O positivo do capital : o materialismo das formas socioeconômicas na crítica da economia política de Karl Marx (original) (raw)

Desde que Karl Marx (1818-1883) publicou o primeiro livro de O Capital (1867), o debate sobre a teoria da crise e a da revolução parece predominar na recepção de sua crítica da economia política. Isso se justifica legitimamente pela própria qualidade do projeto crítico do autor, reconhecidamente comunista e politicamente orientado pelas lutas sociais travadas pelas classes trabalhadoras à sua época. Esta tese visa, no entanto, explorar uma outra faceta problemática desse projeto crítico, a saber, o problema de (i) como, segundo essa crítica marxiana, as sociedades capitalistas mantém suas estruturas de dominação e de exploração econômica do trabalho, (ii) quais são essas estruturas e (iii) como elas se constituem e se reproduzem na vida social. Esse problema leva à questão da especificidade que o materialismo de Marx assume nos escritos de crítica da economia política e à questão do papel que a forma socioeconômica exerce nele, do que decorre, ainda, uma determinação também específica da natureza do conceito de capital. A fim de articular esses problemas, busco, primeiro, apresentar os argumentos que sustentam a hipótese de um “materialismo das formas socioeconômicas” nesses escritos marxianos. Em seguida, tento demonstrar essa hipótese a partir da apresentação das determinações das formas socioeconômicas fundamentais ao capital em geral, ou seja, as formas mercadoria, valor e dinheiro. Por fim, trato das consequências teóricas desses posicionamentos quanto à determinação do conceito de capital. Com isso, viso problematizar O Capital como crítica da expressão científica de uma objetividade social determinada (o valor) e, enquanto tal, como teoria social que investiga essa objetividade tanto a partir de seu próprio espaço e tempo (isto é, como forma social) quanto por meio de sua relação com uma subjetividade que, em parte, é determinada por ela mesma.