Identidade pessoal e identidade narrativa - notas sobre Alasdair MacIntyre e Paul Ricoeur (original) (raw)

Identidade pessoal e ética em Paul Ricoeur - da identidade narrativa à promessa e à responsabilidade

Cláudio Reichert do Nascimento é doutorando em Filosofia na UFSC-Brasil e bolsista Capes/PDEE na EHESS-França Resumo O presente artigo apresenta o problema da identidade pessoal em Paul Ricoeur, a partir de Temps et récit e Soi-même comme un autre, abordando, sucintamente, as posições filosóficas que afirmam aquilo que Ricoeur caracteriza como identidade como permanência no tempo (mesmidade), ao contrário da identidade enquanto diversa e variável no tempo (ipseidade), que vai ao encontro da tese da identidade narrativa. Em seguida, indicamos a limitação da narrativa para dar conta do problema da identidade pessoal frente o possível apagamento de si-mesmo no campo narrativo e da perseverança no campo ético com o conceito de promessa. Por fim, conclui-se com a exposição do conceito de promessa enquanto speech act e como poder de prometer, e a relação com o conceito de responsabilidade que disto decorre. Palavras-chave: Identidade pessoal. Narrativa. Ação. Promessa. Responsabilidade. Abstract This paper presents the problem of personal identity in the light of Paul Ricoeur's theories based on Time and narrative and Oneself as another. This work also discusses briefly the philosophical positions that affirm what Ricoeur characterizes as identity: the permanence in time (sameness), contrary to the identity that is changeable and diverse over time (ipseity), which is in line with his thesis of narrative identity. Then the limitation of the narrative is examined so as to account for the problem of personal identity before the possible ‚erasure‛ of the self in the narrative field and his/her maintenance in the ethical field with the concept of promise. Finally, this paper discusses the approximation which Ricoeur appraises of the concept of promise as speech act and as the power of promise, and the relation to the concept of responsibility that results from that.

Paul Ricoeur e Walter Benjamin: apontamentos sobre identidade narrativa e narração

O si-mesmo e o outro: ensaios sobre Paul Ricœur, 2016

A intenção desta escrita reside na tentativa de, a partir da explanação das proposições de Paul Ricoeur a respeito da identidade narrativa feita em O si-mesmo como outro, noção que é situada pelo filósofo entre os atos de descrever e prescrever, adentrar o tema da narrativa no pensamento de Walter Benjamin, primando por expor um pouco da estrutura que permeia esta temática no universo de autores tão diferentes.

Sou uma rede de narrativas: aproximações entre Paul Ricoeur e Alice Munro

Janessa Pagnussat 3 RESUMO: Neste artigo, pretendemos abordar o papel da memória e da narrativa na constituição da identidade pessoal, a partir de conceitos teóricos da obra de Paul Ricoeur (em especial O si-mesmo como outro) e da análise do conto "O urso atravessou a montanha", de Alice Munro. Esse movimento nos permitirá sublinhar a ideia de que, contrariamente ao que parte da literatura sobre identidade e narrativa tem sustentado, não é só aquilo que poderíamos chamar de autonarrativa que cumpre um papel na manutenção da identidade pessoal. Ao invés disso, recuperamos a ideia ricoeuriana de uma rede de narrativas ou emaranhado de histórias, na qual auto-e heteronarrativas se imbricam mutuamente, servindo de sustentáculos para as identidades constituídas sobre ela.

Em busca da identidade narrativa: um ensaio a partir de Paul Ricoeur

Revista Mosaicum, 2020

A fidelidade a Paul Ricoeur está longe de ser alcançada pela consideração à literalidade de suas ideias. Ser fiel a ele é reproduzir, antes, seu próprio modo de ser fiel a outros autores: levando adiante o movimento do pensar que uma vez o animou, responsabilizando-se pelo que vem pela frente. Este ensaio, sobre um conceito tão íntimo dele, o de identidade narrativa, procura oferecer o modo como seu próprio autor, partindo de Ricoeur, o concebeu e o desenvolveu.

