“Parto ideal”: medicalização e construção de uma roteirização da assistência ao parto hospitalar no Brasil em meados do século XX (original) (raw)
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Resumo Entre 1945-1964 o Brasil vivia uma acelerada modernização. Transformando-se numa sociedade urbana, sob o jugo do higienismo, procurava refutar práticas e costumes considerados tradicionais e arcaicos. Nesse contexto, a figura tradicional da parteira é preterida socialmente para dar espaço ao conhecimento médico, que passa a incidir sobre o partejar e o maternar. Este texto analisa o Boletim da LBA, investigando o processo de medicalização e cientifização da maternidade e do parto, tomando em observação os embates científicos e morais sobre maternidade e parto que ocupavam as páginas da publicação oficial da maior instituição de assistência no país.
Medicalização do parto: os sentidos atribuídos pela literatura de assistência ao parto no Brasil
Ciência & Saúde Coletiva, 2020
Resumo Este estudo analisa os sentidos atribuídos ao conceito de medicalização do parto a partir de uma revisão narrativa de literatura em periódicos nacionais publicados entre 2000 e 2017. Parte-se da concepção mais geral sobre medicalização – entendida como o processo pelo qual a medicina amplia e consolida a sua área de atuação nos diversos campos da sociedade – e das diferentes formulações do conceito concebidas por estudiosos do século XX. Foram construídas cinco categorias que relacionaram medicalização do parto com: intervenções, disputa profissional, violação de direitos das gestantes, cenário do parto e reflexo da medicalização da sociedade. Nas quatro primeiras categorias encontramos um predomínio de sentidos que exploram uma interface entre medicalização e humanização, constituindo-se como duas supercategorias analíticas, com um predomínio de uma crítica ao modelo medicalizado. Fugindo a este modelo de análise, a categoria medicalização do parto como reflexo da medicaliza...
A medicalização do parto no Brasil a partir do estudo de manuais de obstetrícia
História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 2018
Resumo Nesta nota de pesquisa apresento um relato preliminar da pesquisa de doutorado em saúde da criança e da mulher que estou realizando no Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira/Fiocruz. Elegi como objeto de estudo a difusão dos saberes e práticas relativas ao parto. Optei em realizá-lo por meio da análise dos manuais de obstetrícia. Analiso manuais publicados no Brasil, entre 1980 e 2011, e pretendo contribuir para a construção de uma assistência ao parto no qual a mulher e suas necessidades sejam o centro no processo de tomada de decisões sobre os cuidados, intervenções e procedimentos a serem dispensados no trabalho de parto e no parto.
Cadernos de Gênero e Tecnologia
O presente artigo objetiva trazer alguns elementos bibliográficos sobre o processo de cientificização das práticas voltadas ao parto no Brasil do século XIX. As parteiras estiveram presentes no Brasil Colônia, desde o século XVI, seu saber tácito era utilizado, tanto para auxiliar as parturientes quanto para cuidar das diversas enfermidades associadas aos órgãos reprodutivos. A vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil em 1808 desencadeou; mudanças na colônia. A criação das faculdades de Medina nas cidades de Salvador e Rio de Janeiro foram responsáveis pelo processo de legitimação do saber médico, e a introdução da ginecologia e obstetrícia na região. Busca-se analisar o processo de transição do saber tácito representadas pelas técnicas das parteiras para o saber científico da medicina acadêmica.
Doulas como dispositivos para humanização do parto hospitalar: do voluntariado à mercantilização
Saúde em Debate
RESUMO O artigo analisa, a partir da perspectiva das doulas, sua inserção na assistência ao parto em hospital público de João Pessoa. Trata-se de estudo qualitativo, que utilizou a Tenda do Conto, com seis doulas, para a produção de dados, em 2017. A inserção das doulas no hospital não foi resultante de uma mudança de paradigma assistencial, produzindo resistências. Num cenário hostil à sua atuação, as doulas funcionam como gatilho de tensões entre modelos de cuidado divergentes, o que gera sofrimento nas próprias doulas, demandando estratégias de enfrentamento, a saber: afastarem-se do voluntariado; tornarem-se institucionalizadas; ou serem cooptadas pelo mercado do parto humanizado no âmbito privado.
