Frei Caneca: O Império Da Liberdade (original) (raw)

Nem Caneca, nem Bonifácio: a Independência do Império Brasileiro como uma Revolução Conservadora, 1820-1824

Historia Constitucional, 2022

Em contraste com outros movimentos emacipatórios do continente, a independência do Brasil pode ser descrita como uma Revolução conservadora, por ter configurado um processo lento, que introduziu a Nação no constitucionalismo moderno, mas sem deixar de preservar instituições centrais do período colonial, notadamente, a escravidão e a monarquia. No entanto, este resultado não estava dado, de forma que, até os momentos finais, coexistiram projetos distintos de independência para a Nação nascente. Este artigo procura revistar dois desses projetos, idealmente representados por José Bonifácio e Frei Caneca, diferenciados sobretudo por suas posições em torno do tema da centralização do poder político e econômico.

Liberdade e Autonomia em Fonseca

Mediaevalia. Textos e estudos, 1995

Liberdade e autonomia em Fonseca Neste breve apontamento limitar-nos-emos a fazer algumas observações a propósito das quaestiones (1-8) que Fonseca insere a seguir ao comentário a Metafísica IX, 2, no terceiro tomo dos Commentariorum in libros metaphysicorum Aristotelis (CMA) 1 • Trata-se de um núcleo de oito quaestiones em que Fonseca aborda alguns aspectos da teoria da acção a partir de tópicos correntes no comentarismo disponível na época e da sua ferramenta conceptual. Como acontece sempre na sua obra, o texto aristotélico é ponto de partida e referência fundamental mas não impede a integração de múltiplos factores e referências textuais na reflexão. Aliás, este núcleo de quaestiones prende-se com o texto de Met. IX, 2 apenas pela classificação das potências em racionais e não racionais. A problemática central aqui em jogo é mais devedora de textos da Ética a Nicómaco e De anima do que do texto que justifica o lugar destas quaestiones na aquitectura dos CMA. Neste texto, como em outros, Fonseca usa com bastante liberdade o modelo analítico tradicional das faculdades 2 • Contudo, esse instrumentário é utilizado, aqui, apenas na me-1 O terceiro tomo dos CMA foi publicado, postumamente, em Évora, em 1604. Citaremos o texto a partir da edição de Colónia reimpressa em 1964: Petri Fonsecae, Commentariorum in Metaphysicorum Aristotelis Stagiritae Libras, Tomvs III-IV (Hildesheim: Georg Olms, 1964). 2 Sobre o uso deste modelo nas doutrinas desenvolvidas nos primórdios da escolástica medieval, ver P. MICHAUD-QUANT!N, «La classification des puissances de I'âme au douzieme siecle», Revue dtt Moyen Age Latin 5 (1949): 15-34. 3 «Tribus modis potissimum sumitur libertas: uno, ut opponitur seruituti; altero, ut coactioni; tertio, ut necessitati; neque enim una generali definitione tota eius significatio comprehendi potest». FoNSECA,

A ÁRVORE DA LIBERDADE E A FORCA

Tomar as festas negras como objeto da história implica inserir-se no contexto contemporâneo de revisão crítica das relações há muito estabelecidas entre a memória e a história pela historiografia acadêmica, pelos manuais de história e pelo senso comum. O tecido de teorias, conceitos, hipóteses e conjeturas em que se inscreve o nosso exercício de interpretação, vem sendo construído num diálogo com os historiadores colombianos. A circularidade, a intertextualidade e o dialogismo autorizam uma narrativa que não quer ser lida à luz exclusiva das convenções da ficção literária, e nem como um teorema de ciência social ou um tratado de semiótica. Os iletrados, com sua "economia moral" ou com sua experiência, são parte integrante, majoritária e ativa da cidade letrada, especialmente em suas festas e rituais públicos.

Pensamento Político e Política Externa na Independência: o Pensamento de José Bonifácio e Frei Caneca em Perspectiva Comparada

Dossiê 200 Anos de Pensamento Internacional Brasileiro: Personagens e Agendas, 2023

Partindo do diálogo entre o Pensamento Político Brasileiro e a História da Política Externa Brasileira, este artigo objetiva analisar o pensamento político de José Bonifácio de Andrada e Silva e Joaquim do Amor Divino Caneca, popularmente conhecido como Frei Caneca, quando do processo de Independência do Brasil. Da leitura das suas principais obras e ação política, buscaremos compreender as dimensões de política interna e externa na imaginação de ambos os autores/atores.

A “Obra Didática" De Frei Caneca Na História Das Ideias Linguísticas: Configurações De Um Poder Dizer

Letras, 2011

Neste texto buscamos apresentar, dentro da perspectiva da História das Ideias Linguísticas, uma análise discursiva das condições de produção da obra didática de Frei Caneca (início do século XIX), apontando para parte do processo de significação que instaura um poder dizer brasileiro sobre a sua língua. Trata-se, pois, de buscar compreender filiações de sentido do processo de gramatização da língua brasileira em um recorte particular: o dizer sobre a retórica-lugar autorizado e desautorizado do bem dizer.

Notas Breves sobre a República Democrática em Cipriano Barata e frei Caneca

A Formação do Brasil lndependente, 2022

Neste capítulo procura-se trabalhar o argumento que a Ilustração clandestina, ateísta e radical penetrou na periferia do capitalismo, como prova o exemplo da república democrática de 1798 na Bahia. Neste caso, um relato da execução dos quatro líderes da sublevação revela que dois deles (o soldado pardo Luís Gonzaga das Virgens e Veiga, e o alfaiate pardo João de Deus do Nascimento) confessam-se ateus, "contra Deus e contra o Estado", por terem lido uns “cadernos" manuscritos com ideias de Voltaire e Rousseau. A forma de reprodução e de circulação de tais manuscritos filosóficos clandestinos, veículos da circulação das ideias heterodoxas e heréticas, são narradas num processo da Inquisição, de 1798, no qual acusa-se o ateu Cipriano Barata, ”o dito Baratinha [, de ter] em Seu poder uns cadernos, os quais só tratavam contra a nossa Santa Religião”. Anos depois, no final de 1822 (17 dezembro) o deputado Barata chega à Recife, depois de destacar-se nas Cortes de Lisboa. Mesmo sendo o deputado mais votado para a Constituinte do Rio de Janeiro, opta por fixar-se em Pernambuco e escrever o periódico “Sentinela da Liberdade”, base ideológica da Confederação do Equador e da republica democrática.