“Somos índicos!”: notas sobre a questão identitária em Terra Sonâmbula, de Mia Couto (original) (raw)

“Somos índicos”: Questões de identidade e a representação dos indianos e do Índico na mundividência de Terra sonâmbula (Mia Couto, 1992)

Resumo: Mia Couto tem sido um interlocutor importante no processo de construção da identidade moçambicana, ao pôr em diálogo os diversos elementos étnicos, culturais e religiosos em presença no país. Este ensaio mostra de que forma a visão crioulista de Mia Couto é abordada no seu primeiro romance, Terra sonâmbula, publicado em 1992. Debruçamo-nos, em particular, sobre a representação do indiano na sociedade moçambicana pós-independência para entender de que forma esta figura problematiza os limites de um conceito de identidade que se restringe aos elementos africanos e europeus. Analisamos também o papel do Oceano Índico na construção dessa identidade moçambicana plural. Terra sonâmbula projeta uma ideia de moçambicanidade e de cidadania que se opõe à tendência para a homogeneização das experiências humanas. Mia Couto não apaga os conflitos nem nega a realidade histórica, mas privilegia, sim, a singularidade da natureza humana e o sentimento de fraternidade. Na nossa análise, fazemos uso de dois conceitos centrais para os Estudos do Índico: "fronteira" e "mestiçagem cultural". Palavras-chave: identity/identidade, Indian Ocean/Oceano Índico, Indians/indianos, moçambicanidade, Mia Couto Hispania 99.4 (2016): 563-75 AATSP

A construção da identidade em Terra sonâmbula, de Mia Couto

Cadernos Cespuc De Pesquisa Serie Ensaios, 2011

Este trabalho pretende analisar a questão da construção da identidade no romance Terra sonâmbula, de Mia Couto. O escritor nasceu em Beira, Moçambique, em 1955. O livro a ser discutido, publicado pela primeira vez em 1992, foi seu primeiro romance. Proveniente de um território periférico, marcado pela colonização portuguesa e pela recente guerra civil, a obra de Mia Couto revela-se de extrema importância para a análise da construção da identidade, pois questiona a suposta condição de dependência política e cultural em que se encontram os povos africanos de língua portuguesa. É essencial levar esses dados em consideração durante a leitura do romance de Mia Couto, visto que a questão da língua, da construção de uma ideia de nação e da especificidade da literatura em um espaço colonizado contribuem para a discussão. Não é gratuito o fato de que a identidade, bem como toda a ideia de país, se mostre no livro como uma busca pessoal e não como algo meramente herdado de outrem.

Genética intertextual e lusógrafa no discurso do romance Terra Sonâmbula, de Mia Couto

Letras Escreve, 2015

RESUMO: pela análise do texto do romance Terra Sonâmbula, de Mia Couto, percebemse semelhanças com algumas das melhores obras produzidas pelos autores da literatura latino-americana. Isso pode demonstrar ligação de causa, configurando relação com o trabalho de oficina do autor, isto é, matéria da crítica genética literária. As inspirações de moldam o produto da escrita do autor, além das marcas no papel do texto manuscrito, podem formar um conjunto de caracteres fundamentais para o estudo da origem da intenção de determinado produto literário. RÉSUMÉ: en analysant le texte de roman Terra Sonâmbula, de Mia Couto, nous trouvons des similitudes avec certains des meilleurs travaux réalisés par des auteurs de la littérature latino-américaine. Cela peut démontrer un lien de causalité, la configuration de connexion avec la boutique oeuvre de l'auteur, c'est à dire, le matériel génétique de la critique littéraire. L'inspiration de façonner le produit de l'écriture de l'auteur, outre les marques sur le rôle de l'écriture, peuvent former un ensemble fondamental de caractères à étudier l'origine de l'intention d'un certain produit littéraire. ABSTRACT: by analyzing the text of the novel Terra Sonâmbula, of Mia Couto, we find similarities with some of the best works produced by authors of Latin American literature. This may demonstrate causal link, configuring connection with the work shop of the author, ie, genetic material of literary criticism. The inspiration of shaping the product of the author's writing, besides the marks on the role of handwriting, can form a fundamental set of characters to study the origin of the intention of a certain literary product.

