A educação escolar do indígena brasileiro (original) (raw)

Educação escolar indígena em Pernambuco

Debates em Educação, 2022

Desde o início do contato entre indígenas e europeus, sobretudo a partir da segunda metade do século XVI, a educação foi usada pelos colonizadores como ferramenta de controle e dominação dos povos nativos. Esse interesse na "instrução" dos indígenas, portanto, não era desinteressado, mas buscava atender a demandas religiosas, agráriomercantis, bélicas etc., dos próprios colonizadores. A partir, sobretudo, dos anos 1980, esse modo de o Estado se relacionar com os povos indígenas é colocado em questão, deslocando os paradigmas de controle, assimilação e integração para paradigmas interculturais. O presente artigo versa sobre essas mudanças no contexto de Pernambuco, a partir das mobilizações dos povos indígenas para a efetivação de uma educação escolar indígena específica, diferenciada e intercultural. Palavras-chave: Educação escolar indígena. Educação Intercultural. Povos indígenas em Pernambuco.

Educação indígena e educação escolar indígena no Brasil

Nesta discussão pretende-se colocar algumas questões relevantes sobre a temática da educação indígena no Brasil. Quando falamos em "educação indígena" referimo-nos, principalmente às práticas de alfabetização e a todos os processos educativos formais destinados as populações indígenas. O mais correto, nesse caso, seria usar o termo "educação escolar indígena", já que a "educação indígena", propriamente dita, abrange os tradicionais métodos de produção e comunicação de conhecimentos entre os membros dessas comunidades. Usa-se as duas definições, nesse sentido, ao longo desta apresentação. Devido à complexidade e à variedade das situações que vivem as diferentes sociedades indígenas do Brasil, não pretende-se pintar um quadro exaustivo, e sim apresentar algumas questões que possam estimular reflexões mais profundas sobre o assunto. No início analisa-se a situação da educação formal, ou seja, a chamada "educação escolar indígena", apesar das grandes diferenças que se encontram nos diferentes casos. Tenta-se evidenciar quais são as características gerais que envolvem a edificação de tal sistema escolar, apresentando, ao mesmo tempo, alguns exemplos que possam abrir novas perspectivas e novos espaços. A seguir, dirige-se o foco da discussão para a tradicional atividade de criação e transmissão de conhecimentos entre os membros das comunidades indígenas, visando evidenciar o processo de aprendizagem como construção coletiva por parte de toda a comunidade. No final tenta-se analisar quais são as afinidades e as diferenças entre os dois sistemas educativos e as influências que a sobreposição dos dois tem nas sociedades indígenas. Ao enfrentar a questão é preciso dizer que no Brasil, a partir do século XVI até os dias atuais, a oferta de programas educativos para as comunidades indígenas através da implementação das escolas, sempre foi a de catequização, civilização e integração à sociedade nacional. Essa catequização foi iniciada com os missionários jesuítas, passando pelos positivistas do Serviço de Proteção aos Indíos (SPI), depois Summer Institute of Linguistics (SIL) até a Fundação Nacional do Indío (FUNAI), envolvendo o ensino catequético e o ensino bilíngüe. A finalidade sempre foi a mesma: a tentativa de negar a diferença, de conseguir que o índio se transformasse em algo diferente do que era, ou seja, que virasse "branco", deixando de participar do conjunto de conhecimentos ancestrais dos quais a comunidade indígena era portadora. Nesse sentido, a criação da escola entre os grupos indígenas serviu de instrumento de imposição de valores alheios e de negação das identidades particulares e diferenciadas dos próprios grupos. Nos últimos anos, este quadro parece estar vivenciando um rápido processo de transformação. Diferentemente das precedentes práticas e retóricas levadas em frente pelo estado e pelos diversos sujeitos envolvidos nos processos educacionais, novos atuantes passaram a trabalhar juntos com as comunidades, na tentativa de encontrar alternativas à submissão destes grupos. Dessa forma, a escola vem ganhando um novo sentido e um diferente significado, vem se transformando num instrumento que garante o acesso aos conhecimentos gerais, sem negar as especificidades culturais e a identidade diferenciada. Essas novas experiências estão surgindo em várias regiões do Brasil, a partir da participação, as vezes, das próprias lideranças, construindo curriculos educacionais específicos à realidade social, cultural e histórica de cada grupo. Enfim o objetivo é de levar em conta o próprio projeto de futuro da comunidade. Historicamente a categoria étnica e social definida como "indígena" sempre foi vista como transitória e fatalmente em risco de extinção. As novas situações políticas e sociais, nas quais podemos observar um incremento demográfico, mas também, um crescimento das reivindicações dos próprios valores culturais, junto com a crescente mobilização das diversas lideranças, evidenciaram a necessidade de estabelecer novas formas de relacionamento jurídico entre os diferentes esquemas dentro dos quais insere-se a criação de saberes. Essa nova perspectiva, que tem como finalidade a criação de uma nova escola indígena, leva a acreditar que se estão procurando formas inovativas de conjugar os saberes "universais" da humanidade com os conhecimentos próprios de cada grupo, dentro dos tradicionais meios e realidades socioculturais dos diferentes povos indígenas. Temos que lembrar, porém, que quando nos referimos a "saberes universais" Sessione non tematica / Sesión no temática

