As discussões historiográficas em torno do Infante Santo (original) (raw)

A morte do Infante e o nascimento do Santo: narrativas sobre a morte em martírio de D. Fernando (1402-1443)

Dossiê "Poder, Representações e Imaginários na Idade Média" (REVISTA MYTHOS), 2023

RESUMO: Este texto tem como objetivo analisar as narrativas sobre a morte de D. Fernando (1402-1443) de Portugal, o Infante Santo, nos discursos cronísticos de Rui de Pina e de Fr. João Álvares, problematizando como a construção da memória sobre a sua morte em martírio se tornou um instrumento de propaganda política da Dinastia de Avis no século XV. https://revistas.uemasul.edu.br/index.php/mythos/issue/view/16

O FUMO DA «SANTA» DISCÓRDIA AS INSTITUIÇÕES MONÁSTICAS E O DESCAMINHO DO TABACO (SÉCULOS XVII E XVIII)

Poder, sociedad, religión y tolerancia en el mundo hispánico, de Fernando el Católico al siglo XVIII, 2018

O contrabando do tabaco, tanto sobre a forma de cultivo, como enquanto género vendido em contravenção com as disposições legais, constituiu um verdadeiro quebra-cabeças para as magistraturas ibéricas ao longo dos séculos XVII e XVIII. O presente texto pretende debruçar-se sobre essa problemática, através de uma sondagem ao grupo mais polémico de inculpados: os eclesiásticos. Que apoios institucionais recebiam? Quais as redes de solidariedade e cumplicidade geradas? Como reagiam os tribunais superiores, as autoridades locais e o oficialato intermédio aos desmandos frequentes? Por fim, de que modo, e em que termos, eram tornadas efetivas, ou matizadas, as decisões das magistraturas em confronto? PALAVRAS CHAVE: Descaminho do tabaco, tribunais régios, congregações religiosas.

A mão do Rei e a férula papal: Gabriel Pereira de Castro, crítico de Francisco Suárez. CLIO: Revista de Pesquisa Histórica, p. 6-23, 2019..

Clio: Revista de Pesquisa Histórica, 2019

No início do século XVII, quando se discutia em toda a Europa os limites das jurisdições eclesiástica e civil, o desembargador Gabriel Pereira de Castro questionou as teses de Francisco Suárez sobre a supremacia do Papa em temas envolvendo bens e pessoas religiosas. Sua crítica principal tratava dos limites da independência dos tribunais da Igreja diante do poder do Rei. O padre Suárez respondeu reafirmando suas teses sobre a autonomia da jurisdição eclesiástica. A controvérsia foi interrompida com a morte do jesuíta em 1617. A análise do debate revela a dimensão portuguesa de uma tensão importante que marcou a formação do Estado Moderno em toda a Europa

CONCEITOS-CHAVE DO DISCURSO HISTORIOGRÁFICO PORTUGUÊS SOBRE A SINTAXE

ESTUDOS DA LÍNGUA PORTUGUESA: A UNIÃO NA DIVERSIDADE, 2019

Quando em 1876 Teófilo Braga advertia contra as “velhas categorias irracionaes de Etymologia, Syntaxe, Prosodia e Orthographia” (1876, p. ix) e propugnava por uma nova orientação de conteúdos gramaticais que haviam de ‘expungir da velha sintaxe a parte figurada, porque pertence exclusivamente à retórica ou teoria do estilo’ (Braga, 1876, p. ix), quando assim escrevia na Grammatica portugueza elementar, fundada sobre o methodo historico-comparativo (1876), dizia-se, o autor da Geração de 70 estava, na verdade, a visar conceitos-chave do discurso historiográfico português (e não só) sobre a sintaxe. São especificamente focados, quer o enquadramento da matéria sintática no conjunto das partes da gramática – donde agora é excluída a ortografia e se atribui à morfologia o estudo sincrónico das formas, ficando a etimologia para a evolução histórica –, quer a organização dos conteúdos da disciplina em matéria de construção figurada, que muito havia ocupado a preceptiva literária do neoclassicismo em reação à estética barroca (cf. Castro, 1973).

