Imaginar o inimaginável: o testemunho reinventado pelas fotografias em Maus, de Art Spiegelman (original) (raw)
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A posmemória em Maus, de Art Spiegelman
O presente trabalho investiga a maneira segundo a qual a produção cultural das gerações pós-Shoá concilia a sensação de irrealidade do genocídio e as memórias que o circundam. É a partir daí que partimos para a análise de Maus-a survivor's tale (publicação completa em 1991), obra de Art Spiegelman que se dedica a arquitetar o discurso de seu pai, Vladek Spiegelman, sobrevivente da Shoá. Além do testemunho e de uma série de referências históricas-fotografias, panfletos, livros e depoimentos de outros sobreviventes, Art mescla as memórias pública e privada e também lança mão de outros mecanismos de representação que quebram a barreira da incompreensibilidade da Shoá, tal como ilustrações que justapõem o passado e presente. A medida em que investigamos outros trabalhos teóricos que abordam a Shoáinclusive o outro trabalho de Spiegelman, denominado Metamaus (2011)-verificamos como as propostas culturais das gerações posteriores ao genocídio oferecem novos olhares e, consequentemente, novas perspectivas ao estudo de tamanha situação traumática. A hipótese do presente trabalho é de que o autor de Maus cria uma dinâmica tridimensional na transformação transgeracional da realidade do passado por meio de sua ressignificação simbólica.
Maus, de Art Spiegelman: uma outra história da Shoah
Sinteses Issn 1981 1314, 2011
Resumo: O texto tem o objetivo de apresentar a obra Maus, de art spiegelman, como uma nova forma de transmissão dos traumas da Shoah. Com a proximidade do fim das gerações de sobreviventes, as atenções se voltam para produção daqueles que tiveram contato indireto com a tentativa de aniquilamento de judeus nos campos de extermínio nazistas. Nesse grupo, encontra-se o autor da obra que analisamos com um livro no formato de quadrinhos inovador não só entre os testemunhos, mas também entre os próprios quadrinhos. a composição de textos e desenhos feita por spiegelman enfrenta as mesmas limitações de outras obras de testemunhos diretos ou indiretos ao tentar narrar o que não se narra, mas mostra elementos bastante interessantes na representação artística da memória. além disso, Maus traz uma série de experiências nesse tipo de literatura ao justapor a história de sobrevivente de auschwitz narrada pelo pai com a sua própria vida de filho de sobrevivente com as implicações dessa situação.
Sobre riscos, rostos e ratos: um olhar à visualidade em Maus, de Art Spiegelman
2016
Este trabalho se debruca sobre a historia em quadrinhos Maus: a historia de um sobrevivente, de Art Spiegelman, buscando com esse olhar entender o codigo imagetico adotado pelo autor na construcao narrativa de seu romance grafico. Partindo de questoes mais amplas, como o historico desse meio narrativo e sua linguagem, a presente analise contextualiza a obra dentro do universo das comics para, em seguida, aprofundar-se nas especificidades de sua construcao narrativa, em particular as escolhas visuais adotadas por Spiegelman. Em uma tentativa de ampliar as possibilidades interpretativas da obra, aplicamos o conceito benjaminiano de alegoria como chave para o entendimento da representacao dos judeus como ratos e seu processo de construcao. Desse modo, espera-se compreender um pouco mais sobre a peculiar linguagem dos quadrinhos, em particular os recursos e processos narrativos presentes em Maus.
Fotografia: A imagem que ultrapassa o testemunho
Propõe-se uma reflexão sobre o potencial da fotografia como técnica de coleta de dados em investigações científicas envolvendo processos comunicacionais, bem como sobre fundamentação teórica para análises, de modo que incorporem novos significados aos resultados dessas investigações, além dos obtidos por meio de outras técnicas de pesquisa.
