A Violência Do Escravismo Em Machado De Assis (original) (raw)
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A Presença De Escravos Em Alguns Contos De Machado De Assis
Revista Prâksis, 2018
A escravidão é o nexo fundamental para pensar a literatura brasileira do século XIX. Na prosa machadiana, esse nexo histórico foi evidenciado por diferentes críticos (CHALHOUB, 2003, 2012; GLEDSON, 2006; SCHWARZ, 2000). Na leitura dos jornais, desde os anos de 1870, através da leitura de anúncios, vemos o quanto a presença do escravo doméstico era fato naturalizado no cotidiano do Rio de Janeiro (FREYRE, 2012; SCHWARCZ, 1987). Amas, copeiros, cozinheiros, moleques eram anunciados como objeto de venda ou de aluguel. Não apenas o trabalho era vendido ou alugado, mas o próprio trabalhar-escravo. Essa presença cotidiana de escravos é necessária (ou não) para a compreensão dos enredos? Alguns contos machadianos que trazem à primeiro plano do conflito a presença da escravidão: “Mariana” (1871), “O caso da vara” (1899) e “Pai contra mãe” (1906). Entretanto, há um apagamento da história pessoal do escravo enquanto personagem. A expressão “cria da casa” usada para caracterizar Mariana, uma m...
Criação literária no outono do escravismo : Machado de Assis
2013
Ao longo dos quatro anos de doutoramento fui desempregado, garçom, professor universitário, bolsista, bolsista de doutorado-sanduíche, garçom outra vez, bolsista outra vez. A instabilidade material e as constantes mudanças ocorridas nesse período foram minoradas pelo trabalho de diversas pessoas e instituições, que ajudaram no bom andamento da pesquisa e na realização desta tese. Como acontece com todo o trabalho intelectual, ela é resultado de um trabalho coletivo, do qual me sinto orgulhoso de fazer parte. Agradeço aos professores Antônio Marcos Vieira Sanseverino e Rejane Pivetta, pela preciosa banca de qualificação; aos professores José Pertille e Cláudia Caymmi, que me receberam em seus grupos de estudo sobre Hegel e Walter Benjamin; aos professores Homero Viseu Araújo e Maria da Glória Bordini, que leram artigos e discutiram ideias; à professora Gínia Maria Gomes, há tantos anos doando seu generoso e inestimável incentivo; a José Canísio Sher, pela diligência com que trabalha na secretaria da pós-graduação em Letras. Além de Antônio, Homero e Gínia, agradeço a Luis Augusto Fischer, Paulo Seben e Sergius Gonzaga pelas sugestões, colaborações e trocas do período de um ano como colegas de departamento (e pelas aulas ao longo da graduação e pós-graduação), bem como aos meus alunos na graduação em Letras da UFRGS, com quem tanto aprendi. Agradeço a K. David Jackson e sua família, que me receberam em New Haven com gentileza e humanidade. A interlocução humanista de Jackson contribuiu para a concepção do Capítulo I e para o planejamento do Capítulo II. Bella Grigorian, Paul Franks, Paulo Moreira e Moira Fradinger, professores da Yale University, receberam-me como ouvinte em disciplinas ou dialogaram comigo sobre a literatura brasileira. Em New Haven, contei ainda com a convivência e a amizade de Eva Kästle, Larissa Costa da Matta, Lazarre Seymor Simckes e Letícia Guterrez, que deixaram nas memórias deste amigo um sem número de sorrisos e boas histórias. Quero remarcar Larissa e Lazarre, pela paciência e amor com que me ensinaram e ouviram. Devo tanto à inteligência prática e generosa de Ana Flávia Souto de Oliveira, que se tornou impossível agradecer a tudo. Até mesmo o computador no qual boa parte dessa tese foi escrita é parte da sua generosidade. Alexandre Kuciak, Ana Flávia de Oliveira, Fabrício Santos da Costa e Janaína Tatim, em Porto Alegre, e Mateus Bruschi, em Bento Gonçalves, foram em toda a trajetória grandes companheiros. Fabrício Santos da Costa discutiu as linhas gerais da tese em diversas ocasiões. Janaína Tatim fez centenas de preciosos comentários machadófilos, além de me ajudar com a nova ortografia. A ela também devo diálogos, perguntas, incentivos e indicações impossíveis de indicar em notas de rodapé, de tão onipresentes. Os colegas Alexandre Nell, Carla Vianna, Gisélle Razera e Guto Leite, em momentos diferentes, por razões diversas, colaboraram no fazer da tese. No mesmo