Sentido nas perspectivas de Frege e de Wittgenstein (original) (raw)
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Sobre o Sentido e a Referência (Gottlob Frege)
Friedrich Ludwig Gottlob Frege nasceu na Alemanha, e foi um grande matemático e filósofo da matemática dos séculos XIX e XX, que fez contribuições significativas à lógica e aos estudos da linguagem. Ele tinha como principal objetivo fundamentar a aritmética elementar na lógica, mostrando que cada expressão aritmética significaria o mesmo que uma dada expressão lógica e que esta última poderia ser deduzida de leis lógicas evidentes. Para tal, ele teria que formular um novo aparato lógico (uma linguagem artificial) capaz de formalizar com eficiência todas as proposições, o que a lógica clássicadesenvolvida pelos estóicos, por Aristóteles e alguns medievaisnão conseguia, pois sua análise era fundamentada na distinção entre sujeito e predicado. E, portanto, o seu alcance era restrito a proposições do tipo: algum número de "S é P". Portanto, outros tipos como "se Ana ficar na chuva, então ela irá se molhar", não podiam ser analisados.
Linguagem e Pensamento em Frege
As teses de Frege sobre a "objectividade" do pensamento levantam várias questões epistemológicas e ontológicas. Se o "pensamento" é algo que se dá independentemente de ser ou não ser apreendido, qual o estatuto de um pensamento que não foi nunca apreendido ou captado por ninguém? E como se dá essa relação de apreender, captar, ver? O pensamento é expresso na linguagem, é o sentido de uma proposição, portanto a linguagem estabelece aqui uma mediação entre o pensamento (sentido) e a sua comprensão. No entanto é difícil explicar como é possível exprimir, verbalizar um pensamento que é simplesmente apreendido, captado. A noção de pensamento, assim como a noção de sentido, suscitam algumas perplexidades, que Frege deixou em aberto, mas são o mote para interessantes debates a partir dos seus escritos.
O que é Pensar? Notas sobre "Der Gedanke" de Frege
Comentário ao texto de Frege, levantando as questões que a noção de "pensamento" coloca do ponto de vista epistémico: para garantir a objectividade do "pensamento", Frege cria uma série de dificuldades para compreender a relação entre o pensador e o pensamento. Este último é captado, apreendido, mas permanece sempre independente, ao acto de pensar, o que significa que se dá um hiato entre o pensar e o pensado; o pensar é um acto do sujeito, permanece como acto subjectivo, e no entanto o pensamento não pode perder a sua objectividade e autonomia em relação ao próprio acto de pensar. O que Frege pretende, compreende-se bem, é assegurar a total objectividade do pensamento (que alguns interpretam em termos platonizantes, outros, em termos kantianos, duas leituras distintas para salvaguardar a consistência de Frege) atribuindo-lhe um estatuto muito peculiar e situando-o num 3º mundo que não pertence nem ao mundo das representações subjectivas, nem ao mundo das coisas físicas, materiais. O problema é explicar como se estabelece essa relação do sujeito conhecedor com esse mundo, ou melhor, como se explica uma relação de conhecimento, se não há uma verdadeira posse do pensamento; apenas uma apreensão, uma captação, de algo que permanece sempre para além do entendimento, da consciência do sujeito. Este texto de Frege é rico tanto pelas teses que propõe, quanto pelas dificuldades que levanta.
Frege e Russel: a questão do pressuposto
2011
Este artigo traz uma reflexão sobre o conceito de pressuposto, tal como ele é apresentado por Gottlob Frege e Bertrand Russel entre o final do século XIX e o início do século XX. A discussão interroga a maneira como os dois filósofos estabelecem a relação entre o objeto real e o objeto de conhecimento que eles constroem, e dá visibilidade ao fato de que essas diferenças implicam posições sobre a concepção de sentido que terão efeito na constituição da Semântica linguística.
Peirce entre Frege e Boole: sobre a busca de diálogos possíveis com Wittgenstein
Estudos Semióticos, 2012
Resumo: O presente artigo busca debater a posição de Charles Sanders Peirce e dos primeiros estudantes peirceanos de Lógica (Christine Ladd e O. H. Mitchell nos Studies in Logic, 1883) dentro do debate inspirador da visão da linguagem dentro da Filosofia Analítica, conhecido como "Lingua Universalis contra Calculus Ratiocinator", cujos primórdios podem ser traçados desde a filosofia de Gottfried Leibniz. Para isso, comparamos esse campo do pensamento peirceano com o debate crucial entre a conceitografia de Gottlob Frege (Begriffsschrift, 1879) e a lógica algébrica de George Boole (An investigation of the Laws of Thought on which are founded the mathematical theories of Logic and Probabilities, 1854). O nosso objetivo principal é observar que esse momento da filosofia peirceana pode ser comparado com o pensamento wittgensteiniano, especialmente em sua nova vertente, chamada New Wittgenstein, que tenta superar a tradicional divisão entre Tractatus Logico-Philosophicus e Investigações Filosóficas. Pela comparação entre pensadores influenciados por C. S. Peirce e a filosofia de Ludwig Wittgenstein, pretendemos abrir caminhos na compreensão do conceito de jogo de linguagem, especialmente em sua gramática e em seus operadores simbólicos, através da observação das funções de verdade [truth functions] e as tabelas de verdade [truth tables] enquanto lógica algébrica. Palavras-chave: filosofia analítica, linguagem, lógica peirceana, lógica algébrica, jogo de linguagem Introdução: o desafio de Leibniz É notório que o campo filosófico conhecido como Filosofia Analítica foi fundado na intersecção entre o pensamento de Gottlob Frege e as ideias de Bertrand Russell e Alfred North Whitehead. Era o nascimento de uma corrente cujo grande lema pode ser resumido pela ideia de que a única necessidade que existe é a necessidade lógica. Essa noção surge em Frege e em Russell ao notarem que não há necessidade metafísica do conceito de número, tal como Os princípios da Aritmética de Husserl buscava. Assim, com o uso da lógica simbólica, a antiga ontologia da filosofia deveria ser substituída pela observação das relações lógicas e sua correspondência com o mundo. Para Russell, por exemplo, o nome dessa atividade deveria ser o Atomismo Lógico:
Frege: verdade e pensamento na Lógica (1897) e em der Gedanke
O conceito de verdade e de pensamento, bem como a defesa anti-psicologista de uma epistemologia objetiva da Lógica, presentes em der Gedanke de 1918, não significam uma ruptura em relação ao pensamento anterior de Frege, mas em essência já estavam presentes no texto de publicação póstuma Lógica, de 1897. A novidade em der Gedanke é uma argumentação contra o Princípio de Imanência, que Frege verifica estar presente em toda a argumentação psicologista de seus contemporâneos. O conceito objetivo de verdade leva à postulação do terceiro reino, dos objetos não-reais e objetivos, ao qual o pensamento pertence.
