Os dois primeiros livros impressos em língua portuguesa (original) (raw)

Signo e significação no primeiro livro impresso em língua portuguesa

Comunicacao E Cidadania Actas Do 5o Congresso Da Sopcom, 2008

O primeiro livro impresso em língua portuguesa é o Sacramental de Clemente Sánchez de Vercial. Foi publicado na cidade de Chaves em 1488, tendo mais três edições, uma pouco depois, mas ainda no século XV (desconhece-se o local e a data), outra em Lisboa em 1500 e uma quarta em Braga em 1539. Antes da primeira impressão, há notícia de que a obra corria manuscrita no ano de 1474. Redigido entre 1420 e 1423 em língua castelhana, o Sacramental, depois dos livros destinados ao ofício religioso, foi o livro mais impresso na Península Ibérica, desde a introdução da imprensa até meados do século XVI. Conhecem-se treze edições em castelhano, uma em catalão e as quatro em português já referidas. A obra, como o próprio título indica, é um tratado sobre os sacramentos. Para explicar o significado dos rituais que a Igreja fixou para a sua administração, o autor utiliza amiúde as expressões a dar a entender que, a significar, significa que, que significa, à significação de, à renembrança de, etc., que remetem para o âmbito da Semiótica. Para o autor do Sacramental, cada acto de Cristo, cada palavra do Evangelho, cada gesto ritual religioso público ou privado, tem uma simbologia própria.

Anomalias gráficas nos primeiros livros impressos em língua portuguesa

Confluência, 2017

RESUMO: As anomalias tipográficas são uma constante na história da edição impressa. Mesmo na atualidade, com os corretores ortográficos cada vez mais sofisticados dos processadores de texto, elas passam aos olhos dos autores e revisores. No entanto, as gralhas das obras impressas desde o século XV até finais do século XIX têm outras características, devido sobretudo ao facto de as páginas serem manualmente compostas por caracteres móveis, que levavam à confusão e troca de letras. O Sacramental (1488), considerado o primeiro livro impresso em língua portuguesa, tem mais de 3000 anomalias, o que é um número significativo que nenhuma obra posterior dificilmente ultrapassa. Neste estudo, faremos uma análise das principais anomalias dos livros impressos em língua portuguesa até ao final do século XV, sistematizando-as por categorias e procurando as causas da sua ocorrência. Daremos especial destaque à troca de letras (como n por u e vice-versa), uso do sinal de nasalação e da cedilha, me...

Construção ter + particípio passado nos primeiros livros impressos em língua portuguesa

Confluência, 2019

O verbo ter + particípio passado na língua portuguesa apresenta duas configurações morfossintáticas: a primeira, e mais comum, é a formação dos tempos compostos de um verbo; a segunda é um predicativo, normalmente do complemento direto, em que o particípio passado tem a função de adjetivo. A primeira configuração, ou seja, a formação dos tempos compostos, é considerada pelos gramáticos um fenómeno relativamente recente na língua portuguesa. Neste estudo, procuraremos determinar se nos livros impressos em língua portuguesa em finais do século XV há ocorrências significativas do uso dos tempos compostos com o verbo ter.

Os Livros de Linhagens na Idade Média Portuguesa

Este artigo objetiva discutir inicialmente um gênero literário específico cuja maior singularidade é apresentar-se como uma forma literária híbrida -os chamados livros de linhagens, fontes genealógicas e narrativas da Idade Média portuguesa (séculos XIII-XIV). A ênfase da análise dirige-se ao Livro de linhagens do Conde Dom Pedro, compilado durante o reinado de Dom Afonso IV (W 1325-1357). O texto linhagístico é examinado como um espaço de poder, dentro do qual os grupos da nobreza são colocados diante de situações de inclusão e exclusão social, e o hibridismo textual -alternando a descrição genealógica com narrativas de diversos tipos -é visto como um recurso eficaz para o exercício destes poderes e micropoderes. Por fim, na parte final do artigo, busca-se discutir, a partir destas fontes históricas específicas que são os livros de linhagens, uma das mais importantes questões do período: as relações entre a Nobreza e a Realeza. O problema específico que permitirá examinar estas relações é o da construção discursiva de um certo imaginário cavalheiresco que encontra sua projeção em algumas das narrativas incluídas nos livros de linhagens.