A prática do parto humanizado no SUS: estudo comparativo
Acta Scientiarum. Health Science, 2006
The practice of humanized delivery in the Brazilian Health System (SUS): a comparative study. This descriptive study was conducted in maternities assisted by the Brazilian Health System (SUS), in the cities of Guarapuava and Londrina, State of Paraná. In the program implanted in Londrina, the aim was to analyze the assistance to the parturient regarding humanization to the child delivery. This context was then compared with the reality in the maternities of two hospitals in Guarapuava, where these practices are not applied. The comparison intended to verify if the rights of these women to humanized delivery are being respected. A half-structured questionnaire was applied to forty women in labor. While comparing these two different realities, it was observed that a few of these rights, advocated by the OMS, were not being respected, especially where the humanization delivery was not a practice. Data revealed that the partner's entrance was not allowed, neither were put into practice the parturient relaxation techniques, which evidenced that some institutions need to intensify these kinds of care in order to improve the quality of the assistance provided.
Interseções: Revista de Estudos Interdisciplinares
No Brasil estima-se que 98% dos nascimentos ocorrem em ambiente hospitalar. Embora o movimento de humanização do parto tenha ganhado terreno na assistência ao parto domiciliar, o cenário é distinto quando falamos do parto hospitalar, pois é justamente no ambiente hospitalar que são produzidas as alarmantes taxas de cesarianas (80% no setor privado e 35% no setor público) e altos índices de intervenção. Este artigo busca, a partir de uma reflexão autoetnográfica, situar o cenário de atendimento ao parto hospitalar em Maceió – AL. O planejamento do parto, do pré-natal, contato com obstetras, enfermeiras e doulas até seu desfecho serão aproximados com a construção de uma rota de fuga num cenário hostil. A autoetnografia desafia aspectos formais do modo como construímos nosso lugar de fala como pesquisadoras e permite explorar a partir de uma vivência pessoal a emoção e da catarse como parte intrínseca à pesquisa social. Não silenciar a violência é tomado aqui como uma ferramenta para...
A transnacionalização do parto normal no Brasil: um estudo das últimas cinco décadas
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Resumo Nos últimos anos têm ocorrido mudanças no sistema obstétrico brasileiro, em função da distância entre o cenário nacional e recomendações da Organização Mundial da Saúde e da atuação de movimentos sociais. Isso evidencia a necessidade de considerar tanto o contexto nacional como o internacional. A fim de compreender a influência da transnacionalização no parto normal no Brasil, conduziu-se uma pesquisa documental para rastrear a evolução do sistema obstétrico no país. Como resultado, observou-se que a trajetória histórica do parto normal não se restringiu às fronteiras nacionais, tendo padrões e recomendações transnacionais impactado localmente, direcionando a criação de novas regulamentações.
Evolução da assistência à gestação e ao parto no extremo sul do Brasil
Revista de Saúde Pública
OBJETIVO Descrever a evolução da assistência à gestação e ao parto entre puérperas residentes no município de Rio Grande (RS) utilizando dados de inquéritos realizados a cada três anos, entre 2007 e 2019. MÉTODOS Em até 48 horas após o parto foi aplicado questionário único, padronizado, a todas as mães que tiveram filhos nos hospitais locais e cumpriram os critérios de inclusão. Foram investigadas características demográficas e reprodutivas, hábitos de vida, nível socioeconômico da família e cuidados recebidos durante a gestação e o parto. Na análise, utilizou-se o teste qui-quadrado de tendência linear para avaliar a distribuição dos indicadores por inquérito. RESULTADOS Ao todo, 12.645 parturientes foram entrevistadas (98% do total de mulheres aptas a participar da pesquisa). No período avaliado, a proporção de partos caiu 35% entre adolescentes e aumentou 25% entre mulheres com 35 anos ou mais. As mães ganharam, em média, dois anos de escolaridade, e suas famílias tiveram importa...