Medicalização na escola e a produção de sujeitos infantis (original) (raw)

O dispositivo da medicalização na educação e a produção do sujeito medicalizado: notas sobre a supressão da diferença na escola

(Des)troços: Revista de Pensamento Radical, 2024

O dispositivo da medicalização, situado em um contexto de primazia da racionalidade neoliberal, tem atravessado enunciados discursivos e práticas em educação. O alastramento do saber-poder biomédico às demais esferas da vida social, por sua vez, acaba por reduzir as subjetividades ao seu caráter biologizante, suprimindo singularidades e quaisquer possibilidades de potencialização da existência. A partir disso, este artigo propõe uma problematização voltada à compreensão das formas de produção do sujeito medicalizado e da insurgência de um dispositivo de medicalização que suprime a diferença, além de apontar a necessidade da produção de resistência para a garantia de subjetividades dissidentes. Indica-se, assim, a emergência de uma normatividade que preconiza a cisão normal/patológico em relação àquilo que é considerado como “boa” conduta, traduzida a partir de entidades nosológicas psiquiátricas. Ainda, observa-se a presença da diferença caracterizada como desvio às normas estabelecidas, o que permite conjugar o dispositivo da medicalização e suas tecnologias de poder, como os diagnósticos e medicações. Por fim, sugere-se a reafirmação da diferença como forma de contraconduta ao saber-poder biomédico, além do questionamento à medicalização como nova normalidade, configurada como dispositivo de controle social.

Medicalização da infância

Olhares & Trilhas

O uso de medicamentos, em especial o metilfenidato, por crianças diagnosticadas com transtornos de comportamento e/ou de aprendizagem, cresce, exageradamente, no Brasil. Neste estudo, apresentamos o resultado de uma pesquisa bibliográfica de artigos sobre a medicalização da infância, publicados entre 2002 e 2017. Selecionamos trinta artigos, destacando o ano de publicação, as revistas, as áreas de pesquisa dos autores e seus posicionamentos quanto à indicação e/ou ao uso de psicofármacos por crianças com diagnósticos frutos de queixas de problemas escolares. Nessas análises descritivas buscamos quais são as contribuições das publicações para a Educação. Os resultados indicaram que 90% dos trabalhos têm pelo menos um autor da área da Psicologia. Todos os autores dos artigos selecionados fizeram críticas à patologização e à medicalização das crianças como forma de escamotear fatores sociais. Diante dos indicadores obtidos, conclui-se que há necessidade de mais reflexões problematizan...

Medicalizando crianças e adolescentes

Revista Estudos de Sociologia, 2023

A medicalização é um fenômeno global, progressivo, característico da sociedade contemporânea. A proposta deste artigo consiste em analisar criticamente os fundamentos do modelo de doença baseado na perspectiva biomédica que justifica diagnosticar e tratar com drogas psiquiátricas os comportamentos infantis, compreendendo-os enquanto doenças mentais. No centro da justificativa da medicalização dos comportamentos infantis se estabelece a ideia de que as drogas (psicofármacos) irão corrigir uma anormalidade biológica, cerebral, subjacente. Contudo, a medicalização da infância prescinde de evidências científicas suficientes e funciona como estratégia de controle e de normalização sociais. A nomenclatura ‘transtorno mental’ é utilizada para designar pessoas que não se comportam da forma esperada ou quando não se conformam com as normas sociais. Trata-se da expressão do controle social disfarçado de tratamento médico. As consequências da medicalização constituem fortes ameaças para a saúde pública, a cultura e os próprios Direitos Humanos.

Problemas escolares, medicalização e singularidades de adolescentes

ETD: Educação Temática Digital, 2021

RESUMO O presente artigo descreve os resultados de uma pesquisa/intervenção de orientação psicanalítica por meio do relato de um estudo de caso de uma aluna do ensino fundamental de uma escola pública da rede estadual de ensino da cidade de Itabira-MG. A estudante apresentava várias dificuldades de aprendizagem e impasses na esfera escolar, enfrentados por meio do processo de medicalização. Contrapondo-se à medicalização, o caso visa demonstrar a contribuição de um dos procedimentos adotados nesta pesquisa: o diagnóstico clínicopedagógico (DCP), cuja intervenção realiza a leitura daquilo que o adolescente ensina ao educador sobre sua singularidade e sobre as particularidades que se repercutem na sua relação com o saber e com os laços sociais engendrados na escola. Os resultados obtidos por meio do DCP permitiram perceber o impacto do fenômeno da adolescência nas relações com o saber escolar e a possibilidade de utilizar abordagens teóricas e práticas que permitam aos sujeitos agir sobre os seus problemas.

“Levados da breca”: a medicalização infantil no âmbito escolar

Perspectiva, 2021

A infância, entendida como “invenção moderna”, é permeada por processos culturais que incidem nos corpos infantes nos mais variados espaços onde estão inseridas. Nesse ínterim, uma multiplicidade de saberes técnico-científicos constrói verdades organizando os modos de compreensão da infância. Esta pesquisa foi realizada junto aos profissionais de educação de escolas públicas de um município do sul do Brasil a fim de compreender como ocorrem os processos de encaminhamento de crianças aos especialistas da área da saúde responsáveis pelo diagnóstico e tratamento biomédico de transtornos relacionados à infância. O diagnóstico e elaboração de laudos mostrou-se uma maneira rápida de resolver problemas que demonstram incômodo na escola, tais como agitação, falta de atenção, baixo desempenho escolar, transformando comportamentos indesejados em patologias. A problemática que está em questão não realizar um juízo de valor, mas repensar como práticas de medicalização se disseminam dentro e for...

A Medicalização do Fracasso Escolar

Revista de Psicanálise – Grandes temas do conhecimento, 2015

Fala-se muito, no ambiente da escola, em manter a ordem e a organização da sala de aula, como se isso fosse garantia de um espaço saudável,excluindo o diferente, homogeneizando as características de cada comportamento individual e descaracterizando a diversidade. Com essa ideia de tornar os cidadãos mais “perfeitos” de uma padronização, passou-se a patologizar algo natural e humano, a vida...

A Medicalização Da Infância e O Processo Psicoterápico

2013

Esta pesquisa averiguou a relacao entre a medicalizacao e o processo psicoterapico de criancas. Trata-se de uma pesquisa quantitativa, descritiva e correlacional, desenvolvida a partir da analise de 348 prontuarios de pacientes com idade de ate 12 anos de ambos os sexos, atendidos pelos estagiarios do curso de Psicologia num Servico de Saude, no Vale do Rio Pardo/RS, entre 1998 e 2008. A analise foi realizada atraves do programa estatistico SPSS, versao 11.0, abrangendo medias, frequencias, porcentagens e correlacao entre variaveis atraves do teste: qui-quadrado. Como resultados, evidenciamos a queda do numero de criancas que buscam o servico ao longo dos anos e o aumento das que fazem uso de medicacao. Alem disso, constatou-se que o uso de medicacao interferiu diretamente no tempo do tratamento e na evolucao da psicoterapia, contribuindo para um prognostico menos favoravel a quem fazia uso, quando comparados aos que nao a utilizavam.