História da (re) territorialização dos sergipanos no "Norte Novo" (Paraná, 1970) (original) (raw)
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Histórias de trabalhadores nortistas no Norte/ Noroeste do Paraná (1940/1970)
O trabalhador fica mais pobre à medida que produz mais riqueza e sua produção cresce em força e extensão. O trabalhador torna-se uma mercadoria ainda mais barata à medida que cria mais bens. A desvalorização do mundo humano aumenta na razão direta do aumento de valor do mundo dos objetos. O trabalho não cria apenas objetos; ele também se produz a si mesmo e ao trabalhador como uma mercadoria, e, deveras, na mesma proporção em que produz bens. A execução do trabalho aparece tanto como uma perversão que o trabalhador se perverte até o ponto de passar fome. KARL MARX, 1844. Quem é do chão não se trepa GRACILIANO RAMOS, 1930. RESUMO Este trabalho tem como objetivo verificar as experiências dos trabalhadores nortistas que participaram do processo de re-ocupação do Norte/ Noroeste do Paraná entre as décadas de 1940 e 1970. Frequentemente a história oficial, a partir de um mito originário baseado na ideia de pioneirismo, tendeu a excluir trabalhadores nortistas das narrativas publicadas pela historiografia. Embora cada história de vida construída por nossos personagens, e pela análise das diversas fontes tenha suas especificidades, foi possível identificar semelhanças e repetições, que nos permitiram inferir sobre as possibilidades e horizontes apresentados a estes trabalhadores. Neste aspecto, evidenciamos que diferentemente de paulistas, mineiros e catarinenses, os eleitos da história oficial, os nortistas, referia-se a um grupo de trabalhadores que partilhavam peculiaridades quanto a sua cultura, mas principalmente uma condição comum de classe: eram os trabalhadores mais pobres que realizavam os piores trabalhos, seja na derrubada da mata no início do processo de ocupação capitalista e da terra, ou posteriormente no plantio e produção agrícola. Neste sentido, a fim de compreender as relações e experiências vividas no período delimitados, buscamos ainda compreender, as diversas formas e arranjos realizados entre trabalhadores e proprietários, que nem sempre envolviam pagamento em dinheiro. Nosso referencial encontra-se no marxismo, haja visto que ao analisar as histórias dos sujeitos aqui retratados, percebemos como estes se constituíam enquanto sujeitos, ao passo que produziam materialmente. Para tanto partimos, do conceito de experiência de Edward Thompson, que nos permitiu pensar as relações de trabalho no próprio fazer-se da classe trabalhadora. Neste trabalho, ainda foi caro as possibilidades abertas pelo uso da História Oral, por permitir dar voz a sujeitos que frequentemente foram excluídos dos registros realizados pela História Oficial. Neste aspecto, ao narrar suas histórias e reconstruir memórias sobre o passado, vários trabalhadores reelaboraram e recompuseram suas experiências a partir das expectativas colocadas no tempo presente. Na busca por encontrar indícios e evidências sobre a presença dos trabalhadores nortistas no Norte/ Noroeste do Paraná, recorremos ainda a documentos que usualmente foram ignorados pela história positivista, mas que no tempo presente, são considerados importante fontes de informação: fontes eclesiais e autos produzidos pela Justiça do Trabalho. É no cruzamento das informações e análise das fontes que foram recolhidas ao longo da pesquisa, é que conseguimos realizar uma tessitura, que permitiu constatar as dinâmicas sociais, arranjos e acordos que foram sendo constituídos por estes trabalhadores ao longo do tempo. PALAVRA-CHAVE: Trabalhadores Nortistas. Norte/ Noroeste do Paraná. Memória. História Oral.
