Poder demótico ao povo: o triunfo do dimotiki, o triunfo de Medeia (original) (raw)

Políticas hostis com o bárbaro: o caso de Medeia

Phoînix, 2018

Neste artigo objetivamos analisar a vulnerabilidade do estrangeiro, com base na obra euripidiana Medeia. Assim, discutimos também a noção de etnicidade helênica e o ethos da heroína Medeia, que rompe com o modelo esperado para a mulher ideal na Grécia clássica. Apesar das versões para o mito dessa personagem, a tragédia euripidiana é a responsável por consolidar na literatura o infanticídio como vingança contra o ex-marido Jasão. Ela, que deixara sua pátria para segui-lo, foi abandonada com os filhos e estava sem família e amigos em uma terra estrangeira.

Desprezo e Desonra: a Ira de Medeia

Codex- Revista de Estudos Clássicos, 2023

A ira (ὀργή, orgé), segundo Aristóteles, pressupõe um desejo de vingança explícita, devido a alguma desonra sofrida e só pode existir onde a vingança for possível. O sentimento da ira requer poder e parece inadequado ao feminino, geralmente retratado como impotente na Grécia antiga. Não é o caso de Medeia que, repleta de ira, perpetra terrível vingança contra seu marido, Jasão, que a desonrou. Das tragédias áticas sobreviventes, Medeia é a que possui maior número de ocorrências dos termos orgé e khólos (χόλος), ambos com significados semelhantes, indicando ira, cólera. Medeia pode deixar irromper esses sentimentos por ser poderosa e não meramente humana.

Dimensão política de Eurípides, Medeia

Medeia representa a mais antiga das peças euripidianas em que o panegírico de Atenas como espaço de harmonia e espelho de valores gregos está presente. Tendo em conta o horizonte histórico da sua representação -o início da Guerra do Peloponeso e uma das suas causas próximas, os confrontos bélicos com Corinto -o contraste Creonte/Egeu confere a esse panegírico uma natureza publicitária. Nesse horizonte sobressai a crítica euripidiana ao comportamento ético grego, na figura de Jasão, que transgride juramentos, pactos de fidelidade, confirmados pelo apertar da mão direita e consubstanciados no leito, espaço de geração dos filhos, bem como transgride a reciprocidade de philia, que é base das relações sociais e no oikos. Por isso Medeia, a bárbara que se esforçou primeiro por se aculturar, radicaliza o seu sentimento de não pertença à Hélade. Eurípides equaciona já aqui a subversão do binómio Grego/Bárbaro.

AS MANIFESTACOES DEMONIACAS NA TRILOGIA DA MALDICAO

This article aims to present an analysis of the aspects that characterize the curse, demonic manifestations and the language used to construct the fictional space in the Trilogia da Maldição(1999) by Cearense writer José Alcides Pinto. This is a bibliographical and qualitative research based on studies of

DEMOCRACIA E A CRISE DA PANDEMIA: de topoi à distopia

UFSCar/CPOI, 2020

A pesquisa objetiva analisar de forma dialética e indutiva alguns elementos do conceito de democracia à luz de literatura crítica e, pontilhando o estudo com aspectos normativos e da realidade, reconhecer a insuficiência – mesmo enquanto teoria – do que se pode considerar um tópos contemporâneo. Contribuindo na explicação de fenômenos aflitivos da humanidade e que se acentuam dramaticamente nos dias presentes, o artigo fornece elementos para o debate do paradigma que tem servido como justificativa para a organização do modo de vida da sociedade ao longo da História.

O JESUÍTA ANÔNIMO E A PARÓDIA DEMONÍACA

RESUMO: Nesse estudo trabalhamos com a diferença de interpretação histórica e literária e sua importância na análise de crônicas dos séculos XVI e XVII sobre a história da conquista e colonização do antigo vice-reinado do Peru, procurando entender o imaginário demonológico dos espanhóis que participaram e descreveram esse encontro cultural. Para proporcionar uma melhor compreensão do tema, analisamos parcialmente a crônica do Jesuíta Anônimo através de uma leitura isotópica mostrando como este cronista fez alusão à participação de forças diabólicas em atividades contrárias à catequese com o intuito de persuadir o leitor a crer na benevolência e superioridade da Companhia de Jesus no processo de evangelização dos povos andinos. Essa obra exemplifica o encontro de imaginários, em que realidade e ficção se mesclaram para enaltecer as atividades jesuíticas. PALAVRAS-CHAVE: Crônica; demonologia; evangelização; análise isotópica.

