A RELAÇÃO ENTRE A DEMOCRACIA ATENIENSE E AS ESPOSAS LEGÍTIMAS EM ARISTÓFANES (SÉCULOS V-IV A.C) (2017) (original) (raw)
RESUMO: Amparados pela perspectiva de gênero, objetivamos discutir a estreita ligação existente entre a comédia aristofânica, a pólis ateniense e o feminino, especificamente no que diz respeito às esposas legítimas. Ao nos debruçarmos sobre a leitura das peças Lisístrata (411 a.C.), As Tesmoforiantes (411 a.C.) e Assembleia de Mulheres (392 a.C.), encenadas no contexto da Guerra do Peloponeso e posterior à derrota de Atenas (404 a.C.), acreditamos que a esposa legítima foi representada como mantenedora da cidade ateniense, uma vez que percebemos a ênfase em sua importância cívica por ser considerada um veículo justo de crítica nas peças aristofânicas. Ao problematizar os acontecimentos e decisões políticas de seu tempo, o comediógrafo o fez inserindo mulheres ativas em suas peças, responsáveis por aconselhar seus maridos sobre aquilo que julgavam prejudicial à pólis. Pela lei da cidadania, promulgada por Péricles e vigente a partir de meados do V século a.C. (450 a.C.), eram essas mulheres que carregavam o compromisso de reproduzir cidadãos atenienses, contribuindo para a manutenção da lógica democrática clássica. No presente artigo, examinamos alguns indícios documentais de Assembleia de Mulheres que nos auxiliam a pensar o problema da participação feminina na Atenas Clássica, bem como as peças Os Acarnenses (425 a.C.), Os Cavaleiros (424) e Rãs (405 a.C.), as quais apontam a natureza crítica das comédias aristofânicas. PALAVRAS-CHAVE: Grécia Clássica; Relações de gênero; Comédia; Esposas legítimas. ABSTRACT: Based on the gender perspective, I discuss the close relationship between the Aristophanic comedy, the Athenian polis and the feminine, specifically the figure of legitimate wives. A close reading of Lysistrata (411 BC), Thesmophoriazusae (411 BC) and Assemblywomen (392 BC), staged in the context of the Peloponnesian War and subsequent defeat of Athens (404 BC), suggests that the legitimate wife was represented as maintainer of the Athenian city, since there is an emphasis on her civic importance as vehicle of criticism in Aristophanes' plots. The playwright did it by inserting active women in his plots in order to question events and political decisions of his time. Aristophanes' female characters were responsible for advising their husbands on what they judged to be harmful to the polis. With the citizenship law, established by Pericles in the middle of the fifth century BC (450 BC), women became a critical element in the definition of citizenship alongside men, thus contributing to the maintenance of the classical