Análise do Funcionamento de Comunidades Terapêuticas na Perspectiva da Política Nacional Sobre Drogas (original) (raw)
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Comunidades terapêuticas como forma de tratamento para a dependência de substâncias psicoativas
Estudos de Psicologia (Campinas), 2005
Não há um perfil determinado para o usuário de substâncias psicoativas. Em diversas pesquisas de diferentes grupos estudados, seja pela faixa etária, gênero, nível social, econômico ou cultural, há indicação que a utilização de drogas não é restrita a um único padrão populacional. Este trabalho tem como objetivo, através de questionários respondidos por dependentes em processo de recuperação, colher informações tanto de sua vida pessoal quanto de sua dependência a substâncias psicoativas, principalmente aquelas de sua preferência, abordando como forma de tratamento as comunidades terapêuticas. A Secretaria Nacional Antidrogas vê as tais comunidades como mais uma abordagem terapêutica utilizada atualmente para o uso abusivo de drogas, juntamente com a psicoterapia analítica, terapia cognitivo-comportamental e prevenção de recaída, tornando a validação dessa metodologia importante no meio científico.
Comunidades terapêuticas nas políticas antidrogas: mercantilização e remanicomialização
O artigo analisa como as Comunidades Terapêuticas (CTs) são retratadas nas atuais políticas brasileiras sobre drogas e o que representam. É uma pesquisa qualitativa nos seguintes documentos: nova Lei de Drogas; Decreto da nova Política Nacional sobre Drogas; e Portaria da Rede de Atenção Psicossocial. Os resultados apontam para o fomento às CTs assentado em visões moralistas e irreais sobre as drogas e na exigência da abstinência. Utiliza-se de mecanismos retóricos de desvinculação das CTs do seu próprio caráter manicomial, e sem as devidas clarificações e controle. Ademais, aponta-se para a mercantilização e a privatização do cuidado, naturalizando a complementação público-privado. A relevância das CTs se deve ao seu caráter manicomial e, sobretudo, à funcionalidade na manutenção e reprodução do capitalismo no atual estágio de desenvolvimento no Brasil, como expressão do próprio.
COMUNIDADES TERAPÊUTICAS PARA PESSOAS QUE FAZEM USO DE DROGAS: UMA POLÍTICA DE CONFINAMENTO
2017
Resumo Este estudo problematiza o processo terapêutico voltado às pessoas que fazem uso de drogas defendido por uma das maiores redes de comunidades terapêuticas do Brasil. Nas duas primeiras décadas dos anos 2000, as Comunidades Terapêuticas emergem e se expandem como equipamentos que criminalizam, patologizam e cristianizam pessoas que fazem uso de drogas. As Comunidades terapêuticas se caracterizam por práticas de manipulação de corpos e mortificação da vida, pela obrigatoriedade do trabalho, por uma ortopedia no conviver comunitário e pela imposição da espiritualidade como modo de vida. No contexto mais amplo das políticas de saúde mental e atenção psicossocial, as comunidades terapêuticas representam um retrocesso nas práticas derivadas das lutas antimanicomiais e antiproibicionistas. Palavras-chave: Comunidades Terapêuticas; Políticas Sobre Drogas; Promoção da Saúde. Introdução As políticas governamentais sobre drogas, no Brasil, foram sistematicamente construídas sob a perspectiva de "guerra às drogas" que desenhou um modo de intervenção que atravessou a produção, a distribuição e o consumo, com disciplinamento, vigilância e confinamento, principalmente dedicados ao controle de grupos sociais considerados desviantes. Essa proposta contribuiu para solidificar uma perspectiva proibicionista de atenção e cuidado em linha repressiva, na qual o consumo de drogas passa a ser patologizado (o uso é permitido, desde que prescrito por médicos e qualquer uso fora da norma médica é classificada como da ordem de um pretenso transtorno a ser identificado) e penalizado (quem usa drogas consideradas ilícitas é submetido a medidas penais, as quais incluem a obrigatoriedade de frequência e, cada vez mais, 226