Resumo Este trabalho discute a problemática da identidade vinculada a questões do território a partir da análise de um relato de natureza memorialística produzido pelo frei dominicano José Maria Audrin. Em suas memórias, o religioso descreve e interpreta os sertanejos e os sertões do Norte do país, mais precisamente a região compreendida entre os vales dos rios Araguaia e Tocantins da primeira metade do século XX. Movido por um declarado compromisso com a fidelidade ao que viveu e observou, nele identificam-se diferentes vozes. Se o sertanejo é visto sob uma perspectiva dual, ora euforizante, ora disforizante, também o enunciador se revela multifacetado à medida que se territorializa/desterritorializa nesse território que ele denomina de ―nosso sertão‖. Palavras-chave: Memória. Narrativa. Identidade. Território. Abstract This paper discusses the problem of identity linked to questions of territory from the analysis of a reporting nature of memoirs produced by the Dominican Friar Jose Maria Audrin. In his memoirs, describes and interprets the religious sertanejos and hinterlands of the north, specifically the region between the valleys of the Araguaia and Tocantins rivers of the first half of the twentieth century. Moved by a stated commitment to fidelity to lived and observed, it identifies different voices. If the backcountry is seen in a dual, sometimes euphoric, sometimes disforizante perspective also reveals the enunciator multifaceted as they expand the territory / deterritorializes that territory he calls ―our backcountry‖.
Do Paraná ao Paraguai: o espaço fronteiriço e a transfronteirização da DOPS/PR (1940
Revista Diálogos, 2022
A Ponte da Amizade, localizada na região da Tríplice Fronteira (Argentina, Brasil e Paraguai), é a principal travessia entre o Brasil e o Paraguai desde as décadas finais do século XX. O objetivo desse artigo é historicizar essa fronteira no período anterior à construção da ponte, mais especificamente no início dos anos 1940. O ponto de partida da análise é o dossiê “Fugitivos políticos para a República do Paraguai” da DOPS/PR. Dois argumentos serão defendidos: o oeste do Paraná na década de 1940 não era uma rota viável para fugitivos políticos; e a DOPS/PR se tornou referência no levantamento de informações sobre exilados políticos no Paraguai. The Ponte da Amizade, located in the Tri-Border Area (Argentina, Brazil and Paraguay), has been the main crossing between Brazil and Paraguay since the final decades of the 20th century. The objective of this article is to historicize this frontier in the period before the construction of the bridge, more specifically in the beginning of the 1940s. The starting point of the analysis is the dossier "Political fugitives for the Republic of Paraguay" of DOPS/PR. Two arguments will be defended: western Paraná in the 1940s was not a viable route for political fugitives; and DOPS/ PR became a reference in gathering information on political exiles in Paraguay.
Sombras Autoritárias e Totalitárias no Brasil. João Fábio Bertonha (Org.) 1ed.Maringa: Eduem, 2014, v. 1, p. 191-213., 2014
Este artigo tem como objetivo, ab initio, apresentar a forma como foi gestado um pensamento autoritário no Brasil desde a década de 1920, quais seus princípios na ótica do intelectual Oliveira Vianna (1883-1951) e, no que tange aos aspectos geográficos (como na questão territorial), como esses recursos metodológicos foram importantes para a formação de um Estado mais centralizado, anti-democrático, predominante a partir de 1930. Nesse contexto de interdição/inclusão, quais foram os instrumentos de poder (institutos, leis, decretos) que acabaram por normatizar as ações sociais para um controle (ou tentativa dele) das camadas urbanas e não-urbanas vistas como "perigosas" à ordem sociopolítica? Nessa “construção da ordem”, o projeto de nacionalização imposto durante o Estado Novo (1937-45) se baseou, entre outras premissas, na geopolítica do controle. No caso dos imigrantes japoneses, sujeitos que, desde o início do século XX, sob a ótica das autoridades e das elites brasileiras, transitavam entre a condição de ‘desejáveis’ e ‘indesejáveis’, gostaríamos de apresentar os elementos que alimentaram o mito do ‘perigo amarelo’, baseado na lógica da desconfiança. Lógica que contribuiu de forma pragmática na consolidação de um imaginário cada vez mais negativo sobre o "amarelo", principalmente na década de 1940. Intentaremos explicitar como esse projeto de nação se efetivou no Norte do Paraná, um estado com problemas de ‘grilagem’ de terras e concessões inoperantes, onde existia uma elite que, desde o final do século XIX, tinha como preocupação, a escolha do imigrante perfeito para ocupar as áreas consideradas vazias. Manoel Ribas, nomeado interventor, em 1932, acabou por legitimar, no norte paranaense, as colonizações promovidas pela Companhia de Terras Norte do Paraná e pela Bratac, o que gerou muitas contradições, como a introdução de imigrantes, considerados pelo Estado Novo, como ‘indesejáveis’ e a formação dos temidos ‘quistos raciais’. Palavras-chave: Território; Nacionalismo; Imigração Japonesa; Paraná. Obs. O artigo anexo é um pouco diferente da versão final publicada em livro.