O Conceito de Identidade Narrativa e a Alteridade na Obra de Paul Ricoeur: Aproximações

Impulso, 2013

Resumo O presente artigo examina os conceitos de identidade narrativa e de alteridade na obra de Paul Ricoeur. A questão da identidade narrativa é abordada ele, inicialmente, em Tempo e narrativa e é retomada em Si-mesmo como outro. É a resposta à questão "quem é você?" e implica, necessariamente, a narrativa da vida porque "a pessoa é o que ela fez e o que ela sofreu", e é na tarefa de complexificação da noção de sujeito que está, de modo decisivo, a compreensão da alteridade ou do outro. O outro, no entanto, na tradição metafísica é recusado e esquecido da Antiguidade à Contemporaneidade. Por essa razão, o presente texto objetiva examinar a questão da narrativa e da identidade pessoal, em Ricoeur, no quadro de uma meditação sobre a alteridade à luz de uma análise hermenêutico-fenomenológica ricoeuriana nas obras Tempo e narrativa, O si-mesmo como um outro e Do texto à ação. Palavras-chave ética, hermenêutica, si-mesmo, alteridade.

À procura de um narrador. Ricoeur e a identidade narrativa

Phainomenon, 2002

Que podemos dizer sabre o mundo e sabre nos proprios? Se conside rarmos que ha um afastamento inevitavel entre os signos e as coisas, que podemos fazer para atenua-lo? E frequente dizer que a historia se esforc;a par fazer um relato do passado enquanto a ficc;ao assume, orgulhosamente, o seu cepticismo em relac;ao ao que aconteceu, liberta da prisao da objectividade ao assumir a func;ao retemperadora da imaginac;ao. Deste modo, falar em tempo e narrativa e cmzar dais caminhos que se pretendem distintos: a histo ria dos historiadores e a ficc;ao dos romancistas. Um e outro tratam do tempo de forma narrativa, embora o tempo e a narrativa que cada um deles articula se distinga nos seus propositos epistemologicos e ontologicos. Todavia. a bifurcac;ao dos caminhos nao nos deve cegar para o lugar que comec;ou par uni-los, ou seja. para a necessidade de descobrir uma identidade. De facto, o que une ambas as narrativas e o ensejo da identidade, o que nos permite compreender a compulsao para contarmos uma historia: de nos proprios, da epoca, da nac;ao ou qualquer outra. Dizer alguma coisa sobre o mundo ou sabre nos proprios e, portanto, dar uma identidade aquilo que, sem o trabalho conjunto do tempo e da narrativa, seria inominavel au inexistente. Se somos tempo, e premente interrogar como o narramos ao ajuizarmos coma dizemos o que somos ou julgamos ser. Podemos entao dizer que temos uma identidade, entendendo par isso uma forma substancial que permanece no tempo e e, portanto, invariavel. Mas podemos tambem considerar que essa permanencia no tempo e problematica, procurando antes o que faz de cada um de nos um si mesmo no decurso da vida, algo que e proprio .de cada um sem que o criteria de permanencia seja fundamental. Quando, em certos relatos autobiograficos, o sujeito se interroga «quern sou• eu?» e responde Plzainomenon, n. 0 4, Lisboa, Edi�oes Colibri, pp. 111-122.

A identidade narrativa em Paul Ricoeur: do texto poético à poética do eu

A Escrita do Eu: A Literatura como Laboratório da Vida, ed. Maria Helena Jesus, Paulo Jesus e Gonçalo Marcelo, Coimbra, Imprensa da Univ. Coimbra, 2020

Indagando a possibilidade e o sentido de uma poética do eu, será nosso objetivo clarificar, a partir do contributo incontornável do filósofo francês Paul Ricœur, de que forma o texto poético se assume como uma mediação fundamental da compreensão do si, bem como da sua configuração e refiguração enquanto um si mesmo. Neste sentido, atentaremos especialmente nas obras Temps et Récit (1983-85) e Soi-Même Comme un Autre (1990), fulcrais para entendermos a relação que o filósofo tece entre narrativa, tempo e identidade, mais especificamente a importância da mediação narrativa para a superação das aporias ligadas às experiências humanas da temporalidade e da construção identitária. Gravitaremos, neste contexto, em torno da noção seminal de identidade narrativa – enquanto ponto de mediação entre uma identidade idem e uma identidade ipse –, procurando mostrar de que forma esta se constitui como a pedra angular de uma configuração (poética) do eu cujo alcance se estende ao domínio da ética.