Resumo: Através da análise da obra Maus escrita por Spiegelman, serão observadas duas características presentes na narrativa da memória do Holocausto. A primeira é referente à forma pela qual o sobrevivente descreve os acontecimentos enquanto procura esquecer o seu passado traumático, atribuindo sentido à sua experiência e sendo direcionado pelas indagações na entrevista. A segunda é voltada à representação dessa experiência em um gênero textual, onde aquele que não viveu tais acontecimentos procura se basear em uma limitada perspectiva para reconstruir um passado subjetivo. Com essas reflexões, é possível fundamentar uma aproximação da história com a memória por meio da elaboração de bases metodológicas que ressaltam a limitação subjetiva das experiências individuais, mas também apontando indícios e abordando o passado por meio de uma perspectiva sensível à heterogeneidade social. Abstract: Through the analysis of the book Maus written by Spiegelman, two characteristics present in the narrative of the memory of the Holocaust will be observed. The first is about how the survivor describes events while he seeks to forget his traumatic past, giving meaning to his experience and being guided by inquiries in the interview. The second focus on the representation of this experience in a textual genre, where one who has not lived such events seeks to rely on a limited perspective to reconstruct a subjective past. With these observations, it is possible to base an approximation of history with memory by means of the elaboration of methodological bases that emphasize the subjective limitation of the individual experiences, but also pointing indications and approaching the past through a perspective sensitive to the social heterogeneity.
Ressonâncias do Trauma: Considerações Sobre Identidade Nas "Máscaras" de Maus, de Art Spiegelman
Resumo: A graphic novel de Art Spiegelman, Maus, alcançou entre o público e a crítica o reconhecimento que Will Eisner e outros importantes escritores de narrativa seqüencial buscaram por algumas décadas. Este reconhecimento parece estar diretamente ligado a forma como Spiegelman registra em uma graphic novel a memória de seu pai, sobrevivente de Auschwitz, as ressonâncias do trauma na geração que sucedeu o Holocausto e a complexidade afetiva e ética de se abordar o Shoah. A partir do elemento "máscara", o presente estudo pretende observar a relação entre tais questões em Maus e as estratégias éticas e políticas ativadas por Spiegelman ao revisitar a memória e o trauma de Vladek Spiegelman, assim como os traços de identidade que as compõem. Para tal fim, tomaremos como base o pensamento de Theodor Adorno e os estudos de alguns de seus comentadores, como Jeanne Gagnebin e Márcio Seligmann-Silva. Palavras-chave: Maus, Testemunho, Shoah, Art Spiegelman. "Ach. When I think now of them, it still makes me cry… look-even from my dead eye tears are coming out!" (SPIEGELMAN, 1986, p. 84) A aclamada graphic novel de Art Spiegelman se inicia com uma breve lição, um prelúdio para o primeiro volume de Maus (SPIEGELMAN, 1986), "My Father Bleeds History", uma prévia da complexidade desta obra-da esfera autoral à ética e política-, que se tornaria um elemento fundamental para a maturidade das narrativas seqüenciais. Art, ainda criança em Rego Park, relata a seu pai, Vladek Spiegelman, o incidente em que é abandonado por seus colegas e prontamente é questionado por ele: "Amigos? Seus amigos?... Se trancar elas em quarto sem comida por um semana... aí ia ver o que é amigo!" (SPIEGELMAN, 1986, p. 6). Nesta passagem introdutória de Maus está visível uma questão cara a Spiegelman, e que reflete um mecanismo que será utilizado por toda a narrativa, o diálogo intencional entre "individual"-a relação entre Art e Vladek, a história de Vladek, a busca de Art pela memória dos pais-e o "universal"-os horrores do Holocausto e os conflitos éticos e afetivos que orbitam a abordagem estética deste tema. O relato de infância de Spiegelman ilustra de forma incipiente um aspecto desta obra que se pretende aqui refletir: a presença da memória e as reverberações da experiência traumática da Shoah na "tarefa infinita" da geração "pós-Auschwitz" de abordar o Holocausto na "meta-graphic novel" do personagem/escritor Art Spiegelman. Para tal fim, tomaremos como norte a questão da identidade na "estratégia animal" de Maus. Maus é certamente a obra que traz notoriedade a Art Spiegelman-já respeitado por seu trabalho como escritor e desenhista pelo público de "HQs" independentes-, e possivelmente, uma das primeiras graphic novels a ter sua "qualidade" reconhecida pelo adjetivo "literária". Ativando uma série de gêneros narrativos em seu interior, Maus é uma das obras que melhor explorou as potencialidades da narrativa seqüencial.Contudo, o que salta instantaneamente aos olhos do leitor é a forma como Spiegelman "retrata" judeus, poloneses, alemães, americanos e franceses, respectivamente, ratos, porcos, gatos, cães e sapos. Esta estratégia narrativa e, para algumas leituras, mimética, de Spiegelman, exige algumas considerações. A epígrafe do primeiro capítulo de Maus é uma citação de Hitler, "Sem dúvida, os judeus são uma raça, mas não são humanos." (SPIEGELMAN, 1986, p. 2) Mais adiante, na epígrafe do segundo volume de Maus, Spiegelman cita uma passagem do artigo de jornal alemão da década de 30: Mickey Mouse é o ideal mais lamentável de que se tem notícia [...] As emoções sadias mostram a todo rapaz independente, todo jovem honrado, que um
Cordis Revista Eletronica De Historia Social Da Cidade Issn 2176 4174, 2012
Este trabalho investiga a tradição imagética presente nas representações do Holocausto, procurando assinalar a problemática relação entre realidade e ficção nas obras Maus (2005), escrita por Art Spiegelman, e Os emigrantes (2009), de Winfried Georg Maximilian Sebald. Compreende-se que, como ocorre nos livros aqui estudados, as imagens podem autorizar a veracidade de narrativas literárias, pois, ao inseri-las no texto, os escritores constroem uma sensação de real e, ainda, ampliam as possibilidades de representações do Holocausto.
Revista Temporalidades, 2019
Artigo publicado na Revista Temporalidades: v. 11 n. 2 (2019): Edição 23. RESUMO: Este artigo tem por objetivo analisar os conceitos de representação e de narrativa partindo de duas formas de representação do Holocausto, sobretudo de Auschwitz. Utilizando as narrativas escritas do sobrevivente italiano Primo Levi em suas principais obras É isto um homem? (1988) e Afogados e Sobreviventes (2016) e o quadrinho Maus (2009), do ilustrador sueco Art Spiegelman, pretende-se pensar em formas diferentes e possíveis de representação de um mesmo evento. A premissa é, sobretudo, compreender, a partir de uma narrativa escrita e uma história em quadrinhos, como se dá a construção da noção dos limites da representação e da ineficiência da linguagem para narrar um evento tão traumático como o Holocausto. Para isso, serão utilizadas as análises de Hayden White, Carlo Ginzburg e Roger Chartier acerca do conceito de representação e a reflexão de Hannah Arendt e Seyla Benhabib sobre a ideia de narrativa, tentando mapear o indizível do trauma e outras maneiras possíveis de compreender os campos de extermínio. PALAVRAS-CHAVE: Representação; Primo Levi; Maus. ABSTRACT: This article aims to analyze the concepts of representation and narrative using two forms of representation of the Holocaust, especially of Auschwitz. Using the written narratives of the Italian survivor Primo Levi in his major works If this is a Man (1988) and The Drowned and the Saved (2016) and the Maus (2009) by the Swedish illustrator Art Spiegelman, we intend to think of different and possible forms of representation of the same event. The premise is mainly to understand from a written narrative and a illustration book how the construction of the notion of the limits of the representation and the inefficiency of the language to narrate a event as traumatic as the Holocaust occurs. For this, we will use the analyzes of Hayden White, Carlo Ginzburg and Roger Chartier on the concept of representation and the reflections of Hannah Arendt and Seyla Benhabib on the idea of narrative, trying to map the unspeakable of the trauma and other possible ways to understand the extermination camps. KEYWORDS: Representation; Primo Levi; Maus.