Héracles, um herói-deus (original) (raw)
Related papers
Universo ao meu redor, 2019
O objeto deste estudo contemplará a ekphrasis na composição do escudo de dois heróis épicos: Héracles, conhecido na mitologia romana por Hércules, cantado por Hesíodo, no “Escudo de Héracles”, e Aquiles, cantado por Homero, na “Ilíada”, mais precisamente no Canto XVIII, quando Hefesto inicia a confecção do novo armamento de Aquiles, pois o primeiro foi tomado por Heitor, em batalha, na morte de Pátroclos. Escudo este que revelará a natureza do herói e dos seus grandes feitos nos cantos subsequentes, até culminar no Canto XXIV.
Héracles cómico: a caricatura do herói épico
CODEX - Revista de Estudos Clássicos
Durante séculos perviveu a imagem do herói configurado por virtudes guerreiras. O modelo homérico é seguido e enaltecido e a tradição cristalizou-o. Héracles veste os ideais que a poesia épica glorificou e constitui um exemplo de heroísmo a imitar e a cantar. Na comédia Rãs, Aristófanes, conhecedor do retrato convencional de Héracles, dos seus traços físicos e dos acessórios que o identificam, volta a colocar este herói diante de um espelho deformante, criando-lhe uma espécie de clone, à semelhança do que a tradição cómica vinha fazendo. O comediógrafo converte Héracles, um herói épico, num herói cómico, deformando-lhe os traços distintivos que o singularizam no panorama do heroísmo clássico, e desdobrando-lhe a personalidade. Todo este processo de subversão assegura a caricatura do heroísmo.
Héracles e a interlocução do Nume
Resumo: A trama da tragédia Héracles de Eurípides é composta de três partes: na primeira, a família de Héracles está sob ameaça de morte pelo tirano Lico e espera ansiosamente pelo retorno do herói de sua última missão; na segunda, Héracles retorna e mata o tirano; e na terceira Héracles – possuído por Fúria – mata sua própria família e quando recobra consciência de seu terrível feito, planeja cometer suicídio, mas é persuadido por Teseu a aceitar seu infortúnio e suportar a dor de viver sob o peso de sua falta. A crítica tradicional acusou de falta de unidade esta composição por justaposição. Neste trabalho, pretendemos mostrar que é possível ver a unidade desta tragédia no perfeito entrelaçamento da questão da justiça e do diálogo com o Nume. E, naturalmente, tentar responder que noção de justiça se mostra no desenvolvimento da trama, e como essa noção se entrelaça com a interlocução do Nume. Abstract: The plot of Heracles tragedy by Euripides is composed of three parts: in the first one, Heracles' family is under threat of death by the tyrant Lykos and anxiously awaits the return of the hero from his latest mission; in the second part, Heracles returns and kills the tyrant; and in the third one, Heracles – possessed by Lyssa – kills his own family, and when he regains consciousness of his terrible deed, he plans to commit suicide, but he is persuaded by his friend Theseus to accept his misfortune and endure the pain of living under the weight of his fault. Traditional criticism has seen lack of unity in this composition by juxtaposition. In this paper, we intend to show it is possible to see the unity of this tragedy in the perfect interweaving of the question of justice and dialogue with Numen. And, naturally, try to answer what notion of justice is shown in the development of the plot, and how this notion intertwines with Numen's interlocution.
Héracles, Radamanto e a justiça
Heródoto: Revista do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Antiguidade Clássica e suas Conexões Afro-asiáticas
Neste artigo, propomos uma interpretação para o controverso fragmento 169a Maehler de Píndaro, conhecido na Antiguidade pela máxima νόμος ὁ πάντων βασιλεύς. Após rever as principais posições já formuladas e reavaliar o multifacetado tratamento dispensado por Píndaro ao mito de Héracles, sugerimos que, por meio de referência particular a uma lei atribuída ao legislador Radamanto, envolvido no mito de Héracles, Píndaro afirma haver no mundo um espaço regulado para a violência que, a despeito das aparências, realiza a justiça.
Plotino e a escolha de Héracles. Paixões, virtude e purificação
2008
Starting from Plotinus’ exegesis of the Heracles myth – either an athlete of virtue or an image of the double condition of humankind – we investigate the relationship between passion, virtue, purification and pleasure. An investigation of these elements in Plotinus’ ethics opens up a valuable way of questioning the purely dualist interpretation of Plotinian anthropology. The process by which such elements relate to one another must be understood in the context of the continuum of the life of the philosopher, for whom the ultimate rule of life is the ineffable One.
Hércules no Eta: uma tragédia estóica de Sêneca
apresenta traços que refletem sua condição pessoal de homem novo, de ator na história do Império Romano e de um pensador bastante livre. As linhas de seu pensamento, que se pode chamar de estóico-senequiano, estão presentes em toda sua obra: de maneira explícita, nas epístolas e nos diálogos; e implícita, na tragédia Hércules no Eta. Para essa tragédia, Sêneca buscou, como modelo principal, As Traquínias de Sófocles, cujas personagens recebem um tratamento tal, que se pode ler, em suas palavras e em suas ações, a expressão das virtudes e dos vícios nos três níveis: cósmico, imperial e individual. A relação entre essas três instâncias é garantida, principalmente, pela tensão sujeito-objeto e pela analogia como processo de conhecimento. Em seu pensamento bipolar, pode-se ler a presença dos princípios que perpassam toda a Natureza: o ativo (do lado do sujeito) e o passivo (na vertente do objeto). A expressão máxima do princípio ativo é, no universo, o Logos; no Império, a razão do príncipe, que constitui sua alma; no homem, a razão diretriz. O vício é o desequilíbrio em qualquer uma das instâncias, e consiste numa inversão que deixa a Razão fora do lugar que lhe cabe segundo a perfeição da Natureza. O reequilíbrio, no âmbito do Universo, se faz pela "conflagração universal"; no Império, pelo comando de um príncipe virtuoso; no indivíduo, pela prática da virtude, sob o comando da razão. Como no indivíduo, a virtude, que é igual à sabedoria, à felicidade, à liberdade, é conquistada paulatinamente, o homem, em relação a ela, pode ser um stultus, um uacillans, um proficiens ou um sapiens. No Hércules de Hércules no Eta, convivem as três instâncias: a cósmica na conflagração universal, a do Império Romano, nas alusões político-históricas, e a do indivíduo, na trajetória exemplar do herói rumo à sabedoria e à apoteose. Sua trajetória, dividida entre um velho e um novo Hércules, promove, ainda, a passagem do tempo mítico para o tempo legal, do herói marcado pela hybris para o marcado pela uirtus.
HERACLES E O FEMININO AMEACADO
Estudos Sobre o Teatro Antigo, 2010
RESUMO. Na tragédia Héracles de Eurípides e em As Traquínias de Sófocles, Héracles representa uma ameaça ao feminino. Nessas peças, suas esposas, Mégara e Dejanira, são vítimas das desmedidas do herói. O grande destruidor de monstros revela-se ele próprio monstruoso. Mégara e Dejanira sofrem com