CANDOMBLÉS E CARNAVAIS: CORPOS DESFILANTES DE JOÃOZINHO DA GOMÉIA (original) (raw)

RESUMO O trabalho investiga a presença de Joãozinho da Goméia enquanto "destaque de luxo" em desfiles de escolas de samba da cidade do Rio de Janeiro, no final da década de 1960 e no início da década de 1970. Objetiva-se, com isso, o estabelecimento de conexões entre o universo dos "barracões" das religiões de matrizes africanas e a complexidade dos "barracões" das agremiações carnavalescas. De início, as relações históricas entre escolas de samba, cosmogonias negro-africanas e sociabilidades de terreiros são problematizadas, com base em proposições teóricas de nomes como Paul Gilroy e Muniz Sodré. Num segundo momento, a partir da prospecção bibliográfica e do recorte de fragmentos jornalísticos, são apresentados apontamentos sobre a importância dos destaques de carnaval, com ênfase em personagens desempenhados por João da Goméia em desfiles de 1969 e 1970, em escolas como Império Serrano, Império da Tijuca e Imperatriz Leopoldinense. Depois, as lentes investigativas são direcionadas para a reinterpretação visual de algumas fantasias utilizadas pelo Babalorixá, conforme o proposto no decorrer do desfile de 2020 do GRES Acadêmicos do Grande Rio, cujo enredo Tata Londirá: o Canto do Caboclo no Quilombo de Caxias dedicou um "setor" (o equivalente a um capítulo de uma narrativa) aos corpos desfilantes do personagem homenageado. Conclui-se, por fim, que João da Goméia pode ser compreendido enquanto agente mediador que transitava por círculos culturais distintos, mesclando, na sua corporeidade carnavalesca, os saberes trocados nos terreiros de Candomblé e as vivências nas quadras (outrora chamadas "terreiros") e nos barracões do "maior show da Terra".