O artigo “sobre o sentido e a referência” de Frege
Fundamento, 2012
O matemático e filósofo alemão Gottlob Frege nasceu em 1848 em Wismar, uma pequena cidade costeira situada no norte da Alemanha, estudou nas universidades de Goettingen e Jena, onde lecionou até aposentar-se em 1918, vindo a falecer em 1925. Durante a sua vida, publicou quatro livros: Conceitografia (1879), Fundamentos da aritmética (1884), e dois volumes (inicialmente seriam três) das Leis fundamentais da aritmética (1893 e 1902). Publicou ainda uma série de artigos científicos, entre os quais os clássicos "Sobre o sentido e a referência" (1892) e "O pensamento" (1918). Somado isso { sua correspondência com alguns filósofos e matemáticos da sua época, além dos esboços de artigos que não chegou a publicar, o corpus fregiano é relativamente modesto, bem como são limitados os âmbitos da principal questãoque procurou responder ao longo da sua carreira e do seu projeto intelectual: qual é abase do conhecimento aritmético? E o seu projeto, conhecido como logicismo, seria a resposta: as nossas crenças nas proposições da aritmética seriam justificáveis a partir exclusivamente de leis e princípios lógicos, sendo, pois, a capacidade de pensar logicamente a base do conhecimento aritmético.
Sentido sem referência no contexto do projeto logicista de Frege
No artigo médio “Über Sinn und Bedeutung” (1892), Frege oferece uma nova proposta de resolução do problema da diferença de valor cognitivo entre sentenças das respectivas formas “a=a” e “a=b”, que repousa sobre a introdução, por parte do mesmo, de uma nova dimensão semântica, distinta dos meros sinais linguísticos e daquilo pelo que eles estão. Essa introdução se manifesta na assunção fregeana de que a atribuição de um nome próprio a um objeto é mediada por uma descrição associada ao mesmo ou de que nomes próprios ordinários são termos singulares de referência indireta. Ademais, no mesmo artigo, Frege amplia a sua clivagem do conteúdo semântico de nomes próprios também para expressões insaturadas e sentenças. Nesse mesmo artigo, Frege estipula que um sentido não assegura uma referência e que, portanto, um nome próprio, embora tenha um sentido associado a ele, pode não referir. Ademais, ao admitir que o sentido e a referência de uma sentença são formados composicionalmente, tão cedo algum constituinte do sentido da sentença não refira, a mesma não possui valor-de-verdade. Em “On Denoting” (1905), Russell critica os resultados da abordagem do artigo supracitado, acusando-o de violar o Princípio do Terceiro Excluído, ao admitir que hajam sentenças, bem-formadas, com sentido, porém, sem valor-de-verdade. Por exemplo, se, em uma sentença singular, o nome próprio que seria o sujeito da mesma, não refere. Russell sugere, como alternativa, sua Teoria das Descrições. Na presente comunicação, tentaremos mostrar que, malgrado o artigo de 1892 deixar Frege sujeito às críticas de Russell, as definições do operador “\” (§11), de pensamento (comoa expressão das condições nas quais uma sentença denota o Verdadeiro,§32) e uma observação acerca da noção de função (§8) nas “Grundgesetze der Arithmetik” (1893), texto que encarnaria tecnicamente o projeto logicista de Frege, ao barrarem tanto formação de nomes próprios sem que a descrição associada a eles seja satisfeita com unicidade quanto a formação de sentidos distintos para sentenças com as mesmas condições de verdade, preservam o Princípio do Terceiro Excluído assim como escapam à introdução de quaisquer elementos psicológicos ou mentalistas em sua semântica.
Considerações acerca do critério de equipolência de pensamentos de Frege
Griot : Revista de Filosofia, 2015
Neste artigo faço considerações a respeito da aplicabilidade dos critérios de equipolência de pensamentos de Frege em relação às peculiaridades da linguagem natural e em relação aos casos de identidade de pensamentos compostos. Pretendo apresentar e analisar os critérios de equipolência de pensamentos sugeridos por Frege em duas Cartas a Husserl e em Um breve levantamento de minhas doutrinas lógicas. Meu primeiro objetivo é mostrar que Frege apresenta um critério epistêmico insuficiente e um critério lógico, adequado aos seus objetivos. Em seguida, pretendo testar a aplicabilidade do critério lógico de equipolência perante o embelezamento retórico das linguagens naturais e entre os casos de identidade de pensamentos presentes no artigo Pensamentos Compostos. Dessa forma, meu segundo objetivo é expor qual é a noção de consequência lógica implícita no critério lógico de equipolência. No fim, argumento que a noção de consequência lógica implícita no critério lógico de equipolência não...