O Sudoeste do Paraná nos arquivos da DOPS/PR (1963-1970)
Fronteiras: Revista Catarinense de História, 2018
O artigo tem por objetivo apresentar os resultados de uma pesquisa acadêmica sobre as origens, atividade e desarticulação dos “Grupos dos Onze” no Sudoeste do Paraná, com ênfase na fronteira com a Argentina, entre os anos 1963 a 1970, a partir da documentação da Delegacia de Ordem e Política Social do Paraná (DOPS/PR). A memória da Ditadura Militar no Sudoeste do Paraná torna-se conhecida. Décadas de silêncio que se descortinam, evidenciando ameaças, prisões, coação, torturas, exílios forçados em território argentino. Palavras-chave: Sudoeste do Paraná; Grupo dos Onze, DOPS/PR.
Os guarani no oeste paranaense e a (re)constituição de territórios originários
Guaju, 2015
Se o problema do território é uma constante entre os guarani dos estados das regiões Sul e Sudeste, uma das particularidades vivenciadas pela etnia no Paraná foi a devastação rápida da porção do bioma da Mata Atlântica no segundo e terceiro planalto e as intensas transformações geopolíticas associadas ocorridas nos últimos 60 anos. Vivendo em área diminuta e cercados pelas fazendas de monocultura da região, as interferências acentuadas das perturbações de ordem ecológica e sociológica na vivência daquilo que denominam seu “modo de vida autêntico” é um desafio cotidiano para esses grupamentos. Trouxe neste artigo algumas referências históricas e etnográficas para problematizar a constituição do território originário e legítimo guarani, com interesse voltado às transformações no seu espaço social atual. À produção de uma etnografia, metodologicamente aliou-se pesquisa de informações históricas complementada pela história oral de velhas lideranças dos grupos atuais que vivem e circulam...
A colonização territorial em tempos modernos no norte do Paraná: rupturas e continuidades históricas
2º Encontro Internacional História & Parcerias I 6º Seminário Fluminense de Pós- Graduandos em História I 5ª Jornada do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da SaúdeAt: Universidade Veiga de Almeida (Tijuca - RJ), 2019
Esse estudo apresenta uma breve investigação sobre os processos de colonização e a formação do território Norte do Paraná, especificamente a região de Londrina, no contexto de construção do ideário moderno no Brasil. Comumente, a história local difunde a década de 1930 como o início da ocupação efetiva da porção setentrional do estado, ao mesmo tempo em que a narrativa relata a imagem de um grande vazio demográfico e um sertão permeado por mata. As referências e dados da época mostram que a intencionalidade sobre este território estava fortemente ligada às questões econômicas e políticas devido ao trâmite com países como a Inglaterra, o que favoreceu a criação de empresas de colonização interessadas em promover um grande empreendimento imobiliário rural concomitante ao extrativismo da madeira existente. Ainda que este processo seja considerado tardio por ocorrer no início do século XX, apresenta correlação com a América Latina, no que tange a proposta de colonização para produção agrícola, mesmo que inicialmente, e a ocupação da região com população migrante e imigrante. A metodologia aplicada neste estudo envolve a pesquisa histórica pela compilação de fontes primárias e o cruzamento com textos publicados em períodos diferentes, desde as primeiras décadas da ocupação. A porção norte do estado do Paraná teve a ação de diversas companhias colonizadoras, sendo que a CTNP – Companhia de Terras Norte do Paraná foi uma das maiores, responsável pelo gerenciamento de uma grande porção de terras. Atualmente, a região possui alto grau de urbanização, o que reflete um rápido processo de transformação da ocupação agrícola para a intensa migração para as cidades, tendo em vista que o ideário moderno foi decisivo na constituição do território. Por fim, este estudo busca reflexões sobre questões presentes que se explicam por práticas do passado.