ENTRE O ACONTECIMENTO E A MEMÓRIA: DISCURSOS SOBRE O PAPA FRANCISCO EM CAPAS DE REVISTA DE GRANDE CIRCULAÇÃO

This work carries out an analysis of the discourses about Pope Francis on the cover of large circulation magazines, both national and from abroad. Specifically we discuss if the choice of the new Pope may be considered as an event in the terms defined by the French tradition of discourse analysis. The concepts of event and memory are used here side by side, because the event has a relation with the memory. We argument that the meaning effects created about the new Pope is related to its characterization as an event. We also discuss that the media constructs and transforms this event into a spectacle. Other concepts like interpretation, pedagogical discourse and populism are also discussed.

O DEBATE HISTORIOGRÁFICO ACERCA DA IDEIA DA "PROSTITUIÇÃO SAGRADA" NO ANTIGO CRESCENTE FÉRTIL

Resumo: Neste artigo pretende-se discutir a construção da ideia de "prostituição sagrada" no Antigo Crescente Fértil, no período entre o terceiro e primeiro milênio a.C., a partir da análise feita por diferentes autores do século XIX, XX e início do século XXI acerca deste tema. Serão apresentadas as contribuições dos trabalhos desenvolvidos por cada autor para o tema discutido, assim como suas fontes, e por fim será analisado como o contexto histórico desses autores têm reflexos sobre a leitura e interpretação de suas fontes bem como sobre o desenvolvimento de sua obra, contribuindo assim para a construção da ideia que cada autor desenvolve.

DIOCESES, BISPOS E TERRITORIALIZAÇÃO DO PODER NO REINO SUEVO: UM DEBATE HISTORIOGRÁFICO ACERCA DO PAROCHIALE SUEVUM

O reino suevo foi convertido ao cristianismo em meados do século VI. Analisando a produção escrita desta época, observamos um esforço de cristianização e o estabelecimento de um vínculo entre clero e monarquia. Posicionados na região da Galiza, os suevos promoveram uma organização religiosa, normativa e territorial junto à hierarquia eclesiástica, o que podemos observar, dentre outros documentos, pela lista de sedes e paróquias intitulada Parochiale Suevum. Provavelmente escrita entre 572 e 582, tal lista fornece dados sobre o crescimento/reordenação de dioceses e a formação de um quadro administrativo para o reino e para a hierarquia eclesiástica. Debatida por sua autenticidade e lida, geralmente, em comparação às organizações imperiais anteriores e/ou visigóticas posteriores, acreditamos que a fonte ainda careça de atenção que privilegie aspectos das demandas locais Portanto, abordamos e contrapomos, nesta comunicação, os debates historiográficos realizados acerca do Parochiale, objetivando investigar tendências e possíveis lacunas de análise, bem como propor questões para sua leitura.

CONSIDERAÇÕES SOBRE O DEBATE HISTORIOGRÁFICO ACERCA DO PODER ECLESIÁSTICO NO REINO DE TOLEDO (IV-VII)

Ensinar e Aprender Idade Média, 2021

Esta comunicação é fruto de reflexões preliminares acerca da revisão das relações estabelecidas entre a Igreja e a aristocracia no contexto do Regnum de Toledo. A opção por tal estudo se dá por que tal dinâmica se insere no âmbito dos elementos de caracterização da aristocracia visigoda. A instituição religiosa que se apresenta no contexto supracitado seria composta, portanto, por facções da mesma classe aristocrática. As relações entre aristocratas laicos e religiosos, para além das questões metafisicas, estão ancorados, em grade medida, em relações concretas, que impactam nas relações de produção e nas forças produtivas. Assim, deve se ter em vista que a distribuição de riquezas, direitos e privilégios entre os aristocratas religiosos e laicos na sociedade visigoda tem por meta a sedimentação, reforço e reprodução do poder entre os membros desta classe dominante. Por fim, se deve considerar que esta comunicação, por ter como premissa teórica o materialismo histórico, busca uma compreensão geral da classe aristocrática visigoda segundo seu lugar nas relações de produção. O que implica em considerar que as formas de dominação e apropriação do excedente das classes exploradas estão condicionadas às conjunturas históricas em que aquelas se estabelecem. E ainda que no caso do reino visigodo aqui analisado tais modalidades de domínio se impõe, de forma equivalente, tanto pelos os bispos, quanto os leigos aristocratas.

