XIII Reunião de Antropologia do Mercosul ZICUNATÍ X FOOTBALL: a peleja por um esporte de identidade nacional no brasil de 1922 1 (original) (raw)

Resumo: O ano é o de 1922 e o Brasil organiza as comemorações do primeiro centenário de sua independência de Portugal. Nessa época, apesar de os Clubes de Futebol existirem há quase três décadas e sua prática ter conquistado grande apelo popular, havia uma corrente de intelectuais, escritores e jornalistas que ainda consideravam o Football como um invasor. Ao mesmo tempo, almejava-se uma prática que representasse o país no que lhe cabia uma maior originalidade: as práticas de algum jogo indígena seriam então ideais. Assim, o Zicunati dos índios Paresi Haliti do Mato Grosso, descrito anos antes pelo então Coronel Rondon (1906) e propalado como Headball por Teodore Roosevelt (1914-15) em sua excursão pelo Brasil, fora o escolhido para exemplificar o esporte de identidade genuinamente nacional. Vários jornais e revistas da época se dividiram entre apoiar ou rejeitar uma possível popularidade do Zicunatí. Com vários percalços a serem vencidos para sua demonstração, a organização das comemorações de 1922 finalmente conseguiu exibir o Zicunatí na então capital federal no lotado Estádio das Laranjeiras no final daquele ano. Essa apresentação conseguiu encantar mesmo entre os seus mais críticos e sua prática conseguiu alguma eficácia nas praias e clubes cariocas até o início da segunda guerra, quando some definitivamente das páginas dos jornais da capital. * * * * * A república brasileira, nascida do complexo e profundo desdobramento da camada primeira revolução industrial, tivera no saneamento do país a possibilidade de sua inserção no conjunto das nações modernas. Na trama da modernidade, o Rio de Janeiro, capital da República, fora o grande palco para mostrar ao mundo civilizado as transformações pelas quais o país havia passado desde o fim do regime monárquico. Tornar visível tais práticas, sobretudo na capital da República, credenciaria o país ao rol da seletas nações modernas. Buscando uma verdadeira ruptura com a historicidade de seu passado e, em meio a obsessão em negar a si mesmo, o regime republicano transformará drásticamente o modo de vida dos habitantes daquela capital. Hábitos e costumes, novos ritmos de vida e de trabalho figuram uma nova cotidianeidade naquele espaço urbano desde a instalação do