(ETNI)CIDADE INDÍGENA NA AMAZÔNIA: POR UMA GEOGRAFIA DO CONTATO INTERÉTNICO (original) (raw)

Na Amazônia, o urbano e a etnicidade indígena se constituíram de forma mútua num contato de interdependência historicamente construído, que adquiriu diferentes significados ao longo da história. Neste trabalho, centramos nossos esforços em uma análise da urbanização amazônica a partir da situação de fronteira e do contato interétnico, os quais nos permitem compreender a cidade se constituindo como tal, a partir de políticas indigenistas de dominação e subordinação do indígena e de seus territórios. Do mesmo modo, são reveladores do indígena em suas diferentes e específicas formas de organização e de reprodução social, experienciando a vida urbana e, junto com esta, reconfigurando suas práticas sócioespaciais, e logo suas fronteiras étnicas. Nesse sentido, nos colocamos diante de uma problemática espacial fundada na diversidade histórica e na coexistência de temporalidades distintas, que tem suas bases numa compreensão ontológica do espaço, como produto de inter-relações, como esfera da coexistência da multiplicidade e, ainda, como num estado de transformação contínua e inacabada por constante refazer da história, ou seja, um processo de devir. Fundamentado em tais pressupostos, adentramos nas reflexões sobre as faces dessa relação entre urbanização e etnicidade indígena no espaço urbano da cidade de Marabá, com ênfase nas histórias e trajetórias dos diferentes povos indígenas do sudeste paraense, materializadas neste espaço intraurbano através dos encontros e desencontros de sujeitos étnicos, inscritos nas relações sociais em sua existência concreta na medida em que produzem lugares e, a partir destes, reproduzem-se, revelando as contradições e conflitos da vida social que denotam a identidade étnica na cidade como referência material e simbólica da reprodução da vida em múltiplas dimensões.