Brasil, uma democracia em colapso [Resenha do livro O colapso da democracia no Brasil: da constituição ao golpe de 2016, de Luis Felipe Miguel] (Caderno CRH - 2021) (original) (raw)

Padrões de interação estratégica nas eleições presidenciais de 2018: atores e temáticas

Dissertação de Mestrado em Ciência Política, 2021

Movimentos de direita possuem ordem crescente na atualidade e encontram apoio nos pilares e na lógica da democracia moderna, sustentando ideais do liberalismo, conservadorismo, autoritarismo e populismo. Esse cenário recente é acompanhado pela insatisfação crescente com a política e tem repercutido tanto em democracias recentes quanto em democracias consolidadas. No Brasil, atores sociais vinculados à direita ganharam representatividade social e visibilidade, disseminando um discurso antissistema parcialmente atribuído ao impacto das operações contra corrupção nos sistemas partidários e a recessão econômica entre 2014 e 2016. Com efeito, nas eleições para a presidência de 2018, o esfacelamento da aliança eleitoral tradicionalmente realizada com MDB/PMDB e a fragmentação das candidaturas de partidos de direita e centro-direita, provocaram uma alteração na dinâmica de interação estratégica que teria deixado de ser polarizada entre PT e PSDB. Assim, definimos como objetivo principal deste trabalho identificar e compreender os padrões de interação estratégica nas eleições presidenciais de 2018, indicando quais foram as temáticas priorizadas pelos partidos, seja pela ênfase em assuntos vantajosos em relação ao eleitorado ou, quando em rede de interação com outros partidos, àqueles que consideram prejudiciais ao adversário. Em um primeiro bloco, percebemos em todas as candidaturas o apelo antissistema e de Reforma Política. Já no espectro das candidaturas de centro-direita e de direita, a saliência tanto no manifesto quanto no HGPE está calcada sobretudo no ideário econômico liberal – com exceção para o PSL, na ênfase de valores conservadores em temas como família, aborto e na narrativa nacionalista no HGPE. Nossos resultados apontam também que embora PT e PSL não tenham interagido significativamente entre si, essas candidaturas foram, por meio da interação de terceiras candidaturas – notadamente PSDB, MDB, PODEMOS e PDT –, os polos centrais na rede de interações estratégicas construída no HGPE. Constituindo-se como uma estratégia daqueles que estão em desvantagem na corrida eleitoral, a propaganda negativa, direcionada primordialmente ao PSL e ao PT, não surtiu o efeito esperado. Ao contrário, os indícios aqui apresentados sugerem que ela pode ter impulsionado ambas as candidaturas, especialmente a do PSL. Constituídas por redes de interações majoritariamente diretas, efetuadas pelo próprio candidato adversário ou pelo narrador em off, PT e PSL foram associados, respectivamente, à corrupção e à disseminação de fake news e, conjuntamente, à polarização.