UM POUCO DA ESCRITA HUMANA E A CRIAÇÃO DA FEIÇÃO MODERNA DA LÍNGUA PORTUGUESA: O ALFABETO E AS DUAS PRIMEIRAS GRAFIAS PORTUGUESAS

ANTARES: Letras e Humanidades, 2022

Resumo: O objetivo deste trabalho é abordar o processo de criação e desenvolvimento das primeiras sistematizações do sistema de escrita da Língua Portuguesa, postuladas no século XVI pelos primeiros gramáticos da língua, Fernão de Oliveira (1536) e João de Barros (1540). Para tanto, iniciamos nossos estudos explorando suas origens mesopotâmicas, egípcias, gregas e romanas, compreendendo, desse modo, o processo singular que teve como palco a metrópole do Império Português à época.

Livro médico e censura na primeira modernidade em Portugal

2017

(EN)"Livro médico e censura na primeira modernidade" aims at filling out two gaps in the history of the book in Portugal: on one hand, to describe and to analyze the expurgation of the books, imported or not; on the other, to supply a deepened bibliography of the XVIIth century printed and handwritten works. The first part is entitled «Tuto lege. The microcensorship of medical books in Portugal (XVIth-XVIIth centuries). A statistical and methodological survey and perspectives ». The notion of micro-censorship, still little used, refers to the censoring activities which modify the texts. In Portugal as well as in other Inquisitorial countries, beyond the simple prohibition of authors and works, textual expurgation was massively carried out from the years 1570-1580 when the first indexes of expurgation were published in various countries. But until now, the barrier of the immensity, as the historians say, of the phenomena to be considered was to overcome. A methodology was elaborated towards the analysis of micro-censorship which leads to classify and assess quantitatively and qualitatively the effectiveness and the efficiency of the interventions achieved within the books. This methodology applied to hundreds of copies from the majority of the Portuguese libraries provided information on various aspects and renews reflection about censorship. The Latin expression Tuto lege, “read safely”, given in title reminds that we are dealing with texts and readers (and listeners). This is the beginning of the history of the library (department of the medical books) cleansed following the post-Tridentine patterns. The second part of the book is entitled Bibliografia Médica Lusa (século XVII) (bibliography of the XVIIth century Portuguese medical books). Compared to the production of the previous century (22 titles between 1496 and 1598), here are listed 99 items of prints (original works and reeditions) and 51 entries for manuscripts. Beyond the main bibliographical data, every item is described with more details about critical aspects, whenever the information is delivered: dates of licences, taxes, title and author of para-textual pieces, place of the copies on three levels (Portugal, Spain, rest of the world). It includes the following indexes: names of authors (prints, manuscripts), addressees of a dedication, publishers and sponsors, publishing place. The double approach, through censorship and bibliography, helps improving our knowledge of the world of the book and its actors in a small market and in a context of tight control. (PT) Livro médico e censura na primeira modernidade visa preencher duas lacunas na história do livro em Portugal: por um lado, descrever e analisar a expurgação dos livros, tanto de fabrico local como de importação; por outro, fornecer uma bibliografia aprofundada das obras impressas e dos manuscritos do século XVII. A primeira parte intitula-se «Tuto lege. A microcensura dos livros de medicina em Portugal (séculos XVI-XVII). Balanço estatístico‐metodológico e perspetivas.» A noção de microcensura, ainda pouco divulgada, refere as práticas censórias que modificam os textos. Em Portugal como nos outros países de Inquisição, além da mera proibição de autores e obras, praticou-se maciçamente a expurgação textual graças a índices epónimos editados a partir dos anos 1570-1580. Mas a barreira da imensidão dos fenómenos, segundo os historiadores da censura, ainda estava por ultrapassar. Foi elaborada uma metodologia da análise microcensória que permite classificar e avaliar qualitativa e quantitativamente a efetividade das operações realizadas dentro dos livros. Aplicada às centenas de exemplares espalhados pela maioria das bibliotecas do país, providenciou informações sobre numerosos aspetos renovando a reflexão sobre a censura. A expressão latina Tuto lege, “lê em segurança”, no título desta parte relembra que se trata de textos e de leitores (e ouvintes). Assim, começou a escrever-se a história da biblioteca limpa, secção do livro médico, segundo os padrões da cultura pós-tridentina. A segunda parte intitula-se Bibliografia Médica Lusa (século XVII). Em comparação com a reduzida produção anterior de livros de medicina (22 títulos entre 1496 e 1598), estão aqui catalogados 99 itens de impressos (títulos originais e reedições) e 51 entradas sobre obras manuscritas. Além dos principais dados bibliográficos correntes, cada item está descrito com dados sobre aspetos indispensáveis, sempre que consta nele este tipo de informação: datas das licenças e de privilégio, taxas, título e autor das peças paratextuais, localização dos exemplares a três níveis (Portugal, Espanha, resto do mundo). Contém no fim os seguintes índices remissivos: nomes de autores de impressos e manuscritos, de destinatários de uma dedicatória, de editores e patrocinadores, lugares de edição. A dupla abordagem, censória e bibliográfica, ajuda a conhecer melhor o mundo do livro e dos seus atores num mercado reduzido e num contexto de controlo apertado.

