Paulo Gaiad: entre lugares e caminhos (original) (raw)

Lefebvre diz que a cidade pode ser investigada por diferentes perspectivas, resumidas grosso modo, da forma que segue: como campo de forças, a cidade torna-se palco e protagonista das forças de interação social; como artefato, a investigação se detém sob seu aspecto físico envolvendo elementos de sua topografia e geografia; e como imagem remete ao conjunto de ideias, expectativas e valores que constituem o imaginário urbano. Nas obras de arte, e no imaginário, encontramos justamente o que elas têm a nos dizer, na percepção de um leitor, um interlocutor que também produziu significados, um leitor que, de certa forma, recriou as imagens apresentadas, dentro de seus limites. A riqueza da arte reside no fato de que a obra está no texto do autor e de todos aqueles que leram e escreveram sobre ela. Uma reflexão iniciada pelos gregos permitiu descobrir o que une, embora em sua diversidade, imagem, nome e mito: o fato de estarem situados para além do verdadeiro e do falso. É uma característica que a nossa cultura estendeu à arte em geral. Mas as ficções artísticas, assim como as ficções jurídicas, falam da realidade. O que a filosofia da visão ensina à filosofia? Chauí nos diz que o conceito não é representação completamente determinada, mas «generalidade de horizonte» e a ideia não é essência, significação completa sem data e sem lugar, mas «eixo de equivalências», constelação provisória e aberta do sentido. Ensina que, assim como o visível é atapetado pelo invisível, também o pensado é habitado pelo impensado. O olhar ensina um pensar generoso que, entrando em si, sai de si pelo pensamento de outrem que o apanha e o prossegue. Tratamos de representações, entendendo que representar é tornar o mundo cognoscível e compreensível ao pensamento que é o arquiteto das representações que medeiam as experiências do mundo. Representar é deformar e criar, para o real, mediações parciais, mas reveladoras, em que o real enfrentado na sua dimensão fenomênica e aprisionado em mediações representativas parciais cria a complexa ciência marcada pela imprecisão e pela relatividade do conhecimento que constitui a imagem (outra representação) da ciência no mundo de hoje. Como diz Argan, “é necessário que os historiadores da arte considerem o estudo científico de todos os fenômenos da cidade como inerente à sua disciplina; a conservação do patrimônio artístico como metodologia operativa inseparável da pesquisa científica; a sua intervenção no devir da cidade como o tema fundamental da sua ética disciplina”.