Medeia, a deusa solar

Ainda que o mito de Medeia fosse contado em diversos textos gregos, dos que nos chegaram, são essencialmente dois os que se centram na figura da feiticeira da Cólquida: a tragédia Medeia, de Eurípides, e o poema Argonáutica, de Apolónio de Rodes. Tendo em conta a antiguidade do mito, estes são, evidentemente, textos recentes (séculos V e III a.c.) e, portanto, já razoavelmente depurados e elaborados. Vestígios de alusões ao antigo mitema, porém, podem ser encontrados em outros autores, como Hesíodo, Mimnermo, Píndaro, Íbico,

Medeia, a deusa solar. Releitura de uma velha problemática

2008

Desde os primórdios civilizacionais que o Homem sentiu a sua dependência vital desse ciclo de trevas e de luz que ilumina o mundo e faz brotar a vida, na Natureza. O tempo de trevas-tempo de inacção e de repouso-foi percebido como reino do sono e da proximidade da morte. O curso total do dia transportava para essa ausência da luz a expectativa de que o Sol, desaparecido no horizonte, a Ocidente, quiçá mergulhado no mar, garantisse uma nova aurora, reaparecendo, no seu carro, para dar início a outro dia, a Oriente. Esse Oriente significava esperança de um ciclo confirmado, de que a ordem do mundo e da vida fossem, diariamente, confirmados. Essa luz., dimanada do Sol, constituindo um meio universal de representação, abre ao homem a noção de espaço, ilumina mundo e cria laços relacionais entre quem à luz vê e aquele que à luz é visto. Este era o fulcro vital da experiência de existir, de estar vivo, para o Grego antigo. Viver e ver a luz do Sol eram sinónimos. Ver a luz do Sol implicava a reciprocidade, ilimitada, por parte do astro-deus, fonte de vida, senhor e princípio de tudo, para algumas religiões da bacia oriental do Mediterrâneo, não esquecendo a reforma da religião egípcia de Aquenaton, fugaz, mas que deixaria as marcas do seu monoteísmo. O culto de Mitra será apropriado por Roma e assimilado às suas práticas cultuais. Viver e ver a luz do Sol viabilizava, conscientemente, "ver à luz do Sol" o que se deixava ver e era marcado pelo brilho solar-a beleza e a harmonia refulgiam a essa luz, na sua dimensão estética mas também ética, pois o que é harmónico, para o Grego, é belo e bem constituído-logo, bom. Ao olho do Sol nada escapava; dele não podia o Homem esconder as suas acções. Omnividente, era invocado na fórmula dos juramentos gregos. É compreensível que esta omnividência e a força poderosa de gerar vida e manter vida o fizessem coincidir com outras divindades poderosas, o viessem, mais tarde, em Roma, por influência oriental, ou na Europa cristianizada, a converter em símbolo do próprio poder, estilizado na arte religiosa cristã. O poder régio

Medeia: alegorias da resistência em Antônio José da Silva e Pier Paolo Pasolini

Quando iniciamos uma trajetória, cujo caminho é longo, árduo e cheio de surpresas, não imaginamos quantas vezes precisaremos de ajuda. Embora a escrita e a pesquisa sejam, na maior parte do tempo, solitárias, o fardo da caminhada e de suas agruras são compartilhados, mesmo por um desabafo ou um breve abraço. Especialmente no período do doutoramento, os desafios se mostraram ainda mais intensos, requerendo força e ânimo para completar o que havíamos proposto para sua feitura. Assim, faz-se necessário agradecermos: À Professora Doutora Kênia, minha professora e orientadora, pelo generoso acompanhamento durante a pesquisa. Além de me ajudar a tecer os fios que ligaram Medeias tão distintas em temporalidades e tão próximas em sentidos e resistências. Aos professores do Programa de Doutorado em Estudos Literários da Universidade Federal de Uberlândia, pelas brilhantes disciplinas oferecidas. Serei sempre orgulhoso de tê-los como mestres. Aos professores Dr. Antônio Fernandes Júnior e Dr. Ivan Marcos Ribeiro, pelas valiosas colaborações durante o exame de qualificação, pois me fizeram enxergar melhor meu texto e os meus objetivos. Antecipo agradecimentos, também, aos professores presentes na defesa desta tese, pela disponibilidade e pelas contribuições. Às amigas de Catalão, companheiras no Doutorado em Estudos Literários: Wanély, por compartilharmos o desejo de concluir a rota, encerrando um ciclo, mesmo diante de tantos percalços e trabalhos. Ionice, pela constante disponibilidade em nos ajudar e nos lembrar de cada data, prazo, com carinho e cuidado. Sem vocês, com certeza, a caminhada seria sem cor e mais difícil.