Os Lusíadas: dos manuscritos à princeps

2012

Foi um trabalho que pude empreender graças ao projecto de interesse nacional «Ecdótica e tradição cultural na área ibérica», coordenado pelo Prof. Dr. Giovanni Caravaggi, da Universidade de Pavia. Em 2007 o Prof. Dr. Giovanni Caravaggi reformou-se e um grande número de discípulos, colegas e amigos quis homenageá-lo com um volume de ensaios. Por essa ocasião, tive a oportunidade de continuar as minhas investigações sobre os manuscritos apógrafos dos Lusíadas e as suas relações com a tradição impressa (Tocco 2011). O que proponho agora é uma versão emendada, acrescentada e refundida dos trabalhos anteriores, contendo o resultado desses anos de investigação, que não acabou com a Homenagem ao Prof. Dr. Giovanni Caravaggi, mas prosseguiu até hoje. Desde a publicação dos comentários aos Lusíadas de Manuel Faria e Sousa (1639), de facto, os estudiosos do poema têm que lidar, por um lado, com umas oitavas que o polígrafo barroco diz pertencerem a manuscritos do poema e, por outro, com as incluídas na miscelânea poética, conhecida como Cancioneiro de Luís Franco Correia, que remonta a finais do século XVI. Os críticos camonianos confrontaram-se muitas vezes com a problemática relativa a estas estâncias, para procurarem demonstrar a apocrifia delas ou, pelo contrário, para sustentarem a possibilidade de nos encontrarmos perante resquícios autênticos de uma redacção primitiva do poema. Até ao meu estudo de 2005, porém, ninguém analisara sistematicamente todas essas oitavas: os comentários-preciosos e agudos-de que dispúnhamos diziam respeito, apenas, a algumas das estâncias presentes nos manuscritos, faltando, no entanto, uma visão detalhada desse provável "proto-texto" camoniano. Por outro lado, também a edição datada de 1572 apresenta algumas problemáticas textuais não despiciendas, que ainda estão à espera de uma reso-ABREVIATURAS Utilizei amiúde os seguintes acrónimos:

Duas Tecnologias De Um Livro

Revista Brasileira de Alfabetização, 2020

A fim de abordar questões de letramento e alfabetização de crianças, em especial sob uma perspectiva semiótica que considera a multimodalidade como aspecto fundante de certos materiais, elegeremos e analisaremos um livro de “literatura infantil”, produzido por uma casa editorial brasileira, em versões impressa e digital, tratando de apontar elementos que os tornam objetos de ler multimodais, de modos diferentes, e que relações isso estabelece com o aprendizado da leitura, desde tenra infância, com a mediação do/a professor/a. A formação de professores/as também está em pauta, na medida em que é necessário pensar sobre tecnologias digitais e novas possibilidades de leitura no processo de alfabetização contemporâneo, isto é, posicionando-se no contexto atual de possibilidades/oportunidades midiáticas inescapáveis (smartphones e telas de todo tipo).