DILLMANN, Mauro. A "alma" dos cemitérios: evidências patrimoniais para quem?, Revista Brasileira de História das Religiões, n. 24, p. 79-87, 2016. (original) (raw)

A “alma” dos cemitérios: evidências patrimoniais para quem?

Revista Brasileira de História das Religiões, 2016

Este texto busca refletir e questionar os discursos que geralmente legitimam e tornam "evidentes" os significados patrimoniais dos cemitérios a partir da defesa da identidade de um grupo ou de uma sociedade. Tal consideração parte do aparente contraste entre a aversão social à morte e aos ambientes fúnebres e os possíveis discursos de patrimonialização, capazes de avaliar e atribuir importância à natureza da relevância da preservação destes espaços na coletividade social. Nesse sentido, propõe-se que o valor e o significado do bem patrimonial cemiterial, sua "alma", possa estar entre o próximo e o afastado, o dito e o silenciado, o aceito e o negado.

MUNDIM, Luis Molinari. As necrópoles como patrimônio cultural: reflexões sobre o inventário do Cemitério do Bonfim em Belo horizonte. In.: Anais do XXVI Simpósio Nacional de História, Universidade de São Paulo, 2011.

O Cemitério do Bonfim, assim como a cidade de Belo Horizonte, então denominada Cidade de Minas, nasceu sob o signo da modernidade. Nos moldes de uma ideologia republicana positivista, recém incorporada ao sistema político brasileiro, a concepção desse projeto pautava-se na utopia de uma cidade ideal, com espaços ordenados, iluminados e saneados. Assim como era preciso planejar a cidade dos vivos, a cidade dos mortos deveria ser ordenada e higiênica.

PEREIRA, R. "A MORTE DO TERREIRO DA GOMEIA (DUQUE DE CAXIAS/RJ): o que a arqueologia revela sobre a morte no Candomblé". In: SANTOS, A. B.; BRAHM, J. P. S. MORTE E SIMBOLISMO NA CULTURA OCIDENTAL, PELOTAS: BASIBOOKS, 2019, p. 211-241.

Morte e Simbolismo na Cultura Ocidental, 2019

Objetivamos, por meio de um estudo de caso, demonstrar como a Arqueologia pode ser um ferramental teórico e prático para a compreensão dos fenômenos da morte e, sobretudo, dos resultados desta para as sociedades humanas. Para tanto, analisaremos as escavações ocorridas nos remanescentes do Terreiro da Gomeia (Duque de Caxias/RJ). Este foi um terreiro de candomblé de extrema relevância para a formação desta religiosidade no Rio de Janeiro e Brasil, tendo sido fundado por um babalorixá baiano, João Alves Torres Filho, o Joãozinho da Gomeia, no ano de 1951. O local era referencial às matrizes afro-cariocas, mas também destacável pela inserção do dirigente em áreas como a música, shows e carnaval. Em 1971 o dirigente falece inesperadamente e a casa passa por uma crise quanto à sucessão de liderança. Esta se estenderá até, aproximadamente, 1988/1989, quando um evento de destruição comandando por um membro do terreiro inutiliza o local. Assim, este capítulo se centrara em como a Arqueologia, tendo a materialidade como fonte, pode analisar um evento de morte e quais foram as consequências deste para o local e seus membros. Ao mesmo tempo, objetiva-se descrever como esta materialidade pretérita é meio impar para avaliar-se as consequências da morte para o Candomblé, o que contribui de sobremaneira para a dilatação do conhecimento sobre a morte e suas representações no Ocidente. Ademais, em uma década em que as perseguições a locais de culto como este se avolumam, dar visibilidade ao tema é uma forma de auxiliar na construção de meios de tolerância religiosa e valorização dos diversos patrimônios afro-brasileiros.

Entre túmulos, anjos e capelas: história e historiografia dos cemitérios brasileiros

Revista Trilhas da História, 2023

Os cemitérios são fruto de uma nova concepção sobre a morte desenvolvida entre fins do século XVIII e a segunda metade do século XIX. Pode-se dizer que até meados do século XIX vivos e mortos conviviam de forma harmônica, confraternizando-se nos mesmos espaços, já que era costume que as pessoas fossem enterradas no interior ou ao redor das igrejas. Mudanças nas concepções de morte e higiene se tornaram fatores que provocaram a expulsão dos mortos para os cemitérios extramuros. Essa nova visão sobre a morte se espalhará por todo o Ocidente, ganhando força no Brasil por volta de 1850, período marcado por epidemias devastadoras. No presente trabalho, buscou-se analisar a produção historiográfica sobre os cemitérios brasileiros, bem como fazer reflexões sobre a historiografia dos cemitérios amazonenses, em especial os de Manaus.

Itinerários Da Memória: O Cemitério Como Espaço De Educação Patrimonial

O Essencial da Arquitetura e Urbanismo 2, 2019

Júnior-CRB6/2422 O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores. 2019 Permitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais.

Os cemitérios públicos como alvo das disputas entre Igreja e Estado na crise do Império - REVISTA DIÁLOGOS/MARINGÁ, 2009

This article aims to identify how the theme of death can be a channel for the analysis of ultramontanist and romanizing actions of the ecclesiastic hierarchy during the Imperial period, especially between the years 1869 and 1889, when the issue of ecclesiastic burials became the object of a fierce controversy between the episcopate of some imperial capitals and the defenders of liberal and anti-clerical ideas, such as supporters of the Masonic order and the Protestant cause. In the context that the ecclesiastic hierarchy sought to affirm its autonomy from the royalist policies of the State, the defense of ecclesiastic jurisdiction over public cemeteries became an important weapon of its Romanization policy, in the search for affirmation of its dogmas and the maintenance of its hegemony over society. Keywords: Regalism, Ultramontanism, Romanization, Empire crisis, public cemeteries, ecclesiastic grave.