História e historiografia: debates e reflexões acerca da datação da Vita Sancti Theotonii

Portugal, formou-se uma sociedade de poetas que permaneceu durante o reinado dos dois 7 Esse ambiente de segurança nem sempre existiu em Portugal. Afonso assume o lugar do irmão, Sancho II (1223-1245), considerado pelo Papa incapaz para governar. Afonso assume, em 1245, como governador e defensor do reino com a missão de tirá-lo do caos em que se encontrava. Em 1248 Sancho morre deixando o próprio Afonso como herdeiro. Este, então como rei, desenvolve uma política centralizadora, através da qual promulgou forais, estabeleceu uma melhor organização das cobranças de direitos pelos mordomos, criou o cargo de meirinhomor, ou seja, instituiu um aparelho burocrático no qual sustentava sua monarquia centralizada. Afonso mantinha em sua corte três jograis assalariados e, como em outras cortes, tinha o costume de receber os que vinham de fora. A influência externa também pode ser compreendida a partir da relação com a corte do rei sábio de Castela, Afonso X (1252-1284), seu sogro e ele mesmo trovador, na qual os poetas portugueses poderiam encontrar poetas provençais, galegos e italianos. A experiência trovadoresca na corte afonsina perpassava também pelo contexto da centralização, uma vez que, ao estabelecer sua corte como um ambiente cultural, no qual as pessoas cantam suas mazelas sentimentais e políticas, o rei faz a mediação entre os diferentes indivíduos, torna-se ciente dos descontentamentos de sua nobreza que é mantida por perto, entretida e dentro de um espaço em que se incute um modelo de conduta a ser seguido. Dessa forma, o ambiente trovadoresco torna-se um ambiente estratégico do poder monárquico que pode controlar as violências simbólicas. 8 Percebe-se, portanto, as diferenças de contexto em que os trovadorismos se desenvolvem. Neste período, na França do sul, o trovadorismo se dispersa, enquanto que na Península Ibérica se desenvolve um aparato para a sua sustentação tanto pelo viés cultural 7 LANG, Henry R. 9 LANG, Henry R. Op. Cit., p. 89. 10 Referência ao termo utilizado pelo movimento modernista literário brasileiro. O movimento modernista situase no início do século XX e incluía os nomes de: Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Manuel Bandeira na literatura; Villa-Lobos na música; Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti na pintura, entre outros. O chamado Manifesto de Antropofagia foi inspirado em um quadro pintado por Tarsila do Amaral, o Abapuru (aba: homem, poru: que come). Oswald de Andrade relacionou o sentido antropofágico da obra com a criação literária brasileira, muito dependente da produção estrangeira que deveria ser apreendida, mas como instrumento para uma criação nacional, pautada nos elementos característicos da cultura brasileira. 19 YALOM, Marilyn. Como os franceses inventaram o amor. Nove séculos de romance e paixão. Rio de Janeiro: Prumo, 2013. 20 GAMBOA, Márcia. Dom Dinis e a retórica da saudade. In: MEGALE, Heitor; OSAKABE, Haquira (Org.). Textos medievais portugueses e suas fontes. Em 2013 foi publicada na Itália a Enciclopédia Constantiniana, uma grande obra que conta com três volumes escrita por estudiosos de vários países para comemorar os 1700 anos do Edito de Milão. A apresentação elaborada pelo político italiano e presidente da Enciclopédia Italiana, Giuliano Amato, aponta para a importância da figura do imperador Constantino ao longo da história ocidental, e também oriental (dada sua atuação no