O Percurso Da Identidade Nacional Em Mia Couto

Revista Mulemba

Este estudo busca verificar o modo pelo qual o escritor moçambicano Mia Couto elabora aproblemática da identidade nacional em duas de suas narrativas curtas: “O cachimbo de Felizbento”e “As flores de Novidade”. Ambas as narrativas fazem parte do livro Estórias abensonhadas,publicado pela primeira vez em 1994. Primeiramente, o ensaio faz uma rápida historização daliteratura em Moçambique, passa por algumas teorizações atinentes à problemática das identidadese chega à questão do mitológico, pano de fundo necessário ao projeto estético do autor, já que omito retroalimenta a identidade, em razão do contato com a tradição. Em seguida, à luz dospressupostos abordados, as duas “estórias” passam a ser discutidas.PALAVRAS-CHAVE: memória, história, terra, mito, identidade

Identoralidade(s) em Mia Couto

Revista De Letras, 2019

Mia Couto states that “African culture is not a single one but a multicultural network in continuous construction” (COUTO, 2005, p. 79). The idea of a multiple and plural identity is related to the questions of tradition and roots of a people, with the need to “re-construct” rituals and beliefs, fundamental elements for the reconstruction of the identity of a country marked by war. The sixteen-year war with the desolation of the natural and human landscape did not provide a cultural context suitable for oral transmission. The need to rescue “the ancestral Mozambican imagery deeply rooted in orality (MARTINS, 2002), lost or forgotten, remains up-to-date and linked to the question of the definition of identity, of Mozambican cultural identity. Oral tradition helps to recycle and revive the collective memory and traditional culture of the Mozambican people, but orality alone is not enough to combat forgetfulness; it is necessary to write to reinforce and diversify the process of re-cre...

Identidade Indígena: Visões Sobre O Índio Em Maíra, De Darcy Ribeiro

Muitas Vozes, 2014

É como ele diz: "ser brasileiro, congolês, ou mairum, não é a mesma coisa? Você é mairum como eu podia ser congolês". Mas não é assim. Ele não diz: você é mairum como eu sou genovês, como nossos irmãos da Ordem são italianos, alemães, brasileiros. Diz que eu sou mairum (e sou) tal como aquele congolês a quem ele se refere tem a desgraça de ser de certa tribo do Congo. Ele não sabe, mas eu sei bem que, no dia em que houver uma nação congolesa mesmo, os mairuns de lá continuarão a ser mairuns, quer dizer, não-congoleses: ninguém! Isaías/Avá Maíra, de Darcy Ribeiro (1976)

Entre a tradição e a nação: a perspectiva utópica de Mia Couto para uma terra sonâmbula

Revista Cadernos de Clio, 2021

Com base nas contribuições do pensamento pós-colonial, procuramos compreender neste artigo como o autor moçambicano Mia Couto, em seu premiado romance “Terra Sonâmbula” (1992), se posiciona em relação ao futuro pós-colonial de seu país, escrevendo em um contexto de guerras aparentemente intermináveis e de extrema violência. Pensando nisso, veremos como o autor opta, ao lidar com o binômio tradição-modernidade, por elaborar uma síntese entre o resgate das tradições locais (incluindo espiritualidade, cultura e linguagem) e a superação da condição colonial que Moçambique vivia. Localizado entre tradição e modernidade (nação), ideias centrais nos conflitos entre o Estado revolucionário da Frelimo e as populações locais, Mia Couto constrói uma utopia, no sentido de uma proposta de sociedade moçambicana capaz de unir os esforços da nação moçambicana e construir uma nova via, superando tanto o colonialismo quanto a proposta dos movimentos de libertação que ele entendia como violentas e red...

A escrita da história de moçambique no romance Terra Sonâmbula, de Mia Couto

2000

The novel Sleepwalking Land by the Mozambican writer Mia Couto was published in 1992. In the same year, the war that raged Mozambique for sixteen years was coming to an end. The time of the narrative converges to the time of writing, turning the novel into an alternative narrative to historiography. The characters that represent the people are rehabilitated from the margins of official history. They become the actors of the 'little history', in which Mia Couto delineates certain idea of Africanness, tradition and national identity. Thus, this thesis intends to analyze the other history of Mozambique the author writes. For this, it searches in the interstices of the text the relationship with the contextfrom the position occupied by Mia Couto in the Mozambican reality to the dynamics of war and its impact on the civilian population. At the same time, it searches the changes and continuities of postwar in order to correlate the history to be written (or the story to be told) on which it lays the hope of the novel.