Vieira e Os Estilos Cultos:" Ut Theologia Rhetorica (original) (raw)
resumo: O estudo trata de adaptações que a ação contrarreformista fez de pressupostos da Poética e da Retórica aristotélicas e outros textos preceptísticos para constituir uma retórica ordenada pela ideia de um ut theologia rhetorica, ou seja, uma retórica definida como instrumento para a transmissão das verdades teológicas, em particular a verdade bíblica. Essa adaptação pressupôs a atenção às questões relacionadas à fantasia e ao campo metafórico das obras. A Contrarreforma não via a maravilha como essencial ao discurso sacro, mas como licença poética. Essa ordenação não pressupunha, contudo, a anulação total da fantasia, mas sua submissão à transmissão da verdade bíblica, o que pressupunha uma concepção particular da metáfora e da figura aqui analisada. Seguindo a concepção aristotélica pela qual todo discurso é por natureza metafórico, permitindo o rápido aprendizado, a questão do engenho foi fundamental para conceituar a representação icástica ou fantástica. Nos processos de centralização monárquica, a metáfora é o fundamento da agudeza que, como categoria, é um modo retórico-poético de pensar do Antigo Regime. O uso das imagens não é, então, pura fantasia de uma elocução dissociada dos lugares comuns teológicos, mas ordenação de imagens que os figuram em suas espécies históricas e naturais sensíveis. O estudo desenvolve conceitualmente e em detalhe essas questões, em particular no programa discursivo de Antônio Vieira, que propõe a invenção oratória como desenho de lugares teológicos adequados retoricamente à matéria sacra, censurando lugares arbitrários e coloridamente confusos, que define como o delectare fantástico dos seus rivais dominicanos.