Foucault e o economismo penalógico (original) (raw)

Revisando Foucault: homo oeconomicus e homo politicus

DoisPontos, 2017

Tradução do terceiro capítulo de Undoing the Demos, livro no qual Wendy Brown procura compreender como a emergência do homo oeconomincus subjugou outras figurações e interpelações do humano. Brown apresenta, primeiro, uma leitura crítica da teorização do homo oeconomicus que Foucault formulou em suas aulas sobre o neoliberalismo no Collège de France. A autora censura Foucault por não ter atentado suficientemente para o homo politicus, lócus da soberania popular que conseguiria resistir à hegemonia do homo oeconomicus. Em seguida, reflete sobre a morfologia do homo oeconomicus e do homo politicus nos trabalhos de Adam Smith, Locke, Rousseau, Hegel, Marx, Bentham e J. S. Mill. Por último, analisa o gênero do homo oeconomicus contemporâneo e discute sua disseminação por meio de uma razão normativa e de uma racionalidade governante.

Foucault e o ponto cego na análise da guinada punitiva contemporânea

2015

Este artigo se compõe de três momentos articulados: (i) em primeiro lugar, procuro indicar como a presença avassaladora de Michel Foucault no campo da sociologia da punição deve-se ao fato de que, mais do que obra fundadora, ao lado de outras abordagens clássicas, seus escritos têm contribuído de forma decisiva para a renovação da agenda de pesquisa sobre os nexos que articulam punição e sociedade, e como essa renovação se conecta à passagem, no itinerário da produção do filósofo francês, dos estudos sobre o poder como tecnologia disciplinar para a analítica de governo e os estudos sobre a governamentalidade; (ii) em seguida, com base na apresentação sucinta de quatro das mais conhecidas teses sobre a guinada punitiva contempo-* Uma versão preliminar deste texto foi apresentada na mesa-redonda "Michel Foucault e a pesquisa em ciência sociais: 30 anos depois", organizada por Marcos Alvarez e pelo Laboratório de Pesquisa Social do Departamento de Sociologia da FFLCH-USP. Esta pesquisa faz parte do projeto temático A gestão do conflito na produção da cidade contemporânea: a experiência paulista", coordenado pela profa. Vera Telles e financiado pela Fapesp. Gostaria de registrar meu agradecimento aos participantes da mesa e aos integrantes da equipe do projeto temático. Lua Nova, São Paulo, 95: 289-311, 2015 1 Todas as traduções de citações foram feitas pelo autor, especialmente para este artigo. 2 Primeiro sob a forma da transcrição de fragmentos, depois de algumas aulas, até que finalmente com a publicação na íntegra dos cursos, a analítica de gover-291 Lua Nova, São Paulo, 95: 289-311, 2015

Economia, Sujeito e Instituição Segundo Foucault

Philósophos - Revista de Filosofia, 2016

o artigo procura compreender o estatuto da crítica de Foucault do neoliberalismo a partir do conceito de biopolítica trabalhado no textos anteriores ao curso La naissance de labiopolitique. Dois pressupostos teóricos são mobilizados para compreender a passagem da problemática do biopoder àquela do neoliberalismo: Marx e o conceito de superpopulação relativa, pelo fato que a problemática de Foucault em torno do conceito de biopolítica gira em torno do conceito de população. Por outro lado, com Polanyi, nós podemos compreender de que maneira Foucault pensa a novidade do neoliberalismo contemporâneo no interior de uma analise das contradições do liberalismo enquanto capitalismo histórico (F. Braudel). Em última instância, o artigo procura situar as categorias de análise do poder em Foucault no terreno da economia política.

Foucault e a “discursividade” do Direito Penal contemporâneo

Revista NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses da UFPR, 2018

O artigo versa realiza uma discussão teórica sobre a “discursividade” do direito penal a partir do olhar de Michel Foucault em seu texto “Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão... um caso de parricídio do século XIX”. Nesse sentido, aborda as diferentes estratégias ou mecânicas punitivas que se estabelecem na modernidade, desde "mecânica legal" da organização jurídica, da Idade Média, estabelecida pelo "princípio da soberania" e "da gládio", até o momento histórico em que cedeu espaço para a emergência de uma nova organização política. Uma organização não mais pautada pela possibilidade de dominação e total disposição dos corpos-súditos, mas sim, na política de rejeição ao absolutismo do poder monárquico com a nova formação da ideia do contrato social, ou seja, na determinação dos limites do poder soberano. Sob o discurso da "humanização" do direito de punir, afastou-se o direito de morte do soberano, mas agora, sob...