sentido, deixo referência aos colegas da Associação de Pós-Graduandos da UFRGS, que compreenderam minhas ausências sempre que precisei me dedicar à escrita. A professora Regina Zilberman orientou-me com máxima competência. Foi um enorme privilégio ter contado com sua interlocução. A ela também devo ajudas sem fim em dificuldades junto à burocracia dos órgãos públicos. Gostaria de assinalar ainda o exemplo de trabalho e seriedade que ela dá aos que enfrentam o desafio de fazer da universidade uma instituição consequente e responsável. Em parte do período de pesquisas no Brasil, fui contemplado com bolsa CNPq. Por nove meses, a mesma instituição contemplou-me com bolsa de doutorado-sanduíche na Yale University, em New Haven, Estados Unidos. Ao agradecer ao CNPq, espero contemplar os funcionários que se ocuparam dos meus processos durante o doutorado, todos eles pacientes e amáveis, na tarefa de amparar pesquisadores. Contei sempre com o amor e o apoio de
A Escravidão em Os Escravos, de Castro Alves
O texto realiza uma breve discussão sobre a definição de poesia adotada na obra de Castro Alves e, em seguida, estuda a representação da escravidão no livro Os Escravos, por meio da análise das figurações do negro nesses poemas.
Machado De Assis e a Escravidão: Marcas Do Cativeiro Nos Contos “O Caso Da Vara” e “Pai Contra Mãe”
Machado de Assis em Linha
Resumo Este artigo busca compreender a posição de Machado de Assis frente à escravidão, a partir do debate da tese do suposto absenteísmo político do autor em face daquele sistema. A análise dos contos “O caso da vara” (1891) e “Pai contra mãe” (1906) ocupa posição central no processo argumentativo, em especial ao conferir destaque a elementos muito relevantes para a organização do referido debate e, sobretudo, por evidenciar modos por meio dos quais a representação literária da ignomínia da escravidão estabelece perspectivas ficcionais, contrapontos e outras complexidades estruturais que ratificam posicionamentos críticos do escritor (já discerníveis em outros elementos examinados no texto) diante da instituição do cativeiro.
Representações Da Escravidão Nos Livros Didáticos De História Do Brasil
Revista Sociais E Humanas, 2008
Pretendemos através deste artigo analisar como alguns livros didáticos utilizados nas aulas de história do Brasil do Ensino Médio têm representado a temática da escravidão. Para tal, procederemos ao estudo dos livros em dois contextos. O primeiro se refere as obras didáticas produzidas antes da década de 1970, para relacioná-los à chamada história tradicional. O segundo contexto diz respeito aos livros editados a partir da década de 1970. Nas obras deste período percebemos dois aspectos importantes: a ênfase no materialismo histórico e nas análises estruturais e, principalmente, a partir dos anos 1980, a influência da pesquisa histórica sobre a escravidão brasileira oriunda das Universidades. Entre nossos objetivos estão caracterizar o tipo de abordagem realizada pelo livro, se mais analítica ou narrativa, bem como identificar as inspirações teóricas e conceitos privilegiados pelos autores. Organizamos a exposição em duas partes: primeiramente, enfocaremos como os livros didáticos explicam a introdução dos escravos africanos no Brasil colonial. Posteriormente analisaremos como os manuais didáticos caracterizaram a escravidão no Brasil, sempre atentos em avaliar em que medida os textos didáticos mais recentes dialogam com a pesquisa histórica sobre escravidão produzida nos programas de pós-graduação em história e pelos historiadores acadêmicos que trabalham com a temática. Palavras-chave: História do Brasil-livros didáticos-escravidão
A escravidão e o trabalho livre em Machado de Assis
Diálogos, 2010
Resumo. O objetivo deste trabalho é fazer uma reflexão sobre a maneira como a questão da escravidão/abolição aparece na obra de Machado de Assis. Num primeiro momento, far-se-se-á uma catalogação e uma exposição ilustrativa dos registros encontrados sobre este tema nos romances, contos e crônicas machadianos. Num segundo momento, far-se-á o apontamento de algumas hipóteses explicativas para o relativo distanciamento de Machado em relação à escravidão e ao movimento abolicionista.