Comunidade Terapêutica democrática ou nova racionalização de operação do poder psiquiátrico
Revista Ingesta
Em meio ao crescimento da formação de Comunidades Terapêuticas no Brasil, bem como de pesquisas que procuram compreender sua lógica, ordem, prática e funcionamento, este artigo pretende apresentar um esboço de dois autores e seus ideários, tomando-os como notas de referência sobre os sentidos das CTs contemporâneas. As ideias de Maxwell Jones e Franco Basaglia são apresentadas para refletir sobre como suas trajetórias em diferentes instituições e modelos de psquiatrias acendeu debates que levam em conta os conceitos de democracia e racionalização para a psiquiatria e a emergência das Comunidades Terapêuticas. Uma das críticas postas era a de que especulações teóricas acabariam por transformar as CTs em instituições modernas e racionalizadas e, por conseguinte, integradas ao sistema sem que se eliminassem as relações de poder. A partir de questões como essas, analisamos pontos colocados por ambos. Seja na descentralização do poder da psiquiatria ou na ambiguidade dialética comunitári...
RESUMO O estudo objetivou identificar o perfil dos usuários em tratamento e a condição de envolvimento de álcool e outras drogas bem como a equipe de profissional disponibilizada em comunidades terapêuticas (CT). Trata-se de um estudo qualitativo, descritivo, de natureza exploratória realizado em três instituições. Utilizou-se um Questionário elaborado para identificação do perfil do atendido e dos profissionais das comunidades terapêuticas. Os resultados apontam que não existe um protocolo especifico de ações e que, cada CT, tende-se a agir com sua própria filosofia institucional. A principal droga apontada como eliciadora da internação dos residentes pelas CT corresponde à dependência do uso de Crack e Álcool. Dos profissionais envolvidos na CT, 90,9% buscaram se profissionalizar através de leituras e capacitações. Conclui-se que há necessidade de os profissionais das CT's estudadas ampliarem o conhecimento sobre propostas melhor delineadas de tratamento para os dependentes de álcool e outras drogas. ABSTRACT The objective of this study is to identify the treating user profile and his involving with alcohol and other drug, as well as the professional team available in therapeutic communities. It was a qualitative study of the descriptive type of exploratory nature, carried out in three institutions. A questionnaire was elaborated to identify the profile of the attendee and the professionals of the therapeutic communities (TC). The results indicate that there is no specific actionsprotocol, and that each TC tends to act with its own institutional philosophy. The main drug indicated as hospitalization elicitors of the residents by the TC corresponds to the dependence of the use of crack and alcohol. From professionals involved in the TC, 90.9% pursued to become professional, through readings and training. It is concluded that there is a need of the referred TC professionals to increase knowledge about better-designed treatment proposals for alcohol and other drug dependents.
