A histeria como desordem mimética no Prometeu Acorrentado: uma leitura psicanalítica (original) (raw)

Trivium Estudos Interdisciplinares, 2012

Abstract

A Literatura e o Teatro antigos forneceram temas e deram forma tanto ao nascimento da Psicanálise quanto a seu desenvolvimento. Esses temas são elementos da cultura ocidental, incutidos no psiquismo desde a mais tenra idade, por meio da tradição sociocultural sob a forma da linguagem, de discursos, valores morais, hábitos e rituais coletivos, mesmo que o sujeito, tomado individualmente não compreenda seus significados. Os temas da tradição fundamentam a identificação da vida grupal, seja em que extensão for, frutos que são da reiteração das representações por meio das formas simbólicas sinteticamente apresentadas nas instituições e nas manifestações artísticas. Sabemos que uma tragédia grega em particular forneceu o mito que, reinterpretado por Freud, se tornou o numen tutelar da psicanálise e sua pedra fundamental, Édipo-Rei, de Sófocles, que, para Aristóteles, representava o modelo perfeito do drama trágico (Poet, XI, 2∫∫). Para ele, no Édipo-Rei a peripécia se une ao reconhecimento, ou seja, a reviravolta das ações, necessária à comunicação ao público das ideias não explícitas do autor, ocorre junto ao movimento do desconhecimento para o conhecimento. A reinterpretação drástica da lenda de Édipo tornou-o um paradigma da experiência humana para a teoria e prática psicanalíticas Nosso interesse se volta para a tragédia Prometeu Acorrentado, buscando investigar como a tragédia recria, na personagem Io, a histeria como uma desordem mimética, sua fundamentação discursiva nos pressupostos culturais da época e a influência dessas representações na Psicanálise, e a, assim dita, remissão, a partir do diálogo de Io e Prometeu. Nesta tragédia é veiculada uma imagem das determinações da função e do papel das mulheres na sociedade a partir da personagem Io, que padece por seu desvio em relação à normatização social e por esquivar-se do desejo de Zeus. A normatização social é o resultado de um processo imposto, naturalizado e, através dos tempos, instituído como o Simbólico. Mas o que nos parece enfatizado em Ésquilo e sua tragédia é a sua rejeição a Zeus, compartilhada pelas Oceânides, que deriva em dramáticos sofrimentos e que ensinam, à plateia, o temor e o repúdio às mulheres não casadas e transgressoras dos ideais da pólis. A construção discursiva e imagética do quadro da histeria como alegoria viva vai além dos ditames dirigidos às esposas legítimas, estendendo-se às mulheres em geral. Nosso problema é investigar como a tragédia recria, na personagem Io, a histeria como uma desordem mimética, sua fundamentação discursiva nos pressupostos culturais da época e a influência dessas representações na Psicanálise.

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