depois chamado Império Bizantino), chegando até o século 21 através de um legado que atingiu as esferas política, administrativa, artística e religiosa. Esta última possui alta expressão no trabalho, como fica evidente ao intitular uma parte da obra em Seguindo a estreita relação entre política e religião característica do período tardo-antigo, interessa-nos aqui sobretudo a atuação de Constantino entre os anos de 312 e 324. Esse recorte dentro do momento maior de seu governo (306-337) justifica-se pela atenção especial que recebe do contemporâneo autor cristão Eusébio de Cesareia, na obra História Eclesiástica. Constantino é aclamado Augustus pelos legionários de seu pai (Constâncio Cloro) em 306 na Britania, porém o ato foi considerado usurpação, já que o Augustus Galério proclamava o César Severo com o título também de Augustus; sendo assim, Constantino permanece somente como César e recebe o título de Augustus posteriormente pelo reconhecimento de Maximiano. No entanto, o seu poder se torna realmente efetivo quando ascende à posição de único governante do mundo romano. Isso ocorre após vencer Maxêncio em 312 na batalha da ponte Mílvio, e finalmente, ao derrotar Licínio no ano de 324 na batalha de Crisópolis. imperator todas as formas alcançá-la e mantê-la, afinal ainda ressoavam os ecos da profunda instabilidade político-imperatores ficavam pouquíssimo tempo no poder e não havia unidade política. socioeconômica, política e cultural. Vitória: Edufes, 2006. p.193-221. 2 Estudada por Ana Teresa Marques Gonçalves, em Os severos e a anarquia militar. In: SILVA, Gilvan Ventura da, MENDES, Norma Musco (Org.). Repensando o Império Romano Perspectiva socioeconômica, política e cultural. Vitória: Edufes, 2006. p.175-191. 3 Ibidem. p. 197. 4 SILVA, Gilvan Ventura da, MENDES, Norma Musco. A relação Estado/Igreja no Império Romano -séculos III e IV. In: SILVA, Gilvan Ventura da, MENDES, Norma Musco (Org.). Repensando o Império Romano Perspectiva socioeconômica, política e cultural. Vitória: Edufes, 2006. p. 241-266. Cristina Godoy e Josep Vilella 8 mencionam que com a Paz da Igreja e o advento de Constantino, a relação entre a Igreja e o Estado mudou radicalmente. A filosofia eclesiástica lhe outorgou a missão de promover o bem-estar espiritual e temporal dos homens dentro do Império; e responsável por isso foi a composição da teologia política do cristianismo de Eusébio de Cesareia. Conectando o Reino de Deus ao Império-Cristão, Constantino poderia legitimar seu poder em uma origem divino-cristã, que daria certa divindade a sua pessoa e asseguraria poder absoluto, já que o monoteísmo comportaria a monarquia -Notamos o exposto quando Eusébio enfatiza a autoridade do imperador como recebida Augusto pelos soldados e ainda bem antes deles, pelo próprio Deus, o Rei supremo, mostrou-9 A respeito da assimilação do cristianismo ao governo imperial sob Constantino, o autor Paul Veyne 10 aponta a ideia de que o Ocidente foi progressivamente cristianizado a partir do papel decisivo do governante em suas ações políticas, já que tinha consciência plena de sua função na História: a de um verdadeiro Salvador da humanidade, eleito por Deus: Constantino converteu-se porque acreditou em Deus e na Redenção, foi esse o seu ponto de partida, e esta fé implicava aos seus olhos que a Providência preparava a humanidade para o caminho da salvação [...]; e que, por conseguinte, Deus daria a vitória ao seu campeão ou, melhor, como escreverá de forma mais humilde, ao servo que ele escolhera. 11