Quilombolas no Sapê do Norte-ES: a territorialidade revivida pela memória
Anais do Seminário de Pós Graduação em Ciências Sociais - UFES, 2011
O presente trabalho busca enfocar a importância da memória histórica e territorial das comunidades negras rurais no Norte do Espírito Santo, que vêm adquirindo nova valorização na conformação da identidade étnica quilombola e os direitos dela decorrentes. Adquirindo novo sentido, a memória das gerações mais antigas torna-se fundamental para a afirmação da territorialidade destas comunidades, alimentando o processo de reconquista de seus territórios, expropriados a partir dos anos de 1960 pelos monocultivos de eucalipto destinados à produção e exportação de celulose. Este processo vem evidenciando a importância central da memória das comunidades negras locais no reconhecimento de seu território de direito, conquistado pelo movimento negro a partir do Artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (1988). Palavras-chave: territorialidade, quilombos, memória, identidade Introdução Os agrupamentos negros e camponeses que constituem este estudo distribuem-se ao longo dos vales dos rios Cricaré e Itaúnas, majoritariamente nos municípios de Conceição da Barra e São Mateus, no Norte do Espírito Santo. Territorialmente, estão organizados em sítios familiares que mantêm entre si laços de parentesco e compadrio, efetivando redes de trocas, religiosidade, festa, solidariedade e outras práticas que remontam a uma história comum. A memória dos mais antigos alcança os "tempos do cativeiro", quando seus ancestrais chegavam de algum lugar da África ao Porto de São Mateus, para trabalhar como escravos nas fazendas produtoras de farinha de mandioca. Esta memória também transita pela grande região denominada "Sapê do Norte", que cobria grandes extensões de terras planas cobertas por matas, capoeiras e sapezais, entrecortadas por caudalosos rios e lagoas. O Sapê do Norte configurava este espaço apropriado pelos antigos escravos, que passaram a se constituir enquanto campesinato após o fim da escravidão e a desagregação econômica das fazendas
História Social e territorialidade da colonização no Norte Rio-Grandense (1889-1930)
História Social e territorialidade da colonização no Norte Rio-Grandense (1889-1930) , 2020
O presente estudo, a partir da revisao bibliografica sob a perspectiva da Historia Social, problematiza as politicas de colonizacao, propriedade da terra e a organizacao social no Norte do Rio Grande do Sul, na Primeira Republica. O modelo de colonizacao, acesso e propriedade da terra adotado pelo Estado republicano rio-grandense na regiao em questao, inseriu o colono imigrante/descendente como elemento central, colocando-o em contato, disputa e conflito de interesses com os proprietarios de terras, em sua maioria latifundiarios, os posseiros, os lavradores nacionais/caboclos e os toldos indigenas. Nesse cenario, o Estado definiu como categoria social o “intruso”, que abrangia todos aqueles estabelecidos em uma posse de terras sem documentos comprobatorios. Portanto, nota-se que o maior beneficiario do periodo foi o latifundio, que permaneceu intocavel; e o Estado, que atuou como agente central na comercializacao das terras publicas, seguido pelas empresas particulares de colonizacao. O artigo explora a trama social que tencionou a politica do Estado e a sociedade camponesa estabelecida e formada na regiao.