A gambiarra e o alegórico no cinema contemporâneo brasileiro (original) (raw)
2017, Arteriais, Revista do PPGARTES UFPA. N. 4
A partir da observação de aspectos estéticos presentes em uma certa produção contemporânea do cinema brasileiro, mais especificamente enfocando a construção imagética desenvolvida pela direção de arte e seus elementos, aponta-se para uma interessante recorrência da utilização consciente de elementos e recursos "gambiarrísticos" pela direção de arte na construção visual dos mesmos. Para apresentar mais detalhadamente observamos o filme Branco sai, preto fica, apontando para a utilização da gambiarra como um potente discurso estético, alegórico e politico. Este artigo faz parte de uma pesquisa mais ampla que desenvolvo observando aspectos estéticos do cinema brasileiro contemporâneo, focando na forma como a direção de arte é proposta, pensada e estruturada nesse contexto. Nos desdobramentos desta pesquisa algumas questões se apresentam como peculiaridades marcantes: a utilização das paisagens com poder narrativo, a presença e bom aproveitamento do acaso na construção da visualidade do filme, o naturalismo poético das imagens, além do fator aqui destacado, que é a presença da gambiarra como potência estética e narrativa. Neste artigo pretendo lançar um olhar sobre esta 'estética da gambiarra', propondo reflexões acerca da imagem cinematográfica que dela resulta. Abstract From the observation of the aesthetic aspects present in a certain contemporary Brazilian cinema, more specifically focusing on the image construction developed by the art department and its elements, we point to an interesting recurrence of the conscious use of "gambiarristic" elements and resources by the Art direction in the visual construction of them. To present more in detail we observe the film Branco sai, preto fica, pointing to the use of gambiarra as a powerful aesthetic, allegorical and political speech. O CINEMA BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO Apesar da heterogeneidade da produção contemporânea do cinema brasileiro, existe uma parcela desses filmes que se destaca no cenário nacional e internacional. Tratam-se de filmes produzidos por jovens diretores, marcados por certa inventividade, desprendidos de normas ou regras comumente impostas ao fazer cinematográfico, legitimados por uma curadoria interessada na inovação formal e em posturas de criação e produção menos convencionais. Uma tendência cinematográfica cujo modus operandi e a própria linguagem se reconfiguram e, de certo modo, se reinventam. Uma forma mais flexível de pensar e fazer cinema, despreocupada com os por vezes inócuos rigores de qualidade típicos do cinema mainstream, valorizando a potencialidade poética e discursiva das imagens. Alguns termos vêm sendo associados a esta produção contemporânea brasileira, como