O escravo que Machado de Assis censurou
A maior parte da produção dramática do século XIX no Brasil foi esquecida: poucas peças são mencionadas nos manuais de história literária, menos ainda estão em catálogo e, com raras exceções, quase nenhuma é regularmente encenada. Apesar disso, o teatro era o único meio de comunicação de massa da época e sua importância para a cultura nacional é impossível de ser exagerada. Em meados do XIX, os palcos brasileiros eram dominados por dois gêneros teatrais muitas vezes indistinguíveis. Os dramas românticos preocupavam-se mais com questões de formação da identidade nacional, frequentemente enfocando momentos-chave da história brasileira. Por sua ênfase na união da nação e na superação de conflitos, essas peças raramente abordavam de frente temas polêmicos como a escravidão. A escola realista, entretanto, seguiu outro paradigma, com montagens mais comedidas, trocando situações violentas e sentimentalismos por uma objetividade descritiva, abandonando o olhar para o passado e tentando produzir um " daguerreótipo moral " da realidade e costumes contemporâneos. Esses autores se confessavam utilitaristas e moralistas: o objetivo de suas peças seria a regeneração da sociedade tendo por base os valores éticos da nascente burguesia urbana, denunciando males como a prostituição, o adultério, o jogo, o casamento por influência, a usura, a agiotagem. Ao invés dos fatídicos e passionais casos de amor entre reis e marginais, artistas e boêmios, as peças agora apresentam namoros pudicos entre jovens bem comportados, levando a casamentos felizes e bem-ajustados. Ironicamente, apesar da natureza conservadora dessas peças, um dos seus temas principais era a denúncia da escravidão. O foco, entretanto, era sempre uma defesa feroz da sagrada instituição da família burguesa: a escravidão era um problema social não por suas falhas estruturais, mas porque sujeitava os senhores brancos às tentações da fornicação doméstica.
Intertextualidade bíblica e escravidão em Machado de Assis (duas crônicas de maio de 1888)
Estudos Semióticos, 2010
Intertextualidade bíblica e escravidão em Machado de Assis (duas crônicas de maio de 1888) Paulo Sérgio de Proença * Resumo: Em 17 de maio de 1888, em ação de graças pela abolição dos escravos, foi celebrada uma missa, com a presença da Princesa Regente e outras autoridades. Alusiva ao evento, uma crônica machadiana parodia o evangelho da missa. Como o primeiro evangelho bíblico, a paródia tem o seu Cristo, João Batista, discípulos e uma parábola. Além dos evangelhos bíblicos, a crônica menciona os livros Deuteronômio e Eclesiastes. Ao superpor, de forma paródica, eventos e personagens de sua época aos bíblicos, o autor provoca efeitos específicos que fazem refletir sobre o significado dos acontecimentos retratados, numa crítica aos políticos e aos acontecimentos que resultaram na adoção da abolição. Machado escreveu outra famosa crônica, publicada em 19 de maio de 1888, na qual não faltaram alusões bíblicas para celebrar a libertação do escravo Pancrácio. O narrador diz antecipar-se ao poder público e liberta seu molecote escravo, dando, para festejar a ocasião, um banquete. Imagens bíblicas são usadas para dar realce ao evento; tudo com a finalidade de projeção do próprio narrador, que não esconde suas aspirações políticas. Para essa finalidade, nada melhor do que parecer cultivar os valores cristãos e praticar falsa benemerência. Qual o efeito de sentido da intertextualidade bíblica nessas peças de Machado em relação à escravidão? É o que se pretende investigar.