Foucault e o marxismo

Cuestiones de Filosofía, 2017

O presente artigo busca (re)apresentar o filósofo francês Paul-Michel Foucault, partindo do pressuposto de que o pensamento deste é, em boa parte, fruto de discussões e lutas teóricas com Karl Heinrich Marx e, principalmente, com o marxismo. Num primeiro momento, defendemos que Foucault fez uso das ideias de Marx, tendo-o como influência sobretudo durante a sua curta passagem pelo Partido Comunista. Num segundo momento, expomos alguns dos impasses com o marxismo e com o pensamento de diferentes pensadores e militantes, ditos marxistas. Por fim, parece-nos que Marx e Foucault não são filósofos para todas as estações. Embora seja sabido que o pensamento de ambos foi e é utilizado em longa escala, eles não servem para tudo! O pensamento de Foucault demonstra uma visão cristalina acerca da diferença existente entre a pessoa Marx e seu pensamento, o marxismo e os marxistas. Talvez daí venha o espanto de Foucault ao perceber que desde o início foi considerado um inimigo pelos marxistas.

Foucault e a ética da infâmia

Trata-se, neste trabalho, de investigar se um conjunto de práticas examinadas por Michel Foucault pode ser caracterizado, segundo nossos próprios termos, como uma ética infame. Tecida por meio dos conceitos de discurso e poder, e inscrita em arquivos históricos, ela subverte a compreensão teórica habitual de poder travado entre diferentes classes ou raças, reconhecendo formas heterogêneas de acordos e desacordos entre grupos em vista da normatização ou da exclusão de indivíduos. Constituída por discursos que revelam pequenos segredos e disputas do cotidiano, a ética da infâmia é uma rede de relações que parte de um apelo vitimado a instâncias supostamente altruístas em nome da salvação de indivíduos perdidos na liberdade que reivindicaram para si próprios.

Michel Foucault: a sociedade punitiva e a educação

Toda e qualquer sociedade possui um regime de punição e, ao examiná-lo, é que a conhecemos. Michel Foucault investiga arquivos que demonstram que na virada do século XVIII, na França, viu-se instaurar a sociedade disciplinar e, com ela, todo um corpo ritualístico de controle e vigilância constituindo um campo de saber e poder. As instituições educativas, tanto quanto médicas, penais, religiosas e outras, reproduziram formas de esquadrinhar, localizar e controlar os indivíduos, e que, sem muita surpresa, ainda vigoram. Vê-se que uma biopolítica ocupa-se do controle das populações. O objetivo deste trabalho foi compreender como e de que forma essas táticas de normalização e adestramento têm influenciado os discursos da educação na modernidade. Os discursos expressos nos documentos oficiais veiculam a ideia de liberdade para aprender de forma lúdica os conteúdos com avaliações numa perspectiva formativa. O discurso de inclusão vem se propagando num viés da democratização do ensino e do...

Foucault e a racionalidade (neo)liberal

Revista Brasileira de Ciência Política, 2016

Resumo O artigo aborda o debate em torno da reflexão de Michel Foucault acerca do liberalismo e do neoliberalismo. Apresenta de maneira critica alguns trabalhos recentes, na França e nos EUA, que têm concluído sobre a existência de afinidades, especialmente teóricas, entre Foucault e o neoliberalismo, apontando suas fragilidades metodológicas. Procura, em seguida, evidenciar a especificidade genealógica que caracteriza a análise foucaultiana em relação às abordagens concernidas com a denúncia ideológica ou com a valorização ideal do liberalismo. Retoma particularmente os estudos da governamentalidade a partir dos quais Foucault realizou uma descrição histórica do liberalismo e do neoliberalismo em termos de racionalidade governamental. Apresenta-se um quadro sintético da economia de poder liberal na análise foucaultiana em que se verifica a superposição de três racionalidades historicamente localizáveis: razão de Estado, poder pastoral, biopoder. O artigo termina com uma leitura das...