Após junho de 2013: coletivos estético-políticos na guerrilha do sensível (original) (raw)

Em junho de 2013, uma série de manifestações tomaram as ruas do Brasil. A princípio como movimentos apartidários, sem hierarquia, organizados nas redes sociais, combatendo o aumento dos preços das tarifas de ônibus. Tal cenário já vinha sendo anunciado com a greve dos professores da rede pública de diversos estados em 2011 e com a greve dos bombeiros em 2012. Mas as manifestações de 2013, também conhecidas como "jornadas de junho", conduzidas principalmente por jovens estudantes, tomaram proporções gigantescas, sendo consideradas um dos maiores movimentos políticos da história do país. No contexto das manifestações, surgiram coletivos estético-políticos que, diferentemente dos coletivos brasileiros que se proliferaram na virada do século XXI, contaram com as redes sociais como elementos essenciais para sua articulação, servindo como instrumento de organização e troca -assim como também foram para organizadores dos protestos. Outra questão que marca a diferença entre os coletivos dos anos 2000 e os mais recentes é que, enquanto os primeiros, em sua maioria, surgiram movidos pela insatisfação com o sistema de arte, propondo meios de autogestão e modos alternativos de exposição, o que motiva os grupos mais recentes é a vontade de articulação política, seu direcionamento crítico a alvos bem-definidos, e o espírito de tomada dos espaços públicos pelo povo que se consolidou com as manifestações de 2013. "Ocupação", não por acaso, é uma das palavras mais repetidas pelos manifestantes, que de lá para cá vêm ocupando as ruas, edifícios institucionais, escolas e reitorias de universidades. Coletivos que misturam arte e ativismo não são novidade. São memoráveis as ações do grupo 3Nós3, surgido em São Paulo no final da década de 1970, e de alguns coletivos dos anos 2000, como o Frente 3 de Fevereiro -que propõe ações contra o racismo estrutural no Brasil -e o Contrafilé -que em 2004 realizou o Monumento à Catraca Invisível, promovendo reflexões a respeito das diversas formas de controle invisível às quais estamos sujeitos cotidianamente e sobre a igualdade de 1 Mestre e doutorando em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.