Mundo Humano e Natureza: Notas sobre Anti Anti-Dualismo (original) (raw)

Multinaturalismo e equivocidade de mundos em tempos de crise ambiental

Filosofia e Ativismo, 2020

Enquanto o relativismo cultural predominante na antropologia moderna compreendia a diversidade das culturas do mundo pela sua relação com uma única natureza de fundo, apresentando assim sua face etnocêntrica ao arrogar-se o acesso privilegiado à Natureza universal, o "relativismo natural" (Latour, 1994) considera a existência de naturezas tão diversas quanto as culturas que as constroem. Porém, a exemplo do que sabemos pela voz de Davi Kopenawa (Kopenawa & Albert, 2015), a catástrofe ambiental antropogênica eminente atinge não apenas a Natureza enquanto construto da cosmologia ocidental, mas também incide sobre as naturezas de outros povos, outros coletivos com seus próprios arranjos cosmológicos. Este problema arrisca conduzir-nos a uma questão viciada, a de nos perguntarmos qual é a Natureza comum a todos os diferentes povos atingidos pela catástrofe ambiental. Identificamos, porém, esta questão como falsa quando reconhecemos que as categorias universalistas do pensamento ocidental entram em crise no Antropoceno. Compreendemos então que, no trato das questões antropológicas e filosóficas da crise ambiental, de modo a evitar o recurso a ideais etnocêntricos, precisamos suspender a procura por unívocos (Viveiros de Castro, 2004) e redirecionarmos a busca pelo espaço comum da catástrofe ao espaço virtual da equivocação enquanto dimensão das relações interculturais de modo a conservar as diferenças e potencializar a tradução antropológica.

O papel do dualismo no discurso ambiental

MATRIZes

Tomando como base o conceito de formação discursiva, este estudo partiu da hipótese de que o dualismo desempenha papel central dentro do que nomeamos de formação discursiva antiagricultura industrial. Assim, analisamos a recorrência de diferentes esquemas binários compartilhados pelos seis filmes documentários que compuseram o corpus do trabalho. A análise de discurso de linha francesa foi a abordagem teórico-metodológica que norteou a pesquisa. A hipótese foi confirmada e, após a identificação de tais esquemas, percebemos que se dividiram em dois grandes grupos: os que se relacionam com a oposição arquetípica entre vida e morte e os que integram a oposição entre os princípios de liberdade e escravidão.

Hume: Naturalismo Como Antirracionalismo?

Revista de Estudos de Cultura, 2015

O artigo pretende analisar em que medida a filosofia de Hume dialoga com a defi- nição tradicional de conhecimento, traçando um caminho alternativo sobretudo em relação à noção de justificação das nossas crenças epistêmicas e morais mais relevantes. Seguindo o percurso que leva à filosofia humeana, passando principal- mente pelo debate entre o inatismo cartesiano e a descrição do entendimento pos- tulada pelos empiristas. Pretendemos mostrar em que medida a fundamentação dada por Hume à causa e o efeito e às escolhas morais desloca a razão do centro de gravidade da natureza humana. Seu objetivo é explicar o modo como o naturalismo humeano é também antirracionalismo e como ele subverte a própria imagem que a história da filosofia estabeleceu para o que seja o filosofar.

Do Um e do Todo: o Anti-Dualismo de Gregory Bateson e Marilyn Strathern

O presente artigo procura aproximar e distanciar as construções teóricas de Gregory Bateson e Marilyn Strathern. Com tal objetivo, procede por abdução: identifica no 'sintoma' - a 'afecção' que os dois antropólogos exercem sobre o autor do artigo - indícios que permitem aproximar o pensamento de Bateson e Strathern em função do anti-dualismo de que comungam. O idealismo peculiar de um e de outro reconhece privilégio analítico para as relações e os padrões que conectam, cuja consideração sugere saída para as opções excludentes entre pares dicotômicos a que determinada Antropologia tradicionalmente se viu forçada: partes ou todos; história ou estrutura; mudança ou permanência; sincronia ou diacronia; indivíduo ou sociedade.