Abolição – Rupturas e Permanências: Políticas Sociais de Inclusão e O Sistema de Cotas no Ensino Universitário (original) (raw)
2008, Sankofa (São Paulo)
No ano em que se completam 120 anos da Abolição da escravidão, o Brasil ainda convive com uma realidade inaceitável para uma sociedade que se pretende democrática e pluralista, qual seja, a de que os descendentes de africanos, que compõem 47% da população, permanecem, em sua maioria, à margem dos benefícios proporcionados pelo enorme desenvolvimento econômico obtido ao longo de todo o século XX. De fato, se observarmos as estatísticas divulgadas por organismos privados e oficiais, veremos que os afro-descendentes constituem a maioria da população pobre, aqueles com menor índice de escolaridade, a maior parte dos desempregados, o maior contingente de presidiários, as principais vítimas de homicídios e outros crimes violentos, além de terem uma expectativa de vida inferior à dos brancos 2. Contudo, essa desigualdade não ocorre por acaso. A sociedade brasileira fundada na escravidão, no paternalismo e na coerção, apesar de toda a modernização verificada nas últimas décadas, e do mito, extremamente difundido, sobre as vantagens da miscigenação, permanece extremamente racista e excludente. E a forma como foi realizada a Abolição contribuiu enormemente para que os descendentes de escravos permanecessem numa posição absolutamente subalterna, de modo a permitir a exploração capitalista e a acumulação do capital apenas pela parcela considerada branca da sociedade. As origens do mito da sociedade miscigenada e o legado da escravidão Nas regiões tropicais do globo, além do clima, caracterizado por altas temperaturas e maior intensidade de chuvas, a vegetação e a fauna constituíam, nos