O papel de processos relacionados com a regulação emocional e da vergonha associada à doença crónica nos sintomas de depressão, ansiedade e stress de pessoas com doença celíaca (original) (raw)
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Revista Portuguesa de Investigação Comportamental e Social, 2020
Objetivo: O presente estudo, de carácter exploratório, teve como principal objetivo examinar o papel preditor de processos relacionados com a regulação emocional (fusão cognitiva, evitamento experiencial, autocompaixão e autojulgamento) e da vergonha associada à doença nos sintomas psicopatológicos de depressão, ansiedade e stress em pacientes com diagnóstico de doença celíaca. Método: Através de uma associação de pacientes, foram recrutados 67 sujeitos com diagnóstico de doença celíaca autorreportado, os quais completaram online um questionário sociodemográfico e clínico e um conjunto de instrumentos de autorresposta, mais precisamente as Escalas de Ansiedade, Depressão e Stress – 21 (EADS-21), o Cognitive Fusion Questionnaire – Chronic Illness (CFQ-CI), o Acceptance and Action Questionnaire-II (AAQ-II), a Self-Compassion Scale (SCS), e a Chronic Illness-related Shame Scale (CISS). O papel mediador dos processos relacionados com a regulação emocional e da vergonha associada à doença crónica foi analisado através do cálculo de regressões lineares múltiplas hierárquicas. Resultados: O índice compósito de autojulgamento (autocriticismo, isolamento e sobreidentificação) revelou-se como o único preditor significativo dos sintomas de depressão, ansiedade e stress em pessoas com doença celíaca. Conclusões: Nas intervenções psicológicas dirigidas a pacientes com doença celíaca a avaliação e integração do autojulgamento enquanto processo de regulação emocional poderá ser relevante para a obtenção de ganhos terapêuticos no que se refere aos sintomas emocionais negativos de depressão, ansiedade e stress. | Aim: The present study, of exploratory nature, had as its main objective to examine the predictive role of emotion regulation-related processes (cognitive fusion, experiential avoidance, self-compassion, and self-judgment) and disease-associated shame in the psychopathological symptoms of depression, anxiety, and stress in patients diagnosed with celiac disease. Method: Through a patient association, 67 subjects with a self-reported diagnosis of celiac disease were recruited, who completed online a sociodemographic and clinical questionnaire and a set of self-report instruments, more precisely the Anxiety, Depression and Stress Scales-21 (EADS-21), the Cognitive Fusion Questionnaire - Chronic Illness (CFQ-CI), the Acceptance and Action Questionnaire-II (AAQ-II), the Self-Compassion Scale (SCS), and the Chronic Illness-related Shame Scale (CISS). The mediating role of emotion regulation-related processes and shame associated with chronic illness was analyzed by calculating hierarchical multiple linear regressions. Results: The composite index of self-judgment (self-criticism, isolation and overidentification) proved to be the only significant predictor of symptoms of depression, anxiety and stress in people with celiac disease. Conclusions: In psychological interventions for patients with celiac disease, the assessment and integration of self-judgment as a process of emotional regulation may be relevant for therapeutic gains regarding the negative emotional symptoms of depression, anxiety, and stress.