Reflexões sobre a educação escolar indígena

Diversidade e o campo da educação: (re) leituras e abordagens contemporâneas, 2016

Se estivermos corretos, pensar a educação escolar indígena no Brasil e nas Américas é pensar a relação de línguas/culturas em contato com uma língua/cultura radicalmente diversa. Uma consequência possível é que os padrões de medição de qualidade de escolas indígenas necessitam ser radicalmente diversos dos padrões aplicados em escolas não-indígenas. Importante ressaltar que as diferenças sociais e regionais em uma sociedade já deveriam forçar o Estado a assumir padrões diferentes de medição de qualidade . Contudo, é importante deixar claro, desde o início, que a presença da escola em Terra Indígena serviu e, infelizmente, ainda serve como o local de sedimentação de uma relação assimétrica entre a cultura e a língua majoritária e as línguas e culturas minoritárias.

Obstáculos à educaçao escolar indígena

Ambiente: Gestão e Desenvolvimento

Este artigo apresenta o cenário ao qual se estabeleceu a Educação Escolar Indígena como um modelo educacional diferenciado na Amazônia Sul-Ocidental, tendo como objetivo apontar obstáculos impostos ao desenvolvimento do modelo ao longo do tempo, assumindo a noção de obstáculo epistemológico de Gaston Bachelard (1996). Para tanto, foram realizados estudos de revisão bibliográfica de pesquisas científicas desenvolvidas no Brasil disponíveis no acervo da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações que tratam sobre a temática no contexto amazônico e defendidas no período de 2015 a 2020. Para compor as análises, foi realizada uma revisão de literatura com foco nos objetivos, na contextualização histórica e nos resultados dos trabalhos selecionados. Como resultados, apresentamos similaridades nos contextos nacional e local, contudo diferentes temporalidades, problematizações que emergem de diferentes cenários, reconstrução do percurso histórico do modelo educacional, com ênfase ...

Roteiro para uma história da educação escolar indígena

RESUMO: O texto visa apresentar um roteiro para a história das políticas educacionais voltadas para os povos indígenas, a partir da consideração das suas relações com as políticas indigenistas. Na articulação entre os campos indigenista e da educação sugere pensar como as questões das diferenças culturais dos povos indígenas orientaram diferentes projetos de educação escolar indígena. No roteiro proposto, parte-se do período "assimilacionista" e "civilizatório" do início do século XX, marcado pela ideia de uma necessária unidade da nação, passando pelas reformas desta política em que é reconhecida a importância do ensino bilíngue nos processos de escolarização, até o momento atual, caracterizado pela busca do reconhecimento da diversidade cultural como direito fundamental, colocando novos desafi os para as políticas educacionais.

