bd. 15 ).

Re)Descobrir o mundo em livros, revistas e jornais. Hamburgo e as notícias de além-mar (1650-1700) Apesar de distante, o Sacro Império Romano-Germânico revelou desde cedo grande curiosidade pelas viagens marítimas portuguesas e pelos descritos «mundos novos do mundo». Assim, e logo a seguir a Itália, foi a Alemanha o país da Europa Central que mais se interessou pela empresa ultramarina portuguesa, como já tivemos ocasião de demonstrar. 1 Com efeito, a Alemanha seguiu atentamente o avanço para o Atlântico Sul, como, já em 1493, se pode comprovar, com a edição da famosa crónica-mundi de Hartmann Schedel. 2 No capítulo que dedica a Portugal não só se faz já referência à riqueza da ilha da Madeira, nomeadamente ao lucrativo comércio do açúcar, como ainda se dá grande relevo às viagens de Diogo Cão. Hartmann Schedel pôde, na verdade, contar com o saber de dois compatriotas, Martin Behaim 3 e Hieronymus Münzer 4 , detentores de informações sobre Portugal e a sua empresa marítima. 5 Oriundos de Nuremberga 6 , ambos tinham visitado o reino 1 Veja-se Marília dos Santos LOPES, Portugal. Uma fonte de novos dados. A recepção dos conhecimentos portugueses sobre África nos discursos alemães dos séculos XVI e

“Escarnece-se dos europeus por comerem grãos de leguminosas e verduras, considerados por eles como comida de cavalo”: alimentação e teoria dos quatro estágios na History of Brazil (1810-1819), de Robert Southey

RESUMO Ao menos desde as teorias hipocráticas, a alimentação teve uma posição de destaque para o entendimento de algumas das transformações que ocorriam nas pessoas. Em finais do século XVIII e início do XIX, a justificativa da tradição greco-romana para o consumo ou não de certos alimentos havia perdido parte de sua força argumentativa, abrindo caminho para outras formas de entender os alimentos. A importância e o papel da alimentação foram reformulados para servir a outros contextos discursivos e a novas demandas. Nesse sentido, os hábitos alimentares, quando aliados à teoria dos estágios da sociedade, que considerava o modo de subsistência como fator central para explicar a diversidade das culturas e dos povos, já não diziam tanto sobre a mutabilidade do corpo, mas sim sobre o grau de civilização das sociedades. Este artigo evidencia o destaque dado à alimentação dentro da articulação da teoria dos quatro estágios feita por Robert Southey em sua History of Brazil (1810-1819) enquanto argumento discursivo sobre a civilização do indígena e a sobrevivência e/ou degeneração dos estancieiros platenses e gaúchos ABSTRACT At least since the Hippocratic theories, a diet had a prominent position for the understanding of some of the people’s transformations occurring in individuals. In the late eighteenth and early nineteenth centuries, the justification of the Greco-Roman tradition about the consumption of certain foods had lost some of its argumentative force, and other understandings of food arose. The importance and role of food have been reformulated to serve other discursive contexts and new demands. In this sense, once allied to the theory of the stages of society, which considered the subsistence mode a central factor to explain the diversity of cultures and peoples, eating habits did not anymore explain just the mutability of the body, but rather the degree of civilization of societies. This article highlights the emphasis given to food within the articulation of the theory of the four stages made by Robert Southey in his History of Brazil (1810-1819) as a discursive argument about the civilization of Natives and the survival and/or degeneration of gauchos and platenses.