RESENHA: A experiência etnográfica em percurso (original) (raw)
2018, Revista de Antropologia USP, v.61 n.1, 381-387
A viagem como vocação reúne diversos ensaios de Fernanda Peixoto conectados pela ideia da viagem como forma de refletir sobre as obras e trajetórias de quatro figuras centrais do pensamento social no Brasil e na França. É ao acompanhar os processos de constituição das imaginações etnográficas de Gilberto Freyre, de Roger Bastide, de Pierre Verger e também de Michel Leiris, cunhadas nas andanças e nas redes estabelecidas por esses intelectuais ao longo de suas vidas, objetivadas em suas publicações, mas também nos diários, cartas, desenhos e fotografias que produziram, que Peixoto nos proporciona uma promissora chave de análise, que verte para o próprio livro e as formas de tomá-lo como ponto de partida para outras investigações sobre história intelectual. Um estudo sensível das fontes mobilizadas-as mais públi-cas, mas também as mais pessoais-permite mostrar como as contribuições sociológicas e antropológicas que tornaram esses autores referências na história das ciências sociais foram produzidas nesses trânsitos intersubjetivos. O livro é composto por seis capítulos divididos em duas partes. Para ajudar o leitor a percorrer o texto nos são oferecidas também duas pequenas "paus-as", como a autora chama esses trechos em que se permite refletir, como uma leitora de si mesma, sobre seu trabalho. Essa opção por uma estrutura textual que ressalta linhas de força, mas que também possibilita perscrutar parentes-cos insuspeitos com outras obras, através da indicação de temas como amizade e memória-que as viagens colocam em relevo-, tem a grande vantagem de seduzir-nos, seus leitores, ao tornar-nos cúmplices dos bastidores: da produção das obras e também do presente livro.