Etnografias das instituições, práticas de poder e dinâmicas estatais (original) (raw)

Antropologia das instituições e das práticas de poder etnografia, política e bases sociais do conhecimento

55.1, 2023

Embora a antropologia possua uma longa tradição de estudos das formas de organização social, foi apenas a partir dos anos 1920 e do início dos anos 1930 que uma antropologia das instituições começou a tomar forma. Com a intensificação da globalização e a expansão do capitalismo industrial e pós-industrial, a partir das últimas duas décadas do século XX a antropologia voltou-se cada vez mais para o entendimento das sociedades complexas e de suas instituições. Os problemas tradicionais derivados da inserção da/o antropóloga/o no seu ambiente de estudo e análise tornam-se mais agudos quando nos voltamos para as instituições, uma vez que elas, numa definição operacional inicial: têm o objetivo do aumento da produtividade (de mercado e/ou política); têm regras formais internas, estruturadas a partir de uma hierarquia funcional; separam as relações organizacionais das demais; e disciplinam os “de dentro”, erigindo barreiras ao acesso dos “de fora”.

Apresentação: Antropologia das instituições e das práticas de poder: etnografia, política e bases sociais do conhecimento

Antropolítica - Revista Contemporânea de Antropologia

Embora a antropologia possua uma longa tradição de estudos das formas de organização social, foi apenas a partir dos anos 1920 e do início dos anos 1930 que uma antropologia das instituições começou a tomar forma. Com a intensificação da globalização e a expansão do capitalismo industrial e pós-industrial, a partir das últimas duas décadas do século XX a antropologia voltou-se cada vez mais para o entendimento das sociedades complexas e de suas instituições. Os problemas tradicionais derivados da inserção da/o antropóloga/o no seu ambiente de estudo e análise tornam-se mais agudos quando nos voltamos para as instituições, uma vez que elas, numa definição operacional inicial: têm o objetivo do aumento da produtividade (de mercado e/ou política); têm regras formais internas, estruturadas a partir de uma hierarquia funcional; separam as relações organizacionais das demais; e disciplinam os “de dentro”, erigindo barreiras ao acesso dos “de fora”.O dossiê focaliza algumas das principais ...

Etnografia do Estado: algumas questões metodológicas e éticas

CAMPOS - Revista de Antropologia Social, 2005

O estudo etnográfico de processos e instituições que integram o universo do Estado suscita problemas metodológicos e éticos específicos. Com base em exemplos etnográficos extraídos de pesquisa realizada junto a instituições estatais de defesa do consumidor, este artigo retoma o clássico problema da identificação dos informantes, que assume novas dimensões quando os sujeitos da pesquisa são autoridades governamentais, políticos conhecidos e funcionários públicos graduados. O texto sugere que a dificuldade de resguardar adequadamente a identidade dos informantes nesse contexto tem implicações que não se restringem ao compromisso entre o pesquisador e os sujeitos de sua pesquisa, mas constituem desafios para o próprio desenvolvimento empírico e teórico de uma antropologia do Estado. The ethnographic study of processes and institutions that are part of the state’s sphere raise specific methodological and ethical problems. Focusing on data proceeding from a research concerned with consum...

Elites e “instituições” como objeto de estudo numa dinâmica periférica

Um caminho para uma sociologia política da produção e legitimação de saberes sobre o Estado, o Direito ou o que se pode denominar genericamente como “instituições” em estado objetivado, passa necessariamente pela dificuldade de apreensão das condicionantes sociais e da relação dessas condicionantes com contextos práticos de ação dos agentes que produzem as “instituições”. Este ponto de partida analítico contrapõe-se ao que reivindica o estudo legítimo sobre “instituições” sintetizado no conjunto de proposições do “neo-institucionalismo”, em suas diferentes versões, que situa como central o condicionamento das estruturas normativas e convenções sobre o comportamento e as estratégias dos agentes sociais e políticos.

Normas, instituições e poder a partir de perspectivas das margens

Normas, instituições e poder a partir de perspectivas das margens, 2021

FELONIUK, Wagner; MARCHIORI NETO, D. L. (Org.) ; MOREIRA, F. K. (Org.) ; COMIRAN, F. (Org.) . Normas, instituições e poder a partir de perspectivas das margens. 1. ed. Rio Grande: Editora da FURG, 2021. v. 1. 233p .

Cultura e Organizações: Para Além Da Lacuna Epistemológica

Revista Alcance, 2016

As duas correntes epistemológicas principais do estudo sobre cultura, no que tange às organizações (positivismo e interpretativismo), ilustram grande dificuldade para ultrapassagem de suas dimensões principais de exame. Sustenta-se que essa dificuldade decorre, em certa medida, da não realização de trabalhos multiparadigmáticos, mesmo diante da tentativa de conexão das correntes de análises da integração, da fragmentação e da diferenciação. Assim, esse ensaio teórico problematiza a manutenção dessas barreiras entre correntes epistêmicas e níveis organizacionais. Tem como objetivo propor formas de conexão entre as linhas de pesquisa sobre cultura e organizações, a partir do local intermediário que o filósofo Michel Foucault utilizou para desenvolver sua analítica. Como resultado, foram realizadas três proposições. A partir do período arqueológico do autor, uma alternativa foi apresentada: a busca pelos modos de ser da ordem que fundamenta a cultura. Da genealogia emergem as estratégi...

Fazer Política: uma Etnografia da Assembleia da República

ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, 2021

Partindo de uma discussão sobre o carácter polissémico do conceito e ideia de política, esta investigação etnográfica tem por objetivo compreender que entendimento particular da política está subjacente à vida parlamentar e de que forma este é construído, partilhado e reproduzido. Procurando ir além das autorepresentações institucionais e da sua mediatização, realizou-se uma etnografia da Assembleia da República centrada nas interações entre deputados, assessores, funcionários, jornalistas e cidadãos. Sugere- se que no Parlamento se constrói uma ideia da política enquanto prática especializada e estruturalmente articulada com processos de diferenciação e desigualdade social e de poder. Essa ideia é estruturada na relativa circunscrição social e cultural do corpo de representantes, nos rituais públicos que os distinguem e nas relações de bastidores que geram inter-reconhecimento e empatia. Salienta-se ainda que a ação dos deputados depende da posição relacional que ocupam numa rede de hierarquias formais e informais, ao mesmo tempo que incorpora formas de adaptação permanente que proporcionam reconhecimento simbólico ao seu estatuto social. Destaca-se o papel dos funcionários na transmissão da memória, e dos jornalistas na reprodução da política enquanto esfera autónoma da realidade. Conclui-se que no Parlamento se configura uma ideia de política assente na produção de uma distinção entre quem faz política e quem dela é objeto; entre quem está dentro e quem está fora; entre atores e espectadores da produção do fenómeno político. Em suma, a etnografia revela a institucionalização da política enquanto forma de distinção social, por oposição ao seu entendimento enquanto dimensão potencial das relações humanas.