A estereotipização do negro nos romances de Bernardo Guimarães (original) (raw)

2016, Revista Todas as Musas

Resumo: No decorrer do século XIX, desata no Brasil um assíduo debate em torno da escravidão e do futuro do país. Bernardo Guimarães instrumentaliza a imagem do afrodescendente para divulgar suas ideias sobre nacionalidade. Ao fazer do afrodescendente o protagonista de sua narrativa, o escritor, entretanto, constrói uma série de personagens estereotipados. Propõe-se, por meio do presente artigo, analisar as principais características dos personagens negros em três obras de Bernardo Guimarães. Palavras-chave: Bernardo Guimarães; Estereótipos raciais; Literatura abolicionista. Abstract: In the course of the nineteenth century, an assiduous debate begins in Brazil concerning the slavery and the future of the country. Bernardo Guimarães uses the image of the African descendant to broadcast his ideas about nationality. Nevertheless, while the author makes the African descendant the main character of his narrative, he constructs a sequence of stereotyped figures. We intend, with the present article, to analyze the main characteristics of the negro characters in three works of Bernardo Guimarães. O negro na literatura brasileira até o século XIX Apesar de o negro, desde o início do período colonial, ter desempenhado um papel crucial no desenvolvimento econômico e estrutural da sociedade brasileira, observamos que sua figura é praticamente inexistente em textos literários anteriores à abolição do tráfico negreiro, decretada de forma definitiva apenas em 1850 (CARVALHO, 2006, p. 54; CASTILHO, 2004, p. 104; MARTINS, 1977, p. 26). Essa situação, aparentemente paradoxal, diz muito sobre como o negro era percebido e apreciado pelo branco durante os primeiros séculos de colonização. Até o fim da escravidão, o afrodescendente não havia representado para a elite do país mais que um importante bem material. A coisificação do escravo como aquisição valiosa para o desenvolvimento da economia brasileira teve como consequência a desumanização do afrodescendente que era considerado um ser inferior. Os intelectuais brasileiros não estavam interessados em apresentar o negro como personagem de suas obras, pois ele não era considerado um elemento poético. Consequentemente, o afro-brasileiro permanece praticamente ausente