A "inclusão" do indígena na escola

Revista Panorâmica, 2017

Este estudo tem como objetivo analisar a “inclusão” dos indígenas na escola “regular”. Respondendo perguntas como: de que forma os índios são incluídos na escola? São respeitados os princípios e diretrizes estabelecidos na LDB/CF (lei de diretrizes e bases e constituição federal)? Suas características culturais estão interagindo gradativamente na diversidade do ambiente como a escola? Metodologicamente, para isso utilizou-se uma revisão bibliográfica, baseada em escritores como Magalhães (2009), Tsi'rui'a (2012), Damatta (2016), entre outros. As evidências foram fundamentadas por meio de afirmações e depoimentos entregues ao pesquisador, observações que permitiram contato pessoal e próximo com o fenômeno investigado e entrevistas, que já trarão um contato ainda maior e captação imediata do objeto estudado. Visando discutir essa inclusão, foi proposta a coleta de informações extraídas de escolas regulares localizadas nas cidades de Aragarças-GO e Barra do Garças-MT, a fim de buscar respostas aos pontos de dúvidas e oferecer uma abordagem discursiva. O desconhecimento da cultura do outro pode levar a uma visão etnocêntrica, dificultando muitas vezes a visualização de outras possibilidades, como a convivência saudável entre diferentes culturas. Sobre a análise feita para a construção daquela obra; talvez a maior barreira tanto ao convívio como ao apoio ao ensino seja a língua; percebendo-se como fator de dificuldade na permanência dos estudantes indígenas na escola “regular”.

Educação escolar indígena em São Gabriel da Cachoeira/AM: um pouco de história

ODEERE

Nesse artigo pretendemos identificar, descrever e caracterizar o contexto em que se inseriu uma pesquisa de doutorado, desenvolvida no programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, onde fizemos uma breve retrospectiva histórica da educação escolar indígena no município de São Gabriel da Cachoeira, região do Alto Rio Negro, no estado do Amazonas. Através de pesquisa de natureza básica, descritiva, quanto aos objetivos, bibliográfica quanto aos procedimentos, partimos da seguinte questão: como foi o processo inicial de construção de uma educação escolar indígena nesta região? É preciso pensar a formação de professores indígenas a partir de suas concepções de mundo e de homem e das formas de organização social, política, cultural, econômica e religiosa desses povos, já que estamos inseridos nesse contexto.

Educação escolar indígena: trajetórias históricas e momento atual no Brasil e na Bahia

Pontos de Interrogação — Revista de Crítica Cultural, 2015

O presente trabalho apresenta a trajetória histórica da educação escolar indígena do Brasil e da Bahia em seus aspectos mais significativos, numa perspectiva de enfatizar o processo de lutas advindas do Movimento Indígena Brasileiro a partir da década de 1970, imbricado com os pressupostos da história política, no estabelecimento de uma relação de poder e questões hierárquicas, assim como os desafios que os povos indígenas do Brasil e da Bahia têm vivenciado para garantir o direito a uma educação específica, inter-cultural, comunitária e diferenciada, de acordo com a legislação educacional pertinente a esta educação.

Para uma cartografia da educação escolar indígena

Pontos de Interrogação — Revista de Crítica Cultural, 2015

ResumoEste artigo pretende informar e discutir questões concernentes ao ensino, pesquisa e políticas linguísticas no âmbito da escola indígena, a partir das ações realizadas pelo Núcleo Local do Observatório da Educação Escolar Indígena do território etnoeducacional Yby Yara, bem como das práticas de linguajamento produzidas no âmbito de outros espaços de atuação dos povos indígenas do Brasil. Numa primeira parte, apresentamos o que é a educação escolar indígena e o papel do professor indígena no sentido de contextualizar a reflexão sobre a complexidade dos discursos de identidade na escola indígena, tendo como foco a “retomada da língua Patxohã”, entre os Pataxó. No segundo momento, apresentamos outro exemplo de política linguística, baseado nos exercícios de linguajamentos presentes nos multiletramentos que atravessam as práticas escolares dos povos indígenas do Brasil.Palavras-chavePovos indígenas. Educação. Políticas linguísticas. Multiletramentos.