O poder das palavras e das idéias: o caso do fundamentalismo islâmico (original) (raw)

O poder e o fundamentalismo no diálogo inter-religioso

Antes de discutir a possibilidade objectiva do diálogo inter-religioso (o qual, julgo, também dever abranger ateus e agnósticos), talvez devamos antes abordar algumas ideias prévias sobre Política, Cultura, Tradição e Espiritualidade.

Nomear e estigmatizar: inferências sobre as implicações do uso do termo fundamentalismo como categorizador de identidade dos seguidores do Islã

Revista Reflexão, 2017

A proposta deste artigo é apresentar os resultados da pesquisa realizada entre os anos de 2011-2012 no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Tendo como ponto de partida o questionamento se o uso do termo “fundamentalismo” aplicado ao Islã estigmatizaria e fixaria a identidade performativa de seus seguidores, procurou-se compreender as nomeações e categorizações aplicadas a esses e as implicações na construção identitária dos mesmos. O interesse encontrava-se na ideia de que essas categorias e nomeações interferem na imagem e nas relações sociais entre nomeados e nomeadores gerando reações distintas. Em O Mundo Nos Nomeia: O fundamentalismo religioso no Islã e a categorização de uma identidade performativa, título da pesquisa em questão, utilizou-se tanto de referencial teórico como de empírico. Os dados foram coletados a partir de entrevistas semiestruturadas com muçulmanos da vertente xiita residentes nas cidades de Curitiba e Foz do Iguaçu. As perguntas foram norteadas a partir de três eixos temáticos, a saber: a religião, o uso do termo fundamentalismo e as implicações que esse termo causa aos seguidores do Islã. Percebeu-se, neste estudo, que a identidade, a nomeação ou categorização de determinados grupos ou pessoas é um processo contextual, no qual intenções e ideologias distintas encontram-se interligadas em movimentos que ora tendem para a resistência ora para a radicalização. Concluiu-se que os muçulmanos se identificam como fundamentalistas, porém, desde que este termo passou a ser vinculado ao terrorismo, acreditam que não deve ser utilizado para nomeá-los.

O “Mundo Do Texto” e a Construção da Identidade Religiosa no Islamismo

Teocomunicacao, 2010

Este ensaio procura mostrar como a identidade pessoal e coletiva, construída a partir da tradição islâmica, é sempre uma identidade que encontra no Alcorão o instrumental linguístico que a eleva à linguagem e, portanto, ao sentido. Além disso, busca explicitar como a possibilidade de uma nova interpretação do Alcorão, para além da literalidade do texto, parece ser fundamental para uma melhor compreensão da construção de uma identidade religiosa que é profundamente dependente do texto sagrado, compreensão que pode abrir novos horizontes no diálogo com o mundo islâmico. Esses novos horizontes podem ser vislumbrados desde a reflexão hermenêutica desenvolvida por Paul Ricoeur, notadamente a partir de sua noção de "mundo do texto". Palavras-chave: Hermenêutica. Identidade. Religião. Texto.  * Trabalho do projeto de pesquisa Identidade narrativa e linguagem religiosa. A ontologia hermenêutica de Paul Ricoeur como princípio de análise do pluralismo religioso. O presente trabalho é fruto da pesquisa desenvolvida no programa de Iniciação Científica da PUC-Campinas como parte das atividades do Grupo de pesquisa "Teologia contemporânea" que possui como linha de pesquisa "Questões contemporâneas de hermenêutica em Teologia fundamental". Esta observação inicial se faz necessária para prevenir o leitor quanto às pretensões de um trabalho que deseja ser de iniciação, de iniciar alguém na aventura da pesquisa científica. **

O "Islã" como força política na "Primavera Árabe": Uma perspectiva da teoria do discurso

História. Questões e Debates , 2013

Até os dias de hoje, parecem ser obscuras as consequências que resultam diretamente da chamada "Primavera Árabe", movimento iniciado na região do Oriente Médio em dezembro de 2010. Apenas uma coisa parece certa: a religião islâmica deve começar a desempenhar um papel de maior relevo em muitos governos árabes. Tal constelação política pode ser facilmente percebida ao se considerar os resultados das mais recentes eleições que levaram muitos membros dos partidos islâmicos ao poder no contexto da "Primavera Árabe". Como esse cenário pode ser explicado, sobretudo se levarmos em conta a fase inicial dessa onda de protestos, fase na qual o Islã não desempenhava nenhum papel importante? A partir de uma abordagem da teoria do discurso, este artigo defende a tese de que o "Islã" tem uma longa genealogia como um significante de resistência política organizada contra o regime no poder. Essa genealogia possibilitou o engajamento convincente das organizações islâmicas ao longo do atual processo de mudanças políticas, ainda que elas tenham participado diretamente dos protestos e das transformações políticas subsequentes apenas em uma etapa relativamente mais tardia.

Sob o estigma do fundamentalismo: algumas reflexões sobre um conceito controverso

Horizonte, 2020

Este artigo procura discutir o atual uso inflacionado do conceito de fundamentalismo (na mídia e na reflexão acadêmica) e apresentar algumas reflexões sobre os limites e polêmicas em torno da noção de fundamentalismo. A partir da perspectiva da História dos Conceitos, especialmente das reflexões de Reinhart Koselleck, o texto procura reconstruir a história do conceito de fundamentalismo nos Estados Unidos, apresentando alguns momentos essenciais para se entender as transformações no uso do conceito ao longo do século XX. Ressalta-se a importância da diferenciação entre o "fundamentalismo histórico" (protestante e norte-americano) e sua ampliação no sentido de um "fundamentalismo global", perspectiva que ganhou força na academia a partir dos anos 1980. A partir dessas reflexões, o artigo procura apresentar um debate atual entre os defensores do uso do conceito numa perspectiva comparativa e os que consideram que a utilização de um conceito ampliado de fundamentalismo tem se tornado mais um complicador do que uma ferramenta analítica relevante nos estudos sobre a religião na contemporaneidade. Palavras-chave: Fundamentalismo. História dos Conceitos. Religião e Política. Religião e Modernidade.

O Estado Islâmico e o seu “Califado imaginário”

Revista Espacialidades, 2018

O Estado Islâmico (ou ISIS, na sigla em inglês 150) é um dissidente da Al-Qaeda que ganhou notoriedade ao proclamar-se um Califado 151 em junho de 2014. Ao realizar este ato, o grupo liderado por Abu Bakr Al-Baghdadi 152 (1971-) colocou-se como um Estado Westfaliano governado por uma interpretação radical da sharia-conjunto de leis islâmicas, cujos domínios abrangiam territórios da Síria e do Iraque. A partir disso, inúmeros pesquisadores procuraram investigar as origens, a estrutura e os mecanismos de sedução desta entidade que atraiu simpatizantes de diversas nacionalidades através de mensagens e atos de extrema violência, que incluíram decapitações, sequestros, estupros e escravização de prisioneiros. Entre aqueles que se dedicaram a analisar o ISIS, está Graeme Wood, professor

Teatralização do sagrado islâmico: a palavra, a voz e o gesto

2009

This article presents the salat, an Islamic prayer and, at the same time, an important performatic element of Islamic religion. The salat is a corporeal elaboration that builds the Islamic body and allows us to see this body as a way of communication between God and the faithful. My analysis of the salat considers a close relation between the actor who repeats and rehearses his part in a play many times and the Muslim who prays and improves his performance each time he prays. My main argument is that the Muslim has to consider the knowledge of word, the voice and the gesture to improve his religious performance.