A ortodoxia do “grande infiel”: ou sobre o uso do ceticismo Humeano por Kierkegaard e Hamann (original) (raw)

Hamann e Kierkegaard: da herança pietista à influência nos movimentos intelectuais dos séculos XVIII e XX (p. 12-17)

ANAIS DO PPGCR , 2019

Resumo: O objetivo desta comunicação é fazer uma breve análise da influência do movimento de reforma religiosa iniciado no século XVII, denominado Pietismo, sobre os pensamentos de Johann Georg Hamann (1730-1788) e Søren Aabye Kierkegaard (1813-1855) e suas consequências nos desdobramentos dos movimentos intelectuais dos séculos XVIII e XX, a saber, Romantismo e Existencialismo, respectivamente. Tendo em vista, que as ideias elaboradas por esses pensadores têm sido consideradas propulsoras desses movimentos. O pietismo foi uma reação contra o confessionalismo racionalista e enfatizava a profundidade e sinceridade da fé pessoal e a união direta com Deus, que poderia ser alcançada por meio de um escrupuloso autoexame. Hamann, foi criado em um ambiente pietista, assim como muitos intelectuais de sua época, mas o pietismo de Hamann se distinguia em muitos aspectos daquele defendido por pietistas ortodoxos, baseado em uma ênfase exagerada na emoção e no ódio ao saber. Entretanto, o seu antirracionalismo pode ser considerado uma herança pietista. Kierkegaard, considerado algumas vezes como o discípulo mais brilhante que Hamann possuiu, teve uma infância moldada pelas inclinações pietistas de seu pai, que era um membro proeminente da sociedade moraviana de Copenhague. Assim como Hamann, a influência do pietismo em Kierkegaard não é isenta de críticas, por outro lado, pode-se perceber que a ênfase do pensador dinamarquês na subjetividade e na verdade como apropriação, são heranças desse movimento, bem como os seus Discursos edificantes se aproximam muito ao gênero de escrita dos pietistas. Hamann e Kierkegaard, encabeçam, ainda que indiretamente, dois grandes movimentos intelectuais e suas influências podem ser vistas em algumas características comuns a esses movimentos. A ênfase dos românticos na vontade e não na razão, e suas críticas a padronização da vida e o elogio do gênio, parecem uma herança do “Mago do Norte”. Do mesmo modo, a ênfase dos existencialistas na existência em contraposição a essência, bem como as temáticas relacionadas a subjetividade, angústia, liberdade e absurdo, são uma herança kierkegaardiana. Assim, reconhecendo que Hamann e Kierkegaard desenvolveram suas obras sob o influxo do pietismo, pode-se dizer que o pietismo indiretamente é a raiz comum de onde brota a seiva que dará origem a esses movimentos. Palavras-chave: Hamann. Kierkegaard. Pietismo. Romantismo. Existencialismo.