Psychologia, 2022
O presente trabalho pretendeu examinar a existência de associações entre variáveis sociodemográficas e clínicas, vergonha relacionada com a doença crónica, processos de regulação emocional (fusão cognitiva, evitamento experiencial, autocompaixão e autojulgamento) e sintomas de depressão, ansiedade e stresse em pessoas com psoríase. Participaram 148 indivíduos (112 mulheres e 36 homens) recrutados através da Associação Portuguesa da Psoríase. Os participantes completaram online medidas de sintomas emocionais negativos (depressão, ansiedade e stresse), vergonha relacionada com a doença crónica, fusão cognitiva relacionada com a doença crónica, evitamento experiencial, autocompaixão e autojulgamento. Realizaram-se análises de regressão hierárquica em três passos com os sintomas de depressão, ansiedade e stresse como variáveis dependentes. O evitamento experiencial, o autojulgamento e os anos de escolaridade mostraram-se associados com os sintomas de depressão, ansiedade e stresse. A vergonha relacionada com a doença crónica revelou-se associada com os sintomas depressivos. Os processos de regulação emocional e a vergonha devem ser considerados no trabalho clínico com pessoas com psoríase. Os programas baseados no Mindfulness, a Terapia da Aceitação e Compromisso e a Terapia
Revista Portuguesa de Investigação Comportamental e Social, 2019
Objetivo: O presente estudo teve como objetivo testar o potencial efeito mediador da autocompaixão e da ação comprometida na relação entre vergonha e sintomatologia depressiva, em pessoas sem e com diagnóstico de doença física crónica. Adicionalmente, foram exploradas as diferenças em relação a essas variáveis entre os dois grupos. Método: A amostra foi constituída por 453 participantes (223 com e 230 sem diagnóstico de doença física crónica), os quais responderam numa plataforma online a um protocolo de medidas de autorrelato de vergonha, autocompaixão, ação comprometida e sintomas depressivos. Resultados: Os participantes com diagnóstico de doença crónica apresentaram níveis significativamente (p < 0,05) superiores de vergonha e sintomatologia depressiva, e níveis inferiores de ação comprometida, comparativamente aos participantes sem doença física crónica. Contudo, não foram encontradas diferenças significativas entre os dois grupos relativamente às competências autocompassivas. As análises de correlação revelaram que a vergonha se associa negativamente à autocompaixão e ação comprometida e positivamente á sintomatologia depressiva, tanto no grupo sem como no grupo com diagnóstico de doença física crónica. Os resultados da path analysis indicaram que sentimentos de vergonha têm um impacto significativo, explicando 41% da variância da sintomatologia depressiva, parcialmente via menores níveis de autocompaixão e de ação comprometida. Os resultados da análise multigrupos demonstraram que o modelo testado é plausível nos dois grupos em estudo. Conclusões: Este estudo parece fornecer importantes contributos para a compreensão do impacto protetor das competências autocompassivas e da adoção de ações comprometidas para a saúde mental, tanto para pessoas sem como com diagnóstico de doença física crónica. De facto, os resultados sugerem que estes processos de regulação emocional são importantes mecanismos mediadores da relação entre vergonha e sintomas depressivos. Finalmente, estes dados parecem suportar o desenvolvimento de abordagens mais eficazes para a promoção da saúde psicológica para pessoas sem e com doença crónica. | Objective: The present study aimed to test the potential mediating effect of self-compassion and committed action on the relationship between shame and depressive symptomatology, in people without and with a diagnosis of chronic physical illness. Additionally, the differences in relation to these variables between the two groups were explored. Method: The sample consisted of 453 participants (223 with and 230 without a diagnosis of chronic physical illness), who responded on an online platform to a protocol of self-report measures of shame, self-compassion, committed action, and depressive symptoms. Results: Participants with a diagnosis of chronic illness had significantly (p < 0.05) higher levels of shame and depressive symptomatology, and lower levels of committed action, compared to participants without chronic physical illness. However, no significant differences were found between the two groups regarding self-compassionate skills. Correlation analyses revealed that shame was negatively associated with self-compassion and committed action and positively associated with depressive symptomatology in both the group without and the group diagnosed with chronic physical illness. The results of path analysis indicated that feelings of shame have a significant impact, explaining 41% of the variance in depressive symptomatology, partially via lower levels of self-compassion and committed action. The results of the multi-group analysis showed that the tested model is plausible in both study groups. Conclusions: This study seems to provide important contributions to the understanding of the protective impact of self-compassionate skills and committed action on mental health for people both without and with a diagnosis of chronic physical illness. Indeed, the results suggest that these emotion regulation processes are important mediating mechanisms of the relationship between shame and depressive symptoms. Finally, these data appear to support the development of more effective approaches to psychological health promotion for people without and with chronic illness.
Processos de Regulação Emocional em Pessoas com o Diagnóstico de Doença Celíaca
2019
A Doença Celíaca (DC) é uma condição crónica e autoimune. Quando um doente celíaco ingere glúten, o corpo reage atacando o intestino delgado. O presente estudo teve como objetivos abordar variáveis psicológicas como a sintomatologia depressiva, ansiosa e de stress, a qualidade de vida física, psicológica, das relações sociais e a vergonha associada à doença crónica, explorando o papel preditor de processos de regulação emocional como o evitamento experiencial, a fusão cognitiva, a autocompaixão e o autojulgamento em indivíduos com DC. Participaram neste estudo 67 sujeitos com diagnóstico de DC autorreportado, recrutados através de uma associação de pacientes, tendo completado online um questionário sociodemográfico e clínico e os seguintes instrumentos de autorresposta: World Health Organization Quality of Life (Whoqol-Bref), Escalas de Ansiedade, Depressão e Stress – 21 (EADS-21), Self-Compassion Scale (SCS), Cognitive Fusion Questionnaire - Chronic Illness (CFQ-CI), Acceptance and...