2023
por permitirem um lugar à minha inquietação sublimada em um projeto de investigação. Sinceros agradecimentos por toda história e dedicação, por toda construção que se desdobra em reconhecimento nacional e internacional. Ao meu orientador Paulo Amarante, que acolheu minha pesquisa com paciência e gentileza. Que tantas vezes brinca dizendo que "é um desorientador", sem saber o quanto sua fala impacta e constrói novos futuros dentro de muitos e em mim. Ligações rápidas que rendem páginas e páginas de anotações. Roteador de citações diretas. Pensa desorientar a mim orientando tantos em tantos lugares. Um desejo da jovem universitária, um privilégio da jovem adulta. Me ensina, sobretudo, que a história vive, e vive por uma construção diária. Ao presente, um persente. E aos presentes, Ensp me deu nesta turma de mestrado. Rodrigo Machado e seu companheirismo voraz. Yasmin com todo seu carinho e sensibilidade, um grato reencontro. João Bezerra e toda a sua finesse, elegância e perspicácia. Nathalia e Priscila, tão distantes geograficamente e tão perto afetivamente. Sem vocês, queridos, essa caminhada não teria a mesma paisagem. Vocês deram sabor a esta experiencia. Ao meu irmão Gabriel, com quem divido a vida. Sem você nada faria sentido. Ao meu irmão Juninho, meu bichinho de goiaba, uma das criaturas mais inteligentes que conheço. Àqueles que aqui estão e aos que já viraram ancestrais. Aos meus pais, com quem apenas fantasiarei o prazer de que pudessem ler esta dissertação. À minha mãe, Angela Márcia, que me ensinou a ser forte e lutar, mesmo quando me sinto fraca. Lutar por independência. Me despertou o amor pela saúde pública, pela saúde coletiva, pela política e ensinou o quanto é importante manter brilho no olhar pelo seu ofício. Ter paixão pelo que faz. Ao meu pai Antônio Carlos, Carlinhos, que me apresentou a filosofia, a literatura, a música, a vida em arte. Tantos tons e melodias. Com um misto de dureza metódica e senso de humor, me presenteou com o hábito de estudar, pesquisar, ter curiosidade por descobrir o que poderia vir a ser a liberdade.
Aspectos Punitivos Do Tratamento Nas Comunidades Terapêuticas: O Uso De Drogas Como Dano Social
Revista Psicologia e Saúde, 2019
Este artigo tem como objetivo discutir o caráter punitivo no tratamento para usuários de drogas em Comunidades Terapêuticas na região Sul do Brasil. Para isso analisamos os projetos terapêuticos dessas instituições que abordam a especificidade do tratamento de usuários de álcool e outras drogas pela vivência prescrita pelos doze passos. Tomando as concepções foucaultianas sobre poder psiquiátrico, disciplina e punição problematizamos o modo como essas instituições fundamentam e estruturam o modelo terapêutico sustentando-se numa lógica proibicionista a partir da moral do trabalho, da família e da religião. Apontamos, assim, as práticas punitivas no tratamento para usuários de drogas como uma biopolítica que compõem a política nacional no que tange aos cuidados de saúde no contexto das Comunidades Terapêuticas.
Comunidade terapêutica na política pública de saúde mental: tensões e divergências
Research, Society and Development, 2020
Duas lógicas de organização e intervenção no campo da saúde mental para pessoas com envolvimento problemático de substâncias psicoativas compõem o cenário brasileiro. De um lado, possuímos políticas públicas articuladas em redes de apoio psicossocial e conectadas com a garantia dos direitos humanos, intervenção social e comunitária e redução de danos, por outro lado, possuímos as comunidades terapêuticas que sustentam suas práticas em um tripé disciplina, espiritualidade e trabalho, regime residencial de assistência e abstenção do uso de drogas. Dessa forma, esse estudo objetiva desenvolver reflexões sobre as tensões e batalhas entre essas duas lógicas. Para isso, utilizamos da pesquisa bibliográfica na qual realizou-se uma descrição sobre a história das comunidades terapêuticas, a sua articulação e regulamentação empregadas no Brasil, como essas se apresentam organizadas e, concomitante, ampliação da sua força política ao conseguirem adentrar no Sistema Único de Saúde (SUS)sendo reconhecidas como um serviço na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). As tensões se apresentam na divergência de direcionamentos das intervenções, nas denúncias e defesas realizadas por ambos os campos, as mudanças empregadas pelo atual governo brasileiro ao financiar e retomar práticas asilares na política de saúde mental. Esses acontecimentos nos fazem problematizar como as conquistas da Reforma Psiquiátrica Brasileira estão sendo atacadas nos exigindo a organização e defesa nesse campo de batalha visando a continuidade de uma luta antimanicomial. Palavras-chave: Comunidade terapêutica; Saúde mental; Política pública; Reforma psiquiátrica.