A esquerda e a ecologia do rancor (original) (raw)
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A esquerda vive momento complicado. Parte patina perante um governo que mais lhe parece um pesadelo, uma vez que se vê na obrigação de apoiá-lo, ainda que criticamente, enquanto para outros se confirma a necessidade de oposição. Novas linhas de força se delineiam. O nevoeiro é forte, mas cumpre tentar se nortear nele.
Agenda ecológica: o dualismo esquerda-direita e a clivagem ambiental na esquerda
RELACult -Revista Latino-Americana de Estudos em Cultura e Sociedade, 2019
O advento das questões pós-materialistas foi um dos principais fatores que colocou em debate a validade dos conceitos esquerda e direita como sistema classificatório de posicionamentos políticos. Desse modo, a dicotomia esquerda-direita segue fazendo sentido no contexto das discussões ambientais contemporâneas? Através de pesquisa bibliográfica, verifica-se que sim, pois as visões de mundo têm forte impacto sobre a crença ou o ceticismo em relação ao consenso científico acerca da crise ambiental, e tanto cidadãos como partidos de esquerda têm maior abertura à causa ecológica. Não obstante, nota-se a existência de visões substancialmente diferentes em relação à temática ambiental no interior do espectro político da esquerda. Essa diferença, que denominamos clivagem ambiental na esquerda, se dá a partir de entendimentos antagônicos sobre o conceito de desenvolvimento: parte da esquerda defende um desenvolvimento alternativo, apostando no crescimento econômico e no papel do Estado como indutor da economia, e parte entende que o desenvolvimento é um dos dispositivos-chave do capitalismo e incompatível com o combate à pobreza e com a preservação ambiental. RESUMEN El advenimiento de las cuestiones post-materialistas ha sido uno de los factores principales que han puesto en discusión la validez de los conceptos izquierda y derecha como un sistema de clasificación de posiciones políticas. De esta manera, ¿la dicotomía izquierda-derecha sigue teniendo sentido en el contexto de las discusiones ambientales contemporáneas? A través de la investigación bibliográfica, se verifica que sí, porque las visiones del mundo tienen un fuerte impacto en las creencias o el escepticismo con respecto al consenso científico sobre la crisis ambiental, y tanto los ciudadanos como los partidos de izquierda tienen una mayor apertura a la causa ecológica. Sin embargo, se puede observar la existencia de puntos de vista muy diferentes en relación con el tema ambiental dentro del espectro político de la izquierda. Esta diferencia, que llamamos clivaje ambiental en la izquierda, se basa en entendimientos antagónicos sobre el concepto de desarrollo: parte de la izquierda aboga por un desarrollo alternativo, apostando por el crecimiento económico y el papel del Estado como inductor de la economía, y parte entiende que el desarrollo es uno de los dispositivos clave del capitalismo e incompatible con el combate a la pobreza y con la preservación del medio ambiente. ABSTRACT The advent of post-materialist questions was one of the main factors that evidenced the debate on the validity of the concepts of left and right as a classification system of political positions. In this way, does the left-right dichotomy continue to make sense in the context of contemporary environmental discussions? Through bibliographic research, this study verified that yes, since world views have a strong impact on belief or skepticism regarding the scientific consensus on the environmental crisis, and both citizens and leftist parties have greater openness to the ecological cause. Nonetheless, results also indicated the existence of visions that are substantially different in relation to the environmental theme within the political spectrum of the left. This difference, which is this study is called environmental cleavage on the left, is based on antagonistic understandings about the concept of development: part of the left advocates an alternative development, betting on economic growth and on the role of the State as an promoter of economy, and other part understands that development is one of the key devices of capitalism and, therefore, is incompatible with the fight against poverty and the environmental preservation.
A miséria do apoliticismo e as raízes de esquerda do anarquismo
Resumo: À partir de um debate histórico e analítico, o pesquisador busca demonstrar as raízes de esquerda do anarquismo, retomando episódios como a Revolução Francesa e sua influência iluminista na ideologia libertária, o processo histórico de constituição da AIT, as diferentes ondas históricas do anarquismo e os processos revolucionários em que este esteve envolvido. Amparado em discussões da ciência política, o pesquisador demonstra a localização política do anarquismo e analisa a influência neoliberal na perspectiva que nega tal posicionamento.
Agonia das esquerdas e a atuaçao do Boal na contracultura
Samon Noyama e Gustavo Delaqua (org), Boal e a filosofia. Curitiba, editora CRV, 2023
Muitos estudos recentes ou recentemente republicados, para ocasião do cinquentenário de Maio de 68, convidam a historiografia brasileira a repensar as relações entre fatos ocorridos no Brasil na virada da década de 1960 para 1970 e sua fixação na memória histórica da dita “contra cultura” nacional e internacional. Neste ensaio, vou me ater ao campo da historiografia do teatro, embora considerando o impacto político de qualquer fato artístico, especialmente teatral por acontecer em dimensão pública; e vou tratar de fatos ocorridos em território brasileiro e fora dele, seguindo as rotas do exílio ao qual alguns artistas foram forçados. Entre estes, especialmente Augusto Boal. O recorte proposto (1968-72) serve ao propósito de ressaltar, no contexto amplo dos movimentos produtores de um pensamento contra cultural, a forma singular com que artistas e intelectuais de diversas nacionalidades conseguiram articular no Brasil, naqueles poucos anos, um debate consistente acerca de quais práticas experimentais poderiam resistir à onda cultural conservadora que vinha sendo defendida, com modos repressivos, pelo regime militar recém-instalado no governo do país. A singularidade deste debate se dá justamente pelo fato de que a fase mais vibrante da rebelião juvenil pós-68 se deu, no Brasil, em plena ditadura.