Vergonha e solidão na doença mental crónica. Contributo de um estudo exploratório
Agradecimentos À Doutora Marina Cunha, sob orientação elaborei esta dissertação de mestrado. Gostava de sublinhar aqui a sua constante disponibilidade, atenção, encorajamento, sugestões e críticas sempre claras e positivas, a sua forma paciente de lidar com a nossa inexperiência e por fim, a sua ajuda imprescindível em termos teóricos e práticos. Às técnicas da Fundação ADFP, onde se efectuou a colheita de dados, Dr.ª Patrícia Fernandes e Dr.ª Sílvia Pinto, pelo incentivo e disponibilidade e por terem abraçado este estudo. A todos os utentes que participaram neste estudo, pela forma como aceitaram partilhar os seus sentimentos e emoções. Aos meus pais, pelo amor e apoio incondicional, Ao meu irmão, Flávio pela amizade e companheirismo, Ao meu namorado, Filipe pelas palavras de encorajamento, carinho e apoio incondicional, A toda a minha família, em especial aos meus avós por todo o carinho, À Alexandra e à Vânia pela presença e amizade, pelo estímulo e partilha ao longo deste percurso. Finalmente, o meu agradecimento a todos os que de forma directa ou indirecta me apoiaram em todos os momentos deste percurso. Resumo Este estudo pretende explorar a natureza da vergonha, enquanto vivência emocional, e a sua relação com a solidão nos doentes mentais crónicos. Foi avaliada a vergonha interna e externa, a solidão, e estados emocionais negativos, nomeadamente a depressão, ansiedade e stress. Nesta investigação participaram 41 utentes com diagnóstico de perturbação mental. Para avaliar as variáveis psicológicas pretendidas foi utilizada a Escala de Vergonha Interna (ISS), a Escala de Vergonha Externa (OAS), A Escala de Solidão UCLA e a Escala de Depressão, Ansiedade e Stress (DASS-21). Os resultados indicaram que os doentes mentais da nossa amostra apresentam maiores níveis de vergonha comparativamente à população geral. São as mulheres que apresentam valores mais elevados de vergonha interna, enquanto os divorciados apresentam maiores índices de vergonha externa e de solidão. Os doentes que têm uma actividade laboral manifestam menores níveis de solidão e de depressão. Quanto mais elevadas as habilitações literárias dos participantes, menor é o nível de ansiedade. No estudo de comparação entre doentes institucionalizados e não-institucionalizados, verificou-se que os primeiros apresentam níveis significativamente mais elevados de ansiedade, não se distinguindo relativamente à percepção de solidão e de vergonha (interna e externa). A análise da relação entre as variáveis evidenciou que os valores de vergonha interna e de solidão estavam associados de forma positiva e elevada à depressão e de forma moderada à ansiedade e stress. Não obstante as limitações reconhecidas, o presente estudo contribuiu para um melhor conhecimento dos estados emocionais negativos nos doentes mentais.
Revista de Psiquiatria Clínica, 2010
Contexto: As dificuldades de regulação emocional estão presentes em vários quadros psicopatológicos, sendo necessário o recurso a um instrumento que as possa medir adequadamente. Objectivos: Fazer a adaptação para o português da Escala de Dificuldades de Regulação Emocional e analisar as suas qualidades psicométricas. Um segundo objectivo do estudo era o de explorar a associação entre as dimensões da DERS e sintomas psicopatológicos específicos. Método: A escala original foi traduzida para o português e preenchida por uma amostra de 324 sujeitos que também preencheram o Inventário Breve de Sintomas. Resultados: Os resultados revelam uma estrutura factorial muito semelhante à da versão original, bons valores de estabilidade temporal, de consistência interna (Cronbach's α = ,93) e bons níveis de validade externa com o BSI. A análise realizada com o subgrupo de 115 sujeitos que compuseram a amostra clínica revelou que os indivíduos com psicopatologia apresentam mais dificuldades de regulação emocional do que os indivíduos normais. Por meio da análise de correlação entre as diferentes subescalas da DERS e do BSI, verificamos que as subescalas Estratégias e Objectivos apresentam o valor mais elevado de associação com todos os sintomas psicopatológicos. Discussão: Esses resultados sugerem que essas duas dimensões são transversais às várias perturbações psicopatológicas e poderiam, por isso, ser incluídas em intervenções psicológicas focadas na capacidade de regulação emocional.