A construção de mundos em Pedro Cabrita Reis (original) (raw)
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Dimensões utópicas em Pedro Cabrita Reis
Arte & Utopia (coord. Margarida Acciaiuoli et al.), 2013
Por oposição à teleologia do progresso (que aparece associada à urbanidade industrial), a obra de Cabrita Reis é vista como algo no qual habita uma espécie de “arcaísmo”, evocação que envolve uma “cifra de sentido arquétipo” próprio de um “tempo mítico” . Ao mesmo tempo, ela está impregnada de ecos oriundos de casos paradigmáticos da história da arte e da arquitectura que envolvem uma vincada dimensão utópica (Piranesi, a contenção formal da pintura modernista, os construtivistas russos, as torres modernistas, entre outros). Apesar de ser possível descortinar um espaço “utópico” no trabalho deste artista, ele opera de forma divergente, senão oposta, a tais referências. A possibilidade de perspectivar o actual como ruína mediante um acto primordial afecto à construção com vista a “refazer o mundo” e a repor uma “harmonia original”, leva-nos a pensar num movimento circular, regressivo, suspenso, mnemónico e sobreposto, ao invés do tempo linear e progressivo (no limite, quase “amnésico”) da modernidade e sobretudo do modernismo, o que inviabiliza uma projecção modelar de futuro, mas que ao mesmo tempo não cerceia a sua ambição, digamos, visionária. Ante a tão famigerada equação arte/construção/utopia que a primeira metade do século XX radicalizou, “por oposição ao acto final e político da ordenação do espaço colectivo” , Cabrita Reis concebe antes um paralelo arquitectónico meditativo e ficcional; revelação poética e mítica a respeito do nosso lugar no mundo; intuição da verdade que emerge de um espaço metafórico que pretende ser anterior e posterior àquele onde se apresenta. Por isso trata-se de uma obra simultaneamente atópica e utópica que, buscando o absoluto, anseia substituir o mundo inteiro.
Demiurgos: sobre a criação de mundos
Editora Livraria da Física , 2021
No livro, o mito do Timeu de Platão é usado para evidenciar a inerente atividade artística humana. O Demiurgo, que criou o cosmo na obra platônica, não é apenas um. São inúmeros os demiurgos e as suas demiurgias. Em especial, na ciência de hoje são encontradas demiurgias avançadas, ricas e influentes. Um caminho é percorrido para mostrar ao leitor as nossas demiurgias científicas: do microcosmo ao macrocosmo. Ou seja, da mecânica quântica à teoria da relatividade geral ou da física das partículas à cosmologia, será mostrado que “o mundo” foi e ainda é criado por demiurgos. Com as ferramentas que Nietzsche nos deixou, veremos que as demiurgias, com maior atenção dada às demiurgias científicas e tecnológicas no presente livro, partem do caos para gerar não apenas um, mas inúmeros mundos.
O Antropoceno: sobre modos de compor mundos [livro]
2022
O nível de atenção pública dada ao tema do Antropoceno mostra que há bem mais do que geologia na questão. Um campo em que o debate tem se mostrado particularmente vivo é o das humanidades e ciências sociais. Se é verdade que o Antropoceno tem se revelado um termo impreciso e já em desgaste, ele contudo mostrou-se bom para pensar. A presente coletânea pretende dar provas disso. O chamado é por encarar as novas figurações do humano e da natureza, e sobretudo as relações entre esses dois termos, que ora existem sob constrangimentos inéditos, como ilustram as evidências do Antropoceno. Como agora esses termos se compõem? E com que novas exigências metafísicas e políticas? [Texto da quarta capa]
Ensaios sobre a composição de mundos na América e na África
Misturas, mestiçagens e relações raciais em Moçambique 251 Helena Santos Assunção Honrar los sagrados espiritus: rehabilitar relaciones entre vivos y muertos para armonizar el territorio en el Río Atrato 268 Natalia Quiceno Toro Posfácio-Recontando outras histórias 288 Marcio Goldman Referências Bibliográficas 329 Sobre os autores 355 47 46 El cruce zañero o el pliegue afroindígena En Zaña, así como el Cerro Corbacho, hay muchos otros lugares en
Mundo Dado e Mundo Construído Na Obra De Bernardo Élis
Signótica, 2011
Mundo dado e Mundo construído na obra de bernardo Élis leila borges dias santos* Resumo Este artigo constituiu-se por meio de pesquisa bibliográfica e qualitativa e tem o objetivo de relacionar os conceitos de mundo dado e mundo construído do historiador da religião Riolando Azzi com, respectivamente, o universo rural retratado por Bernardo Élis e seu regionalismo modernista. O universo retratado pelo autor goiano é também relacionado à noção de família patriarcal, e sua obra, exemplificada especificamente pelo conto A enxada, conta com a análise de críticos literários elencados no texto, como Antonio Candido, Afrânio Coutinho e Modesto Gomes. O universo rural é, portanto, associado ao mundo dado, e o movimento modernista, ao mundo construído.
Os mundos misturados de Gilberto Freyre - Luso-Brazilian Review
This article attempts to argue that Gilberto Freyre's work, far from being a nostalgic lament against modernity, displays great awareness of the upcoming modernity. Freyre's main intellectual concerns focused on how Brazilian society should incorporate features from modern (and, at same time, keep the values of patriarchal) society. In this article I discuss: (1) Freyre's strategy to reconcile nostalgia with an enthusiastic tone towards Brazilian future (2) the aesthetization of politics played out by Freyre in order to rationalize the violence and power asymmetry in the process of modernization, (3) the advantage of reading-against the grain-a modern conservative as Gilberto Freyre. Articulating these three points, I offer a new angle to analyze how modernity was grasped by Freyre's thought, and how his thought, once deconstructed, bares the consciousness of a conservative-yet non-reactionary-elite.
Resenha de "construindo contextos"
"Contextualizar" alguma coisa antes de a conhecer acaba sendo um dos chavões da comunidade de pesquisadores, que utilizam a expressão sem dar-lhe a devida reflexão-atitude anticientífica por si só, pois não se exerce uma crítica nesse uso irrefletido da atividade de "contextualizar". É desse diagnóstico que parte o livro de Ricardo Cortez Lopes, Construindo contextos: uma contribuição sociológica para compreender a relação indivíduo e sociedade, lançado pela editora paranaense Viseu no segundo semestre do ano de 2019. Dentro deste nicho detectado, o autor lança esforços teóricos e metodológicos de não apenas perceber o panorama, mas também formular uma proposta de como estruturar os diferentes contextos da ação humana a partir da já clássica teoria das representações sociais do psicólogo social francês Serge Moscovici. O objetivo do autor, a grosso modo, é retirar as representações sociais do domínio exclusivo da mente individual-concepção que é herança da sua origem como construto psicológico-e "espalhá-las" pelos ambientes de interação, o que permite pensar os contextos por dentro a partir das representações que os embasam na sua construção. Mas isso somente é possível após algumas manobras essenciais, que tornam possível responder à questão posta pelo subtítulo da obra: a relação indivíduo e sociedade. É neste livro que Lopes está começando a estabelecer sistematicamente a teoria dos contextos representacionais, tal como veremos adiante.